Acabou o BBB. Não que eu saiba quem são as pessoas do reality show ou estivesse assistido, muito menos sei como funciona esse grande negócio. Mas, nos últimos dias, em todas as redes sociais e veículos de comunicação, só se falava da ex-ou-não-atual do vencedor do BBB, seguido das notícias das traições entre um casal de subcelebridades formados por um cantor falcatrua e a esposa suplementada, e em menor número de notícias e sinais de indignação, o relaxamento das medidas contra um superbandido do Rio de Janeiro.
Todos os dias surge uma ‘notícia’ diferente, envolvendo gente que não temos a mínima ideia de quem são de verdade, ou o que fazem de produtivo ou importante na vida para merecer que estejamos falando (ou escrevendo) sobre elas. É o processo de Kardashianização do mundo, onde elevamos a um patamar de significância gente que nunca fez nem faz nada de útil, a não ser enriquecer as custas da exploração da nossa falta de seletividade e foco, bem guiados pelo algoritmo. Essencialmente o que fazem é esperar serem seguidos nas redes e que compremos os produtos indicados por eles. Quanto mais polemica, mais engajamento, mais parceiros comerciais, então melhor.
Mas de onde sai essa vontade de saber tudo, nos mais sórdidos detalhes, sobre a vida alheia? Não são apenas das manchetes caça-atenção, com seus títulos que muitas vezes não tem nada a ver com o conteúdo, feitos apenas pra gente clicar pela curiosidades. Muito menos a identificação com aquela pessoa ali, montada e fazendo pose com bico de pato, usando o dinheiro que ganha sabe-se lá como e gastando em festas espetaculosas, roupas e objetos extravagantes enquanto exalta sua origem humilde.
A obsessão pelo outro, especialmente pela sua desgraça ou pela treta, faz a procura incessante e troca por informações irrelevantes um serviço de total inutilidade pública supereficiente. Não falta quem tome partido, crie brigas e persiga os desafetos dos desafetos. Tem quem tatue o nome, persiga, insulte.
E enquanto nós discutimos se o BBB foi sacana por largar a mulher que ficou com ele antes da fama ou se a bombada traiu o falcatrua com o personal, essa gente inútil só enche mais os bolsos de dinheiro e a nossa vida continua com os mesmo problemas e sem as mesmas necessárias reflexões. A gente se acostumou ou simplesmente acha mais fácil falar das inutilidades públicas do que saber o que está acontecendo na nossa comunidade?
Eu posso citar mais vários casos da semana passada, como o riquinho do Porsche que matou um motorista de aplicativo e foi acobertado pela mãe e pela justiça, poderia falar das guerras mundo afora, do ex-presidente que pagou pelo silencio de uma prostituta, mas, no final, todo mundo só vai querer falar do Tio Paulo e a tentativa de empréstimo macabra, porque o bizarro não te faz pensar nem se posicionar, ele só te faz fofocar sem se comprometer.
Foto da Capa: TV Globo | Reprodução
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