Existe uma expressão em inglês que eu acho perfeita para descrever um tipo de pessoa que é meio indescritível: larger than life. Tenho certeza de que você conhece gente assim, que é maior não apenas do que a vida que lhes foi dada, mas do que a vida de modo geral. A notícia da morte do músico Bebeto Alves, na madrugada da última segunda-feira, trouxe imediatamente essa expressão à minha mente.
Não me refiro especificamente a fama ou talento excepcional. Bebeto foi, sim, um homem de muitos talentos. Cantautor inrotulável, fotógrafo, artista plástico, agitador cultural, gestor público: ele foi tudo isso com competência ímpar. Mas era algo além da faceta profissional que o tornava maior do que a vida. Ao mesmo tempo em que deixa um legado artístico fenomenal (não precisa acreditar na minha palavra, boa parte da obra musical dele está no Spotify), a comoção causada por sua partida deixa claro que o legado familiar e social dele é imenso.
Nas redes sociais, nos meios de comunicação, Bebeto foi lembrado por pessoas das mais diferentes vertentes e áreas. Nesta quarta-feira, a emocionada e emocionante despedida dele foi um retrato do quanto Bebeto era de fato querido pela família (composta majoritariamente por mulheres), os amigos (de várias épocas e lugares, alguns tendo viajado longe exclusivamente para prestar homenagem a ele) e os fãs. Me incluo no meio do caminho entre a fã e a amiga. Tive o privilégio de conviver com ele e a família que formou com a fotógrafa Simone Schlindwein, mas de vez em quando, admito, baixava uma tiete. Aliás, filhos incríveis também fazem parte do legado que ele deixa.
Quem é lembrado vive
Sabe aquela história de desejar estar presente no próprio velório para saber o que vão falar da gente? Mais do que estar no meu funeral, há algum tempo transformei em propósito de vida trabalhar ao máximo para que, quando eu partir deste mundo, as pessoas que conviveram comigo em algum momento tenham coisas boas para falar de mim. De preferência, dando muita risada com as lembranças. Mulher de poucas ambições, não preciso nem ser maior do que vida em geral. Admito que esse é um dom para poucos Bebetos. Se eu fizer jus ao tamanho da vida que me coube, já vai estar bom.
[Clique nesse link para ler homenagem em quadrinhos feita a Bebeto por Gilmar Fraga (@fragadesenhos) e Márcio Pinheiro]