Jornalista com sólida formação intelectual, José Onofre, nascido em Bagé em 1942, começou a carreira na imprensa no final dos anos 60, desempenhando posteriormente quase todas as funções executivas em uma redação, transitando com igual brilho pelas áreas da cultura e da política nacional e internacional.
Autodidata, era um leitor atento de Ernest Hemingway e venerava os textos limpos e diretos. Da juventude passada em cineclubes, venerava John Ford, os westerns e os pistoleiros solitários, os anti-heróis. Também do cinema trouxe o gosto por construir imagens, como se a palavra pudesse funcionar também como câmera (“Ao primeiro gole, a impressão foi que ele havia sido destilado de velhas escrivaninhas”, escreveria num antológico texto seu sobre a relação de grandes escritores com a bebida).
Ao longo de quase quatro décadas de carreira, José Onofre passou por vários cargos e por todas as redações do grupo Caldas Jr. Depois, foi diretor da sucursal gaúcha da Veja e colaborador assíduo da revista, com críticas cinematográficas e literárias. Também foi um dos criadores e editores da revista literária Oitenta, publicada pela editora L&PM. Mudou-se para São Paulo no final da década de 80 e depois de uma rápida passagem pela Folha de S. Paulo obteve destaque no Estadão como editor e dínamo do suplemento cultural, o Caderno 2, sendo responsável por levar para a redação do diário paulista diversos jornalistas gaúchos (Jimi Joe, Luiz Carlos Merten e Eduardo Bueno, entre eles).
Voltou a Porto Alegre em 1992 para ser editor-chefe de Zero Hora, experiência que não chegou a completar um ano. Já era considerado um dos melhores textos do país, elogiado até por colegas exigentes e respeitados como Paulo Francis (de quem fez a melhor avaliação da obra literária e também a quem conseguiu tirar da Folha de S. Paulo levando-o para o Estadão) e Luis Fernando Verissimo, mas parecia não ter mais ânimo para comandar redações e ter que se preocupar com escritos alheios. Continuou produzindo textos brilhantes (em volume menor, obviamente) e depois do breve e frustrado retorno à capital gaúcha retornou a São Paulo onde teve duas temporadas menos intensas nas revistas IstoÉ e Carta Capital. Morreu em maio de 2009, vítima de uma parada cardiorrespiratória decorrente de complicações da diabetes, depois de passar quase dois meses internado, deixando apenas um livro, a novela Sobra de Guerra (L&PM, 1982), saudada por Luis Fernando Verissimo com uma dúvida: “Fica difícil imaginar como serão as próximas ficções de José Onofre. Não há mais o que depurar, não há mais o que aprender. Este é o misterioso caso de um autor que estreia com o seu décimo livro. Os outros nove ele nem precisou escrever”.
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José Onofre (1942 – 2009) é uma das grandes admirações intelectuais de Luis Fernando Verissimo – e minha também. Durante 4 meses, no final de 2015, tive a honra e a alegria de conviver com Verissimo num projeto que pretendia recuperar a obra de José Onofre. Foram reunidos mais de 200 textos, escritos para os principais jornais e revistas do país, além de um precioso material pessoal que incluía as cartas da correspondência mantida pelos dois na década de 80. São textos que reafirmam a importância de José Onofre como um dos grandes jornalistas brasileiros e revelam a produção vasta e intensa de um autor que merece ser mais conhecido.