O desafio de uma escrita semanal escancara uma falta primordial. Nada nunca se esgota ao mesmo tempo que nada nunca preenche completamente o que o ser humano entende que precisa. Quem lê os textos que são publicados? Alguém ainda elege o texto antes da imagem, muito mais imediata e de fácil absorção?
Mesmo com meu aniversário e com as Olimpíadas acontecendo na mesma semana, o que poderiam ser temas geradores de inquietação suficiente para alguns textos, me vi sem saber sobre o que escrever. Talvez pudesse falar sobre o episódio de um podcast que ouvi no final da última semana com a navegadora Tamara Klink, sobre quem inclusive já falei aqui nesse espaço. Ela citou algo sobre o silêncio e sobre as palavras serem insuficientes em face à natureza e à solidão – embora ela estivesse muito bem acompanhada de belíssimos livros nesses meses de inverno que passou sozinha em seu barco.
Talvez as palavras sejam o oposto da solidão. Faladas ou escritas, publicadas ou não, são sempre uma mensagem. Ainda me encanto em pensar na invenção da linguagem escrita como um código para que os seres humanos pudessem se comunicar “bem”. Talvez escrever textos seja uma tentativa narcísica de validar a própria existência, independente do que o texto evoque no leitor.
Para me inspirar, pensei então no que eu gostaria de ver escrito em um texto. Escrever é sempre para si mesmo, mesmo que buscando a validação e identificação do outro. Mas ainda assim, todo leitor gosta de se encontrar nas palavras de outrem.
O que eu gostaria de ler agora? Eu queria ler um texto leve, transformador, mas de fácil absorção. Palavras simples, mas profundas. Quem sabe um humor inteligente, sutil, porque nenhum leitor gosta de ganhar explicações em excesso. Queria uma compilação de belezas selecionadas a dedo. “Ler é emprestar a sua ferida para receber a ferida de outro”, disse Juliano Pessanha. Eu acredito muito nisso. Mas nem por isso precisa necessariamente doer. Queria ler livros que eu já sei que amo como se fosse a primeira vez que os tivesse em mãos.
Começaria por “Escute as feras”, de Nastassja Martin (já falei sobre ele aqui também), “Não fossem as sílabas do sábado”, de Mariana Carrara; “Pós F”, de Fernanda Young; “A desumanização”, de Valter Hugo Mãe; “Se um de nós dois morrer”, de Paulo Roberto Pires; “Tudo pode ser roubado”, de Giovana Madalosso, entre tantos outros clássicos que nem vou começar a elencar aqui. Clarice, então, nem preciso citar porque releio sempre como a primeira vez.
Talvez sem perceber eu tenha escrito esse texto sobre o meu aniversário sim. E até sobre as Olimpíadas. Sobre tentar renascer na nova idade. Viver como se fosse sempre desde o princípio, porém já com bagagem do percurso; os músculos ganhos, mesmo que cansados. Os olhos amortecidos, mas jamais flácidos. Ler a vida como se fosse recomeço, ler um livro novo como se fosse o de sempre. Competir pela própria verdade como se houvesse medalha.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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