Na política, diz-se que não existe espaço vazio porque ele, imediatamente, é preenchido. Pode ser o que está na iminência de ocorrer com a ausência de Jair Bolsonaro do Brasil desde antes da posse de Lula. Bolsonaro viajou para não entrega a faixa ao sucessor. E agora, mais de sessenta dias depois, qual é o motivo? Será o presente milionário dos árabes à então primeira-dama Michele? Os líderes que ajudou a eleger aos Governos Estaduais, como Tarcísio Freitas, em São Paulo, e Romeu Zema, em Minas Gerais, não demonstram aptidão para esse espaço. A união de duas siglas – União Brasil e o PP – se dará através de uma Federação e não da fusão inicialmente cogitada. A Federação é figura jurídica e pode ser estabelecimento pelo prazo mínimo de cinco anos.
No Congresso Nacional, a bancada do PL é a maior. Somados os fatos às bancadas eleitas ao Congresso no primeiro turno, com vários bolsonaristas obtendo vitórias importantes, a conclusão é de que a direita brasileira, também chamada de “nova direita” por conta da adesão de extremistas, sai viva e pulsante, apesar da derrota presidencial. No contexto político, a volta do petista ao Palácio do Planalto e o distanciamento prévio de Bolsonaro soma-se ao desencanto de seguidores radicais, que clamavam por uma intervenção das Forças Armadas, e a debandada do ex-presidente para os Estados Unidos abrem a discussão sobre o futuro e a liderança da direita.
Existe a chance de pulverização, conforme avaliam jornalistas políticos, cuja hipótese é reforçada após os atos golpistas de 8 de janeiro. Bolsonaro não repreendeu as aglomerações antidemocráticas que pediam golpe militar em frente aos quartéis, catapultas para as invasões e depredações das sedes dos Três Poderes.
Enquanto o golpe vai e vem, a União Brasil e o PP anunciam para a semana a Federação entre as duas legendas, formando a nova maior bancada no Congresso, com 113 parlamentares. Será chamada de União Progressista, fragmentos das siglas desdobradas, e dará pouca vida útil à atual maior bancada, justamente o PL de Bolsonaro. Ou seja, antes do terceiro mês do novo governo, uma nova correlação de forças se apresentará na oposição ao Presidente Lula.
A voracidade especialmente da União Brasil, já contemplada com três ministérios, é que empurra à possível guinada na correlação de forças no Congresso. O partido da fusão do PFL e PSL tem apetite voraz por cargos e mais cargos. De maioria negociada, o PT e seus aliados passariam a uma minoria retumbante e perigosa para os programas e projetos oficiais.
Reflexos no Rio Grande do Sul
A Federação, além de impactos no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto, terá reflexos nos Estados e municípios. No Rio Grande do Sul, o União Progressista será a segunda maior bancada da Assembleia, com 10 deputados estaduais, perdendo em número apenas para o PT, que conta com 11 deputados. A bancada será ainda a maior da base aliada do governo Eduardo Leite (PSDB).
A criação da União Progressista deve gerar disputas internas pelos comandos nacional, estaduais e municipais do novo partido. Em solo gaúcho, a tendência é a de que um indicado do PP assuma a presidência, já que a definição das regras da fusão entre os dirigentes partidários indica a necessidade de observação da representatividade. Neste caso, já estão em campo, mas ainda com cautela, três alas do PP: a de Ernani Polo, do prefeito Leonardo Pascoal e da família Covatti.
O Brasil conta hoje com 32 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Mas na Corte tramitam ainda 18 pedidos de processos de criação de novas legendas e três de fusões. São elas, entre o PTB e o Patriota, para formar o partido Mais Brasil, entre o Solidariedade e o PROS, e a incorporação do Podemos com o PSC.
Com a fusão, são somados os votos dos partidos fundidos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, como base de cálculo para a distribuição dos recursos do Fundo Partidário e do tempo de rádio e TV. Em tempo: dos 28 partidos e federações que concorreram nas eleições gerais de 2022, apenas 13 receberão recursos do Fundo Partidário neste ano. Os outros 15 não elegeram deputados federais, nem obtiveram votos suficientes para alcançar a chamada cláusula de desempenho.