Nessa semana participei de um evento online que foi completamente diferente de qualquer outro. Para começar, conversei com gente de vários cantos do Brasil. Foram formados grupos menores onde as pessoas podiam dizer o que sentem com relação aos seus ambientes de trabalho. Houve uma grande interatividade, com enquetes e grandes empresários se despiram daquela aura de poder e contaram como conseguem ter equipes que trabalham contentes. Participaram 1.850 pessoas, de mais de 700 empresas de todos portes e tamanhos, entre elas Magalu, Braskem, Roche, Sodexo, Sicredi, Instituto Ethos.
Foi o Festival Teal Brasil https://festival.tealbrasil.com.br/, onde cases, bases teóricas e práticas sobre engajamento, agilidade, autonomia, colaboração, aprendizagem, e muitos outros assuntos, indispensáveis para quem está no oceano com ondas de todos os tamanhos para surfar a transição, foram apresentados ao público em diferentes formatos. Estamos vivendo tantas turbulências nesse mar de transformações que coloquei na roda durante a pandemia as lives Nas Ondas da Transição com várias pessoas que já estão envolvidas em processos como esses que o festival mostrou. Foram mais ou menos 80 entrevistas que fiz no Instagram (@silmarcuzzo) e no meu canal do YouTube, com gente que já está fazendo a diferença nesse novo milênio. Confere no meu site.
Desde a chegada do livro Reinventando as Organizações, de Frederic Laloux, do qual participei do financiamento coletivo e também fiz a divulgação em Porto Alegre (o livro foi produzido todo de forma colaborativa, com várias pessoas fazendo a tradução), percebo um grande avanço das inovações em vários lados. Até por isso também acredito que haja tanta gente desesperada em perder o poder de comando e controle. Estamos vivendo muitas rupturas, o fim de muitas certezas (considere isso na hora de escolher o seu candidato, fica uma dica).
Lei aqui mais sobre o lançamento livro
De carregar as baterias
Confesso que diante do caos do contexto dessas eleições, foi revigorante acompanhar a programação do festival. Cheio de gente preocupada em construir um mundo melhor, colocando a mão na massa para mudar as organizações de dentro para fora. Enquanto uns falam em ESG (governança ambiental, social e corporativa, do inglês Environmental, social, and corporate governance, uma abordagem para avaliar até que ponto uma corporação trabalha em prol de objetivos sociais que vão além do papel de uma corporação para maximizar os lucros em nome dos seus acionistas), o sistema Teal vai no cerne: as relações entre as pessoas.
A rede Teal defende a ideia de que as organizações não respondem exatamente como máquinas capazes de serem previstas e controladas. Há inúmeras evidências mostrando que esses sistemas vivos e complexos, respondem a uma linguagem muito mais humana, adaptável e conectada. E liderar nessa realidade exige novos modelos de gestão. E há exemplos no mundo inteiro onde empresas de diferentes características e tamanhos estão desenhando novas e melhores formas de trabalhar, se destacando por mais autonomia, propósito, agilidade e cuidado nas relações.
Todos os anos, o Festival Teal Brasil oportuniza que as pessoas de diferentes níveis naveguem nesses ambientes onde as mudanças estão já ocorrendo. É fundamental constatar que há pioneiros que estão desafiando a lógica tradicional e atingindo resultados incontestáveis para o seu negócio, para as pessoas e para o planeta. E os speakers sugeriram muitos livros que dão caminhos para se abrir a cabeça para esses futuros possíveis. Pois o primeiríssimo passo para mudar o mindset é ter vontade de mudar, desapegar do jeito que sempre se fez.
Encontrei muita gente da área de RH no evento, mas recomendo que pessoas de qualquer área acompanhem as oportunidades do sistema Teal. Em um dos workshops que participei, a facilitadora propôs que cada um escrevesse para si uma história sobre o mundo em que se trabalhou. Depois, em grupos de quatro, contávamos nossas histórias e dávamos nomes para os relatos umas das outras. Outro workshop interessante foi sobre como conduzir reuniões eficazes com o pessoal da cuidadoria.
Também tive contato com enredos como o de João Pacífico. Ele é o CEO do grupo Gaia e se define ativista. Na sua empresa, a felicidade dos colaboradores é tão ou mais importante que o lucro. Ele é autor do livro Seja Líder Como o Mundo Precisa: Impacte as Pessoas, os Negócios e o Planeta (editora Harpercollins). Para ele, o sistema de avaliação e recompensa precisa estar ligado aos valores da empresa. Vale muito conhecer a história desse empresário que está agora envolvido com empreendimentos de impacto social, como a criação de uma rede escolas de inglês nas periferias.
A segunda edição do festival foi um tremendo sucesso. Um dos organizadores do evento, fundador da Teal Brasil e articulador da edição brasileira do livro Reinventando as Organizações, Henry Goldsmid revelou em seu perfil do Instagram que toda a função foi uma experiência de muito aprendizado sobre controle, autonomia, poder, impotência, incerteza, um verdadeiro laboratório
“Quando acordo e vejo as redes em chamas, com energia e movimento, meus sabotadores internos se acalmam e vejo uma das coisas mais sagradas pra mim em ação: a nossa conexão. É sobre isso. É sobre ter companhia nessa transição. É sobre ter um ritual sagrado para nos conectarmos, nos jogarmos juntos, certos de que não estamos sozinhos. É sobre juntar nossos talentos individuais, e ver ao vivo e a cores, todo nosso potencial coletivo se espalhando, entrando em frestas que precisam de luz. É sobre ser FAROL. A minha alma (imoral) acorda hoje em celebração de romper o tradicional, de ver tanta luz reluzindo e levando sementes de transformação. É ver esse grupo aí em cima, apoiando os sonhos uns aos outros, vibrando e colocando seus próprios poderes em ação. Eu sou pura gratidão. Obrigado equipe, facilitadores, apoiadores, parceiros, convidados, patrocinadores, voluntários, as mais de 100 pessoas envolvidas para fazer história junto ao festival”.
As palavras do Henry sintetizam um pouco do que rolou na última quarta, dia 28 de setembro. A palestra de encerramento foi com ninguém menos do que John Croft, o criador do Dragon Dreaming. Ele ressaltou o quanto cada um de nós tem propósitos de vida de longo prazo, como se fossem fractais de histórias que se conectam. Croft sintetizou o seu método com as fases de sonhar, planejar, fazer e celebrar e reforçou a necessidade do autoconhecimento nesse processo.
Se você quer saber um pouco mais sobre esses movimentos que, espero, impacte os nossos sistemas de crença, assim como os sistemas político e econômico, acompanhe essas figuras nas redes. Temos muito a aprender com quem já está surfando as ondas da transição e conseguindo melhorar o mundo a sua volta.