Quem vive no Turismo vive também com os seus vários segmentos: Turismo de Aventura, Eco Turismo, Turismo LGBTQI+, Turismo Criativo, Turismo de Observação de Pássaros e a lista vai longe. Há ainda os recortes por faixa etária, como os jovens e os idosos. De outro lado, há um significativo e visível esforço para atrair o público infantil, mas ninguém assume que há aí um segmento, o Turismo Infantil. Ninguém verbaliza ou escreve que a criança é uma categoria social, que a criança é um cidadão consumidor de Turismo. Não enxergar isso é deixar de ver oportunidades.
Isso não é uma regra brasileira. Na literatura técnica, na academia ou em destinos de todo o mundo muito pouco se encontra de referência a um segmento chamado Turismo Infantil. Em contrapartida, em Israel há uma agência que possui um programa específico que se denomina assim. Orlando, o paraíso dos parques temáticos, não há programa de Turismo Infantil, embora nesse caso talvez não seja necessário, a iniciativa privada por lá dá conta do recado. Mas em Vinhedos, em São Paulo, que abriga dois grandes parques – Hopi Hari e Wet’n Wild? Ou a capital São Paulo com o Parque da Mônica, o KidZania, teatros infantis e por aí vai. E Gramado, no Rio Grande do Sul, tomada de equipamentos para crianças? E Penha (SC), com o Beto Carrero?
Há que se perguntar se efetivamente precisamos tratar dessa atividade como um segmento. Para as crianças, o Turismo pode ser um elemento decisivo na sua formação. O contato com o diferente que as viagens oportunizam permite a elas começar a confrontar as realidades e diferenciar o seu eu do outro, situação importante na formação da identidade. O diferente, que está na paisagem, na arquitetura, nas pessoas, nos sabores, nos comportamentos, na cultura e outros, também oportuniza uma aprendizagem informal, aumentando a retenção de conhecimento, estimulando a criatividade e o desenvolvimento cognitivo.
Mercado de 57 milhões de crianças
Para a Indústria do Turismo, estamos falando, no Brasil, de um contingente de 57 milhões de pessoas na faixa do zero aos 12 anos incompletos, de acordo com categorização do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ainda que não se fale de Turismo Infantil no Brasil, está todo mundo de olho nele. Hotéis e resort, por exemplo, cada vez mais buscam implantar e aperfeiçoar serviços para os pequenos, abrindo inclusive mercado para profissões que não em tese não integram a cadeia, tais como pedagogos, recreacionistas, professores e outros. Será o suficiente?
Parques temáticos são, definitivamente, investimentos importantes e geradores de riqueza para os municípios. A cidade de Vinhedos, referida acima, recebia cerca de 5 milhões de pessoas em seus parques temáticos anualmente, na Era Pré-Pandemia. E, em qualquer lugar, poderíamos listar todos museus voltados à criançada, parques naturais, acampamentos, atividades de Turismo Pedagógico, espetáculos culturais e artísticos e outros serviços e equipamentos de entretenimento.
A segmentação é uma estratégia para a estruturação de produtos e consolidação de roteiros e destinos, a partir dos elementos de identidade da oferta e das características e variáveis da demanda é o que diz o “Marcos legais – Segmentação do Turismo” (2006), publicação do Ministério do Turismo. Sob essa perspectiva, o conceito de Turismo Infantil considera que crianças são seres em formação, com menor autonomia, uma faixa de público que requer a estruturação da oferta adequada, com mais qualidade e segurança.
Por isso, como qualquer outro segmento, o destino que assumir o Turismo Infantil como segmento poderá colher bons frutos. Hoje, é inquestionável a tendência de as crianças serem elementos decisores das viagens de famílias, cujos pais buscam a tranquilidade de lugares onde as suas crianças possam ter atividades recreativas e educativas com segurança e autonomia.