Trago um tema que ninguém me perguntou.
Gosto de dinheiro. Comecemos por essa verdade do meu lugar de escrita. Aqui vos fala uma pessoa que desfruta sem muitos chiliques – gracias, análise! – das comodidades que o dinheiro traz. Em todo o caso, se estas mesmas comodidades viessem de graça divina, para mim, tudo bem também.
Nem por isso sou rica. Pelo menos, não financeiramente falando. Ainda que psicanalista, essa profissão tão elitista, não sou dona de nenhum meio de produção. Vinda de uma família negra e operária ainda me considero nessa condição. Sou uma trabalhadora. Então, estou na famosa camada dos pobre “plus” ou “premium” que, grosso modo, são seres com um cartão de crédito e uma “boa” capacidade de endividamento. Sou parte da alegria e razão de ser dos banqueiros e bilionários. Estou na camada que se acredita classe média, mas que, sem saber – porque isto faz parte do jogo – está engrossando a base da pirâmide e deixando mais fino o cume.
Estou na camada social que, por suas possibilidades de real endividamento, faz a taxa de juros subir e, por conseguinte, os rendimentos do bilionário.
Contudo, a questão que me dói é que gosto de dinheiro não só pra mim, mas para “a geral”. Não vejo a menor graça nessa cobiça do VIP, do exclusivo. Nessa, o socialismo sempre me ganha fácil. Sou dele! Talvez, porque ainda me espanto com carne de ouro e essa necessidade insana do último IPhone. Nem mesmo entendo por que precisa ser este… Me espanta ainda mais que um jogador de futebol diga, com serenidade e sorriso no rosto, que ter uma Ferrari no Brasil era mais interessante do que ter o mesmo veículo na Itália. Enfim, nenhuma madre Teresa por aqui, mas é que ostentação é vício que se previne e cura com consciência de classe. E eu tomei as minhas doses.
Dito isso, tenho considerado cada vez mais assombrosa essa idolatria por bilionários, como se estes fossem arautos de mérito e riqueza. A conta da riqueza não fecha se o lucro dos mesmos é fomentado pelo aprofundamento das desigualdades sociais e pela devastação de democracias insurgentes.
Para mim, riqueza e cifras bilionárias não poderiam mais ser consideradas sinônimos.
Riqueza é comida, saúde e educação para todes, diversidades física, neuronal, de raça, gênero e sexualidade nos lugares simbólicos e efetivos de poder. Aliás, riqueza é exercer essa mesma liberdade sexual sem medo.
Riqueza é natureza preservada, é informação de qualidade veiculada, é a possibilidade de migrar sem medo, é a interrupção dos conflitos bélicos. É o racismo, o nazismo e o fascismo na lata de lixo.
Agora que finalizo aqui, vejo que nem plus, nem premium – só de consolação, quem sabe. Enquanto nada dessa riqueza se consolida, creio que somos todes meio miseráveis mesmo. É que alguns de nós disfarça essa miséria com cifras e foguetes. É só isso.
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