A notícia central do noticiário da semana passada foi a vitória de Donald Trump nas eleições americanas. De todo o lado, análises políticas vieram a fazer a avaliação do resultado. O cientista Luís Felipe Miguel as resumiu: “Esse desfecho é o resultado da crise do modelo liberal democrático” (Blog da Boitempo, 6/11/2024). A previsão é que Trump siga os passos de Viktor Orbán e caminhe na direção de um governo baseado no centralismo pessoal. Aqui mostro como a interpretação de Slavoj Zizek pode ajudar a relacionar a eleição americana com a nossa.
Como nos Estados Unidos, a opção mais à “esquerda” não foi a escolha das massas, exatamente como na eleição de Porto Alegre. Lá como aqui, o apelo identitário se revelou uma armadilha. Lá como aqui, fazer uma campanha errática significa perder a eleição. Lá como aqui, se impõe à esquerda fazer uma campanha quente, e não morna como se viu. A avaliação de Miguel da vitória de Trump serve para a vitória do “homem do chapéu de palha”: o populismo de direita dá uma resposta às necessidades das massas que a esquerda não consegue dar. Como diz Miguel, “é preciso uma reação, caso contrário, o modelo de democracia liberal vai acabar no esgoto da “oligarquia escancarada com verniz eleitoral”.
A extrema direita que chega legitimada pelas urnas nos Estados Unidos tem um sentido catastrófico para o mundo. Em 2018, o filósofo Slavoj Zizek pedia uma nova ordem mundial para barrar o trumpismo. Em Como derrotar Trump e outros ensaios (Editora Relógio d’Água, não publicado no Brasil), Zizek coloca que o problema é o fato de que a maior parte dos líderes ocidentais apenas cruza seus braços frente à arrogância de Trump. Já naquela época, Zizek apontava para o caráter global de sua política e pedia “reações ao fim de uma época do sistema econômico global, reações que assentam numa compreensão do que está a acontecer. No entanto, a visão distorcida de Trump baseia-se, apesar de tudo, na intuição acertada de que o sistema global existente deixou de funcionar”. (Zizek, p. 9).
Slavoj Zizek afirma que Trump é consequência do fim do regime econômico que foi dominante entre 1980 e 2008. O período é chamado de “Minotauro Global” por Yanis Varoufakis e é caracterizado pela tomada de posição americana em direção à transferência permanente de capitais mundiais para seu interior, que servem para financiamento do déficit americano. “Quase 70% dos lucros globalmente obtidos pelos referidos países eram depois transferidos de novo para os Estados Unidos sob a forma de fluxos de capital dirigidos para Wall Street. E o que fazia Wall Street a seguir? Transformava esses fluxos de capitais em investimentos diretos, quotas de mercado, novos instrumentos financeiros, novas e velhas formas de empréstimos, etc.” (Zizek, p. 11). Para Zizek, quem paga a conta é o resto do mundo – inclusive nós. Ele denomina os Estados Unidos de predador não produtivo e, em seus termos, isso equivale a afirmar que o país ocupa hoje o lugar que Roma ocupava na antiguidade, que recebia tributos exatamente como os sacrifícios feitos ao Minotauro grego antigo, da citação de Varoufakis. Os Estados Unidos se tornaram um porto seguro de capitais mundiais e a elite americana lucrou com isso às custas do planeta, o que não significa que ele mesmo seja um produtor econômico seguro.
Segundo Slavoj Zizek, as três classes espartanas foram assim atualizadas: os próprios Estados Unidos são o poder militar-político e ideológico; a Europa, certas partes da Ásia e da América Latina são a região das indústrias e manufaturas – ainda que Zizek frise o papel que tem a Alemanha e o Japão hoje – e o restante do mundo não passa dos hilotas atuais que são simplesmente deixados para trás. “Por outras palavras, o capitalismo global deu origem a um novo tipo de via oligárquica, que se mascara como celebração da diversidade das culturas: a igualdade e o universalismo desparecem cada vez mais enquanto princípios políticos atuais” (Zizek, p. 12). Esse contexto é produto de uma época em que o sistema mundial se baseia no padrão dólar, o fato de o dólar americano ser a moeda global. A injustiça contra a qual Trump lutou em seu primeiro governo eram as importações que reduziam o emprego americano, política que, na verdade, era parte de um sistema para beneficiar apenas os Estados Unidos. O que Trump adotou como princípio foi levar o mundo ao saque. Diz Zizek que, “ao contrário do que se passava em 1945, o mundo não precisa da América, é a América que precisa do mundo” (Zizek, p. 13), daí o fato de Trump fazer acordos com parceiros isolados como a Coréia do Norte, que pode ser reduzida à submissão americana. Slavoj Zizek apostava na União Europeia como freio para as políticas de Trump, já que o círculo não era dominado pelo dólar americano.
A União Europeia não ouviu seu apelo. Zizek pedia por uma ordem mundial capaz de impor a Trump a pena devida à sua política perversa. É disso que trato aqui: os avisos são dados, as responsabilidades, indicadas, mas continuamos a deixar a direita tomar posse do poder. O que aconteceu nos Estados Unidos não foi antecipado pelo caso porto-alegrense? Aqui, a esquerda deixou e a direita tomou conta. Como a campanha de Kamala (cujo partido está longe de ser um anjo, principalmente em termos de política internacional), que prometia ainda defender os avanços nos direitos civis e políticos, a campanha de Maria do Rosário também. Ambos perderam por motivos diversos, mas o principal, o fato de terem fé em suas bases, talvez tenha sido o mais desastroso. Aqui, a enchente não funcionou como a catapulta prevista para a esquerda, como lá o apoio de latinos e negros não se viu. Por que a esquerda erra em suas previsões?
Slavoj Zizek alerta para a imagem que a direita cria junto às classes populares. Ele já anunciava em 2018 que a imagem pacífica e belicosa faziam parte das imagens de Trump e que era um perigo porque podia levar à sua reeleição. A diferença é que, se antes o imbróglio de sua política internacional se dava em relação à sua posição em relação à Coreia, agora reeleito é em relação ao Irã. Se a frente europeia não conseguiu desafiar o poderio de Trump, outra frente, quem sabe, a latino-americana, o faria? Difícil não apenas pela posição inferior no cenário econômico internacional, o que não significa que não tenha capacidade de exercer pressão. Difícil também porque Lula antecipou-se em uma nota de saudação higiênica, sem qualquer tipo de indireta forte – uma nota que poderia, por exemplo, ter sido feita por… Bolsonaro! – enquanto Haddad só pede para deixar a poeira baixar… É que aqui neste ponto que estamos? Basta frente à eleição de Trump fazer a lição de casa neoliberal? Enquanto este artigo é escrito, aguarda-se o pior para as políticas públicas, novos cortes para sinalizar ao mercado positivamente, algo que Lula, o líder sindical, jamais toparia. Os tempos mudam! Se continuar assim, quem na América Latina terá culhões para enfrentar Trump?
É que não é apenas a esquerda americana que tem problemas, a brasileira também. São trabalhadores aqui e lá votando na direita e na extrema direita. Também aqui como lá, deve-se seu sucesso ao peso do fardo das redes sociais para a democracia: nunca a cultura do ódio foi tão útil para ampliar voto e para dividir a população. E por aqui já se começa a criticar os efeitos das políticas identitárias, nascidas no seio da esquerda para o bem comum e que, como na cena clássica de Alien, ameaçam sair da barriga e destruir seu portador. Se o Sonho Americano, título de uma série de reportagens do Jornal Nacional apresentada na semana passada, está se dissipando, o Sonho da Esquerda brasileira também. Lá se acusa seu declínio, entre outros motivos, pelo declínio das fábricas, o tal “cinturão da ferrugem” de que falou o jornalista William Bonner diretamente dos Estados Unidos; aqui se pode acusar o declínio da esquerda propriamente pelo “cinturão da miséria”, o processo de consolidação do precariado de que fala Ruy Braga, precarização do trabalho que se reflete no afastamento do eleitor de seus ideais. Elegemos candidatos de esquerda, mas bem pouco do que antes.
O que se perdeu foi a fé nas promessas de esquerda. Lá, os que se sentem abandonados votam em Trump, convencidos por um discurso populista e extremista; aqui, votam na direita os que se sentem abandonados pela esquerda local e que foram convencidos de que somente a direita fez algo por eles na enchente. A diferença é que, enquanto lá, Trump é o bad boy que aponta o dedo em riste contra imigrantes, aqui o eleito é o homem do chapéu de palha que se diz amigo de todos quando é… amigo de alguns. Acertou Manuela D’Avila mais uma vez: o que ambos estão fazendo é apenas garantir o seu. “Eles disputam o mundo deles: o mundo da violência, da guerra. O mundo em que alguns ficam bilionários e outros passam fome. Disputam o mundo para eles. Nesse mundo, homens exercem poder e mulheres ficam em casa. Nós precisamos disputar a sociedade para o nosso mundo. Se não dissermos para onde queremos/sonhamos ir, muita gente vai achar que estamos felizes com a vida do jeito que está. E não estamos”.
Slavoj Zizek lembra que, em 2018, Trump conquistou a eleição também com os termos de sua versão populista da luta de classes, isto é, de proteger os operários metalúrgicos, a expressão da classe trabalhadora americana, da concorrência europeia desleal. Diz Zizek que “É por isso que todos os protestos dos responsáveis políticos e economistas da UE, do Canadá e do México, bem como as contramedidas por eles propostas, falham o alvo: seguem a lógica da Organização Mundial de Comércio e do comércio internacional livre. Quando só uma nova esquerda que assumisse as preocupações de todos os que foram deixados para trás poderia realmente opor uma barreira para Trump” (Zizek, p. 18).
Vale para Trump do passado o mesmo para o atualmente reeleito? Eleger um inimigo parece continuar sendo a melhor estratégia da extrema direita. Trump teve sucesso com o discurso que fez dos imigrantes os verdadeiros inimigos dos Estados Unidos. Entendo que esse discurso do “Primeiro a América”, de linha nacionalista conservadora, ainda inexiste no Brasil. Você não vê Lula dizendo “Primeiro o Brasil” em eventos internacionais, o que mostra que ainda permanecemos fiéis ao nosso legado humanitarista frente à ofensiva conservadora. Slavoj Zizek diz que não conseguiu realizar o seu sonho de “romper com o cadáver”, referindo-se ao de um Trump derrotado por Biden: Trump ressuscitou dos mortos, mais forte ainda. Zizek dizia à época do primeiro governo de Trump que ele disputava com Kim Jong-um quem dispararia os botões dos mísseis nucleares que tem à disposição. A pergunta agora volta mais uma vez, agora é com o Irã que estamos diante da possibilidade de uma guerra nuclear. Amigos de Zizek na Coreia do Norte à época diziam que não havia chance de guerra porque a Coreia do Norte sabia que não sobreviveria. Para o regime dos aiatolás, acostumados com seus homens bomba, não sobreviver não é problema. Morrer pela fé é habitual. Zizek dá uma aliviada em Trump ao final: “Deveríamos ter sempre presente que, no que tem de pior, Trump continua sobretudo a manter a política daqueles que o precederam” (Zizek, p. 23.). Mas isso era o primeiro Trump. Será o do segundo?
Para mim, Trump promete aprofundar Trump. Essa é a sua espiral do mal. Mas Slavoj Zizek quer dizer que o verdadeiro inimigo nunca é o governante, por pior que seja, é sempre o sistema capitalista global e não a direita populista “que não passa de uma reação perante os seus impasses” (Zizek, p.29). Com isso, ele quer alertar a esquerda para seu verdadeiro objetivo, de que não pode falhar no combate à desigualdade “uma vez que os partidos de esquerda falharam, a única opção que resta aos eleitores é o conservadorismo ou a direita populista”, continua (Zizek.29). O filósofo chegou a defender paradoxalmente a eleição de Trump, o que consternou a esquerda, pois acreditava que, justamente por ser um “traste perigoso”, ele tinha mais possibilidades de levar a esquerda liberal a mover-se para uma posição mais radical, a mesma posição que David Lynch defendeu. Este teria dito que “Trump pode vir a ser um dos maiores presidentes da história por ter desestabilizado tanto as coisas. Não há ninguém capaz de se lhe opor de maneira inteligente”, e com essa afirmação, queria instigar na esquerda a possibilidade de reunir forças para finalmente combatê-lo.
Na guerra simbólica, Trump deu de goleada. Como o prefeito eleito, Trump sabe muito bem usar a seu favor a identificação. Zizek lembra as diversas vezes em que Trump foi apanhado com as calças na mão, as situações que parecem ser suicídio público que vão desde gabar-se por agarrar mulheres a gozar de familiares mortos – qualquer semelhança com manifestações de Bolsonaro durante a pandemia NÃO é mera coincidência. As expressões racistas, sexistas e fake news de Trump não o diminuem, ao contrário, aumentam sua popularidade. Diz Slavoj Zizek que a esquerda “não se dá conta do modo como opera a identificação: regra geral, identificamo-nos com as fraquezas dos outros, e não só nem principalmente com a sua força – por isso, quanto mais as limitações de Trump são alvos de crítica, mais as pessoas comuns se identificam com ele e consideram os ataques que lhe são feitos como ataques arrogantes que as visam a elas. A mensagem subliminar que as grosserias de Trump transmitiam às pessoas comuns era: “Sou um de vocês!”, ao mesmo tempo em que essas mesmas pessoas se sentiam constantemente humilhadas pela atitude de superioridade da elite liberal perante elas” (Zizek, p. 40). Não é exatamente assim que operou o Jair Bolsonaro, com suas refeições em botecos, ou o próprio prefeito eleito, que usou o termo “chinelão” a seu favor? Como a esquerda não se deu conta de que, ao insultar a direita, terminou por se tornar arrogante ao olhar dos mais pobres? Minha resposta é que ela nunca imaginou uma situação política em que o seu opositor, ele próprio, se tratasse como… como palhaço!
O palhaço é outro significante simbólico que merece ser analisado, diz Zizek. “Parodiar Trump é, nos melhores casos, uma diversão que nos distrai da sua política real; nos piores, transforma toda a política num gag. Trump construiu sua candidatura como um palhaço grotesco e esta estratégia é outro signo da luta simbólica que precisa ser analisado. Pura e simplesmente não é possível parodiar eficazmente um homem que é a sua própria autoparódia e que se tornou Presidente dos Estados Unidos com base no desempenho desse papel” (Zizek, p. 41). Não foi exatamente esse recurso simbólico que levou o prefeito ao poder? Não é isso que desarmou a esquerda local? Na primeira eleição de Trump, se ele simbolizava um palhaço, era o Bozo, o personagem criado nos Estados Unidos em 1946 por Alan Livingston e originalmente feito para a série de discos de histórias infantis Bozo at the Circus que apareceu em programas de televisão em vários países, inclusive o Brasil. Uma versão, de 1959, da rede KTLA de Los Angeles, foi interpretada por Vance Colvig Jr. com a tradicional roupa azul que lembra a bandeira americana; em uma das franquias, chegou a fazer merchandising para o McDonald’s, nada mais simbólico.
A primeira eleição de Trump está para os primórdios do Bozo, ainda é o sonho americano que pode ser resolvido quase que pacificamente – eu disse quase. A segunda eleição, agora, Trump promete ser Pennywise, o palhaço de IT A Coisa de Stephen King, a criatura sobrenatural que pode mudar de forma e geralmente aparece como palhaço para atrair crianças. Não é exatamente isso que Trump realiza no campo simbólico? Ele não é um monstro que assume várias formas? Para King, é uma inspiração que dá medo, como dá medo para a esquerda a eleição de Trump. Ele quer ser a Pennywise da esquerda, e como em IT, os eleitores americanos não passam do grupo de crianças que o encontram embaixo da velha ponte e são enganadas por ele e, na lenda original, mortas para serem devoradas. Não é exatamente esse o destino das classes populares no populismo de direita, serem devoradas pelo capital? E Trump, ele próprio um empresário da pior espécie, não é expressão desse capitalismo devorador que só pensa em Wall Street?
Em outra obra de Slavoj Zizek, Alguém disse Totalitarismo? (Boitempo, 2017), o autor critica a noção título por a considerar ideológica, isto é, a serviço da garantia da hegemonia liberal-democrática. Para ele, a crítica da esquerda radical é que a própria democracia liberal é irmã gêmea da ditadura de direita. “O argumento deste livro, portanto, é que a noção de “totalitarismo”, longe de ser um conceito teórico, é um tipo de tapa-buraco, que, em vez de possibilitar nosso pensamento, força-nos a adquirir uma nova visão sobre a realidade histórica que ela descreve, nos desobriga a pensar, ou nos impede ativamente de pensar” (Zizek, p. 8). Será? Críticos já falam que a eleição de Trump promete um governo mais centralizado em sua figura – uma manifestação da perversão, diriam os psicanalistas –, espécie de totalitarismo que não se viu em seu primeiro governo, já que obteve sucesso também nas duas câmaras. Para a esquerda, ele já é uma “ameaça totalitária”. Preocupa-me esse “totalitarismo” que está no “ar”.
Na quarta-feira passada, uma professora que conheço relatou nas redes sociais que, à saída de uma aula à noite, viu uma abordagem da Guarda Municipal a uma moradora de rua negra com três viaturas, onde dez guardas municipais a abordavam violentamente. Intimidação com policiais, que diziam que ela “perigava levar tiro”, ela testemunhou uma situação típica de abuso de poder. Lá como aqui, quando a direita assume, não são apenas políticas públicas e econômicas que tomam o poder: é o ar do tempo que passa a ser vivido de forma diferente. Esse não é exatamente esse espaço que é dado ao totalitarismo, que invade o cotidiano sem o menor pudor? Aqui falta apenas exatamente o exemplo irônico de Slavoj Zizek ao final da introdução de Alguém disse Totalitarismo?, apenas a ligação telefônica das autoridades. No livro, Zizek lembra que, em 1991, quando o aparato de polícia secreta ainda estava ativo na Romênia, um amigo norte-americano que estava naquele país a estudo ligou para a namorada dizendo “que estava em um país pobre, porém seguro”. E continua: “Assim que desligou, o telefone tocou; ele atendeu e alguém se apresentou, num inglês levemente confuso, como o oficial da polícia secreta encarregado de ouvir sua conversa telefônica, dizendo que gostaria de agradecer as coisas amáveis que havia dito sobre a Romênia – depois lhe desejou uma boa estada e se despediu”.
Assim como Paul Virilio antecipou a possibilidade do ataque às Twin Towers em seu livro Un paisage de acontecimientos (Paidós, 1997), Zizek antecipou a crise possível com a reeleição de Trump em seu Como derrotar Trump e outros ensaios. O papel do intelectual de esquerda é esse, antecipar a catástrofe, mas o fato grave é que mesmo assim, mesmo quando a sociedade é alertada, ela termina por se agarrar à catástrofe. A reeleição de Trump promete um alinhamento planetário à direita, o que significa que teremos mais do pior do ultra neoliberalismo. Por exemplo, isso significa a ampliação das condições dos desastres naturais, já que se sabe da posição negacionista climática de Trump. Mas significa também uma referência política para o pior da política brasileira, seja a extrema direita bolsonarista ou qualquer outra similar. Slavoj Zizek previu a necessidade de uma frente contra Trump, que a União Europeia foi incapaz de assumir. Resta saber, quanto aos desafios nacionais, se a esquerda brasileira será capaz de unir-se de fato com o avanço da direita nas eleições de 2026 que virão. Ou a esquerda cede de suas hipócritas discussões internas porque o mundo simplesmente está acabando, ou apenas vai facilitar o trabalho do inimigo comum.
Foto da Capa: Freepik
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