O noticiário político e o começo da campanha eleitoral me fazem lembrar do Chico Buarque e do João Bolão. Não que algum candidato esteja fazendo algo parecido com o talento do Chico, nem que algum candidato tenha mostrado slogans tão bons como os títulos criados pelo Bolão, ou com a manchete que ele fez.
O Chico todo mundo conhece. Mais adiante, eu conto quem foi o Bolão.
Quem não lembra, lá no comecinho do primeiro governo petista, da sugestão do Chico Buarque para que o recém-empossado presidente Luis Inácio Lula da Silva criasse o Ministério do Vai dar Merda?
A pasta teria uma estrutura bem enxuta: só ministro, secretária, telefone e carro com motorista. As habilidades exigidas do ocupante do cargo? Só inteligência, bom senso e independência para dizer ao presidente o que ele precisava ouvir e não só o que gostaria de ouvir…
Quanta M poderia ter sido evitada se a sugestão do compositor tivesse sido aceita por Lula e pelos sucessores dele? Mensalão, Marcos Valério, ministros medíocres, marqueteiro malandro, Moro, manipuladores midiáticos, milicos golpistas, Musk …
Faz tanta falta o ministério do Chico que tem até um M pedindo que o povo da cidade de São Paulo faça M no dia 6 de outubro… Já pensou? Um M no comando da maior cidade do Brasil e da América Latina? O candidato M – um medíocre e maçante mentiroso, desde antes do começo da campanha, menospreza e tenta manipular a mente de moradoras e moradores da metrópole paulista.
E o pior é que, na tentativa de evitar que dê M na eleição paulistana, os adversários dele também andam fazendo M. Reduzindo a disputa pela prefeitura de São Paulo a uma agenda identitária, alterando a letra do Hino Nacional sem se dar conta – ou fingindo não perceber – que isso só traz mais M para a campanha. Quem deixa de ir a debate imaginando que assim evita mexer com M, deixa, também, de mostrar ao povo toda a morbidez desse M que anda por aí.
Enfim, já que não temos o Ministério, sugiro, modestamente, aos marqueteiros municipais, o Triplo M. Esse Movimento Mitigador da Merda seria suprapartidário e com abrangência nacional. Afinal, é o que não falta nestes tempos de redes sociais sem regulação e sem descarga.
Ah, sim!! O João Bolão foi um jornalista. Eu o conheci quando ele era editor do Correio Braziliense. Era um craque nos títulos. Conto duas historinhas rápidas do Bolão. Um dia, chegou a notícia de que um homem tinha sido assassinado com tiro. Ele desafiou o editor do noticiário policial a fazer um título de três linhas com duas letras cada. Outro dia, a notícia era sobre a visita a Brasília do piloto de Fórmula 1 José Carlos Pacce. O desafio foi para o editor de Esportes: faz aí um título de cinco (linhas) de duas (letras).
Esgotado o prazo de um minuto, Bolão gritou para o editor da matéria do assassinato: o título em três de duas é “só um aí”. E para o editor de Esportes: cinco de duas: “Ás da F1 no DF”. Naqueles tempos pré-Internet, quando se lia jornal de papel, e no rastro da sugestão ministerial do Chico Buarque, o noticiário político já fazia o Bolão prever que, um dia, escreveria a manchete definitiva: “F@#$%deu geral”
Não sei… mas vendo todos esses Ms nacionais e multinacionais a desafiar as leis, mentindo e manipulando corações e mentes, menosprezando instituições, acho que precisamos mesmo do Triplo M (Movimento Mitigador da Merda) para adiar a manchete do Bolão.
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