Partimos de Porto Alegre no dia 26 de dezembro rumo a Fortaleza/CE. Estamos há poucos dias na estrada e já temos muitas histórias para compartilhar.
– Descobrimos que o Google Maps e o Waze acertam nas distâncias, mas erram feio nas previsões dos tempos de viagem. Ou melhor, suas estimativas são para as estradas em condições normais, mas no Brasil, raramente temos “condições normais”. Chegamos em Joinville/SC, eram 23 h e estava chovendo. Perguntamos para os frentistas de um posto de combustível como estava a subida da serra para Curitiba. Eles nos recomendaram subir à noite, pois o engarrafamento durante o dia estava enorme. Resolvemos então continuar a viagem. Eram pouquíssimos carros na estrada e milhares de caminhões e ônibus. Sabe aquela placa que tem nas estradas “Ônibus e caminhões use a pista da direita”? Neste trecho também tem esta sinalização, mas à noite, todos os ônibus e caminhões são “veículos de passeio”, eles usam as duas pistas e trancam tudo. Logo que saímos de Joinville o trânsito ficou lento, cada vez mais lento, passamos a andar a 6 km/h, isto mesmo, 6 km/h, o quanto girava a roda. Quando melhorava, a velocidade chegava a 20 km/h, eu tinha a sensação de que estávamos em alta velocidade e até olhava para ver não seria pego por algum radar. Algum tempo depois acabou o sinal de internet e não sabíamos mais como estava o engarrafamento para a frente. Procurando sinal, acessamos a rede do Wi-Fi do ônibus ao nosso lado, mas ele insistia em andar na frente ou atrás de nós e perdíamos o sinal. Quando acessamos novamente o Waze veio a surpresa, o mapa mostrava aquela linha vermelha indicando engarrafamento a 5 km a frente. O que seria mais lento que os 6 km/h? Parar de vez! Mas nada nos assustava, tínhamos combustível, água e alimentos dentro do carro. Resumindo, demoramos o dobro do tempo previsto e, quando passamos por Curitiba já era madrugada, então resolvemos pernoitar num estabelecimento daquela rede francesa que tem ao longo das rodovias, o “Postô de Gasolinô”. O guarda do Posto falou que passaria a noite ali fazendo a segurança e que cuidaria bem de nós. Baixamos os bancos traseiros, reorganizamos a carga e inflamos o colchão. Para ser uma suíte presidencial faltou apenas o banheiro, mas tínhamos um “peniquinho com tampa” que resolveu o problema. No nosso primeiro dia de viagem, apesar da chuva e dos engarrafamentos, avançamos 800 km, revezamos no volante, ouvimos muitos podcasts e não foi tão cansativo. Este é o espírito desta aventura, encarar com leveza o que aparecer pela frente.
– “Flextravel” – Viajar sem ter reservas e sem uma programação definida tem suas vantagens e desvantagens. Nós olhamos para as vantagens. Tínhamos planos de visitar as praias de Ubatuba e Trindade no litoral norte de São Paulo, mas chovia muito quando chegamos lá. O que fazer diante desta situação? Chuva combina com passeios em locais fechados. Resolvemos então ir ao Rio de Janeiro conhecer o Museu do Amanhã e visitar uma amiga da Grace. Fizemos do limão uma limonada, digo, do dia chuvoso um dia proveitoso. O Museu do Amanhã é maravilhoso, lá nos deparamos com questionamentos sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos? A nossa viagem está muito alinhada com as reflexões propostas pela exposição do Museu. Temos um norte (ou seria um “nordeste”?), mas as escolhas que fazemos a cada dia definem o caminho que seguiremos.
– Muitos amigos meus fazem planos de se aposentar e ir morar na praia. Depois de passar quatro dias na pousada dos primos Nilson e Yayoi, na Ilha Grande/RJ, tivemos a experiência de nos sentirmos seguros numa casa em que as portas e janelas ficam abertas dia e noite. Recomendo esta Ilha como destino de férias ou para fixar residência. Mais do que viver numa praia, a Ilha Grande é um lugar onde existe um senso de comunidade, que preserva a natureza e que convive muito bem com os diferentes. A Ilha Grande tem 106 praias, algumas entre as mais lindas do mundo. Esta Ilha se tornou conhecida pelo presídio, hoje parece um local fora mundo. Violência, só em alguma briga entre marido e mulher. Roubo, só de alguma bicicleta que ficou na rua. Carros de passeio não circulam por lá. Quando estamos num local assim percebemos como é bom poder andar despreocupado pelas ruas e sem medo dos carros. Entre outras curiosidades, vimos um brechó na rua onde se pode levar o que precisar e pagar o que puder. Foi muito lindo participar da festa de Réveillon, quando milhares de pessoas festejaram em paz. Embora esteja a cerca de 2 horas do Rio de Janeiro, o povo lá só sai da Ilha quando tem muita necessidade. A sensação é de que lá não existe pressa, estresse e do jeito que você sair na rua, estará “bem-vestido”.
Estes são alguns fragmentos desta semana de viagem, que segue agora rumo ao Espírito Santo e Bahia. Novos episódios na próxima semana. Se você tiver alguma dica de praias e locais bonitos para visitar, compartilhe conosco.
Referências:
Ilha Grande vai mudar a sua vida – documentário disponível em https://youtu.be/t1u6LYlg1cw