Essa semana trato sobre a relação do idadismo, diversidade etária, mercado de trabalho e envelhecimento. Te agradeço antecipadamente a companhia nessa minha linha de raciocínio, que pode parecer meio torta, mas te prometo que vou chegar lá. Não garanto que concordaremos ao final, mas me comprometo a escutar teus argumentos para seguirmos conversando.
O que é trabalho
Trabalho é basicamente tudo que a gente faz para conseguir alguma coisa, seja dinheiro, experiência ou até mesmo satisfação pessoal. É aquele esforço que colocamos no dia a dia, seja pensando ou suando a camisa.
No mundo das finanças, o trabalho é um dos ingredientes principais para produzir bens e serviços, junto com o capital e a terra.
Quando falamos de trabalho na sociedade, estamos pensando nas ocupações que as pessoas têm e como isso influencia a vida delas.
Algumas pessoas discutem o trabalho em termos de dignidade e realização pessoal, ou seja, o quanto ele pode trazer sentido à vida.
Os tipos de trabalho
O trabalho pode ser categorizado de diversas formas:
- Formal – aquele que tem carteira assinada, com direitos e deveres garantidos.
- Informal – os bicos e as atividades que não têm registro, muitas vezes sem benefícios. Arrisco a colocar aqui os que hoje também chamamos de “precarizados”, pois ao frigir dos ovos eles têm quase nenhum direito.
- Voluntário – o trabalho feito de coração, sem ganhar nada em troca, geralmente ajudando uma causa.
Esses trabalhos podem ser feitos de maneira remota, com as pessoas trabalhando de casa, o que é bem prático, ou presencialmente, no próprio local de trabalho.
Eles também podem ser de natureza intelectual, sobre usar mais a cabeça, como em pesquisas, aulas e criações, ou físico, quando envolve mais o corpo, como na construção, agricultura e fábricas.
Por que o trabalho é importante?
Bom, vivendo numa sociedade capitalista, ele é essencial para a economia, porque é assim que a gente ganha dinheiro e sustenta nossas famílias. Além disso, ele ajuda a gente a se desenvolver, aprender coisas novas e até a se sentir realizado, quando tem a benção de poder escolher uma profissão de acordo com a nossa vocação.
Hoje e amanhã
Conforme dados do Censo de 2022, 26% da população tem 50 anos ou mais. De acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da PricewaterhouseCoopers (PwC), 57% da força de trabalho brasileira terá 45 anos em 2040. É urgente falarmos em diversidade etária.
Idadismo
Idadismo, etarismo ou ageísmo são palavras sinônimas que significam os pensamentos, sentimentos e comportamentos discriminatórios em relação à idade. Isso pode acontecer ao longo de todo o ciclo de vida, porém, com o envelhecimento, o idadismo vai piorando, a ponto de que estudo da Organização Mundial da Saúde – OMS demonstra que duas em cada uma pessoa é idadista em relação à pessoa idosa.
E o idadismo se manifesta da gente com a gente mesmo (“eu não sou mais capaz”, “já não sou mais o mesmo/a”, “jovens são mais inteligentes/capazes”, “estou velho/a pro mercado”, “não tenho mais nada pra oferecer porque estou velho/a”), entre as pessoas (“somente pessoas mais velhas são adoecidas”, “a velhice é sinônimo de doença e pessoas lentas”, “pessoas idosas são menos criativas e inteligentes”) e o idadismo institucional (dificultando empréstimos para compra de imóveis, por exemplo, no varejo ou no sistema de saúde quando menosprezam o tratamento, mesmo que pessoas idosas representem uma grande parcela dos consumidores, e na inclusão de pessoas no mercado de trabalho).
Não resolve, mas ajuda
Assim, o idadismo está diretamente conectado à diversidade etária. Assim, como o racismo está conectado a programas de diversidade racial, o sexismo e a homofobia à diversidade de gênero, o capacitismo à diversidade de pessoas com deficiência. Todos esses programas dão sua contribuição para solucionar problemas arraigados na nossa sociedade.
No caso do idadismo, as empresas ainda não despertaram suficientemente para a necessidade de trabalhar essa área da diversidade e inclusão. Conforme pesquisa feita em 2022 pela Maturi e Ernst Young, com 191 empresas de 13 setores, apesar de 62% alegarem que diversidade e inclusão são agendas, 42% afirmavam que a diversidade etária não era prioritária. Porém, é só olhar os números crescentes da população envelhecendo e saberemos que esse assunto para nosso país, e consequentemente para as empresas, está mais do que na hora de se tornar prioritário.
Inclusão x exclusão
Às vezes percebo uma leitura implícita de que os programas de inclusão provocam a exclusão daquelas pessoas que não os contemplam. Como se, ao se realizar um programa de diversidade racial, todos e todas as demais seriam “excluídos”, ou se oferecer um programa de diversidade de gênero, o mesmo ocorreria para todos e todas que não fazem parte daquele grupo. Dessa forma, o sentimento que me atravessa é o de que, quando trato de programa de diversidade etária, as pessoas imaginam uma empresa somente de pessoas idosas. Mas, fiquem tranquilos e tranquilas, vou adiante.
Como estão as gerações atualmente
Conforme pesquisa da Gupy, uma plataforma de inteligência artificial para recursos humanos que oferece serviços para empresas e candidatos, feita a partir dos seus próprios dados. Por meio dela, é interessante saber que desde 2018 a geração Baby Boomer ocupa 1% do mercado formal, a geração X permanece estável em 10% de participação, e que a geração Z (44,2% em 2024), desde então, vem crescendo para, em 2025, ultrapassar a Millenium (45% em 2024).
No entanto, se formos observar os números do IBGE, a geração Baby Boomer compõe 16% da população, a geração X, 26% dos brasileiros, a Millenium, 34%, e a Z, 10%. Lembre-se, a macrotendência mundial é a do envelhecimento da população. A tendência já comprovada aqui no Brasil é de envelhecimento da população. Para você, há coerência nesses números do mercado de trabalho?
O que é diversidade etária
Simples, é misturar todas as gerações. Diversificar, colocar todo mundo junto e misturado. A riqueza é a equidade, ou seja, a proporcionalidade. Ela permite reconhecer e valorizar as diferentes perspectivas, habilidades e experiências que cada grupo etário pode trazer. O reflexo do que somos como população que envelhece nos quadros das empresas fará com que elas estejam mais conectadas com seus mercados, com as necessidades de seus consumidores. E essa é uma iniciativa que serve não apenas na área etária, mas para todas as outras: gênero (temos 51,5% da população feminina e 12% lgbtqiapn+ conforme Unesp/USP), racial (55,5% preta ou parda), com deficiência (8,9%), social (29% periférica), etc.
A diversidade serve para quê
Comprovadamente, já existem fortes argumentos tanto econômicos quanto com relação ao bem-estar das pessoas para que sejam implantados programas de diversidade e inclusão:
- Aumento da lucratividade:
- De acordo com a McKinsey & Company, empresas com equipes executivas mais diversas têm 33% mais chances de superar outras empresas na lucratividade.
- A mesma pesquisa indica que organizações com diversidade de gênero têm 15% mais chances de ter rendimentos acima da média.
- Aumento da produtividade:
- Um estudo mostra que, para cada 10% de aumento na diversidade étnico-racial, a produtividade das empresas aumenta quase 4%.
- Para cada 10% de aumento na diversidade de gênero, a produtividade das empresas aumenta quase 5%.
- Melhoria do ambiente de trabalho:
- Funcionários de empresas que adotam a diversidade têm maior probabilidade de se sentir mais livres e de poderem “ser quem são” no trabalho.
- Nas empresas que promovem diversidade etária, há a identificação de melhor relacionamento interpessoal e gestão emocional das equipes.
- Companhias que promovem a diversidade de gênero em altos cargos tendem a ter um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo.
- Aumento da inovação e colaboração:
- Funcionários de empresas que adotam a diversidade relatam níveis mais altos de inovação e colaboração.
- Equipes diversificadas podem trazer uma ampla gama de perspectivas, experiências e ideias para a mesa.
Aposentadoria
No Brasil, vive-se uma desigualdade imensa.
Se por um lado há profissionais que, em grande parte, gozando de boa saúde e bons salários, compulsoriamente são aposentados pela idade, como militares e juízes, o que representa um caso de idadismo.
De outro, de acordo com uma pesquisa do Serasa, seis em cada dez brasileiros continuam trabalhando após a aposentadoria para complementar a renda. Conforme o próprio INSS, de cada três aposentados, dois recebem apenas um salário mínimo. E para esses, na maioria, o mercado informal é a resposta.
Recente pesquisa realizada no Rio Grande do Sul verificou expressivo aumento de mortes por acidente de trabalho entre homens acima de 65 anos. A hipótese dos pesquisadores vem da provável necessidade de trabalho para complementação da aposentadoria.
Julgo uma grande injustiça para todos os aposentados/as ouvir chamá-los/as de inativos/as. Eles e elas não só trabalharam uma vida inteira e contribuíram para, na velhice, gozarem desse direito, como, se não estão atuando de maneira remunerada, pode ser que estejam no voluntariado ou em casa cuidando dos netos, cozinhando, estudando, indo à academia, fazendo artesanato, jardinagem, ou seja, trabalhando e sendo produtivos/as.
Futurismo para todos
Quando se fala em futurismo e tendências para o mercado de trabalho, costuma-se citar que as áreas abaixo são promissoras e que os jovens devem investir nelas para suas carreiras. E isso também é idadismo, pois não incluímos os mais velhos nessas possibilidades de solução e de prosperidade.
- Inteligência artificial (IA)
- Sustentabilidade
- Segurança da informação
- Tecnologia
- Agronegócio
- Saúde digital
- Cuidado
- Empregos verdes
Pensando em estratégias para aproveitarmos o bônus que o Brasil ainda possui para seu crescimento, sugeriria que investíssemos nos mais velhos, desarmando-nos do nosso idadismo, de qualquer preconceito em que possamos estar investidos, por meio de programas de capacitação privados ou públicos, pois o nosso futuro será cada vez mais velho.
A inserção das pessoas mais velhas de maneira equitativa não acontecerá se governantes e a alta liderança nas empresas não tomarem para si essa tarefa. Palavras, pesquisas, palestras, tudo em vão se quem tiver a caneta na mão não perceber que é a sua decisão e ação que faz a diferença. E que já é tempo de fazer.
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Foto da Capa: Gerada por IA