As microagressões, muitas vezes disfarçadas, são cotidianas. Mas se eu for brigar todos os dias por conta disso minha vida vai se transformar em um inferno. Então, optei por respirar fundo e seguir. A luta por Inclusão e Acessibilidade é uma das bandeiras da minha vida, estimulada pelo desejo de ainda viver em uma sociedade que respeite pessoas que, como eu, tem uma deficiência, se é que podemos chamar assim. E respeite todas as diferenças porque somos diversos sim! Não queremos a “normalização” que segrega. Queremos dignidade para levar a vida e esta busca é coletiva.
Hoje, 25 de outubro, é o Dia Mundial do Nanismo.
Salve a Associação Nanismo Brasil/annabra que orienta, agrega e dá forças para a nossa luta cotidiana
O que há de concreto no cotidiano das pessoas com deficiência? O que dizer da busca por aceitação e da banalidade dos discursos oficiais? O que a maioria da população entende por diversidade? Quem promove a inclusão na sociedade contemporânea?
São muitas as inquietações e muitas as perguntas. Mas o que percebo efetivamente é uma exigência de normalização para a vida em sociedade. Uma cruel inversão de valores porque não é a pessoa com deficiência que deve “normalizar-se” ou “superar-se” para a sua integração social. A sociedade é que precisa mudar para atender às necessidades de sua gente múltipla. Mas o que aparece é uma inércia, proposital ou não, no sentido de esperar que nós, Os “estranhos neste ninho”, por nossa conta e risco, tenhamos energia para ultrapassar todas as barreiras, sejam quais forem.
Já disse e repito: esta é uma questão que deveria ser assumida pelos governos, em todas as esferas públicas, em parceria com as comunidades e as escolas. E o caminho que vejo vai em direção contrária. Derrubam leis e minimizam conquistas importantes no campo da diversidade. Mergulhamos em uma sociedade que não parece interessada em possibilitar que as pessoas exerçam seus direitos e deveres com a autonomia possível e em condições de igualdade.
Nós, os chamados deficientes, temos limites, sim. E como já escreveu a minha amiga Carla Abreu, que também tem nanismo, a sociedade nos violenta ao não os reconhecer e exigir de nós a tal “superação”, espécie de passaporte para que sejamos aceitos, uma forma de subestimar nossas potencialidades. A sociedade nos violenta quando nos faz acreditar que nossos corpos, nossas mentes e nosso desenvolvimento físico e intelectual, por não corresponder ao script construído como padrão, não são normais. Resumindo: nossa existência não é tão legítima como as demais porque nosso modo de estar no mundo não é natural.
Viver sob a expectativa da superação é viver sob uma contínua cobrança
Somos humanos. Não podemos nos violar, nem física nem emocionalmente, na busca de uma perfeição impossível.
Como incluir?
Na prática, essa é a grande tarefa das famílias e dos educadores. Falar, ensinar, aprender, dialogar, dividir saberes e experiências são compromissos que não podem ficar para amanhã.
– Cabe às pessoas que têm uma diferença alertar e sensibilizar a sociedade para as suas limitações e reivindicar direitos e políticas públicas que priorizem a inclusão e a acessibilidade, porque é um dever do Estado.
– Cabe às famílias e aos mestres educar para a diversidade. Uma educação voltada para as diferenças é o melhor caminho, em casa e na escola.
– Cabe aos governos criar políticas públicas de inclusão. Repensar a diferença e não mais ignorar as dificuldades enfrentadas pelos cidadãos é um dever das administrações municipais, estaduais e federais, em sintonia com suas comunidades.
– Cabe às empresas entender os limites de uma pessoa com deficiência, estimular sua inserção no trabalho, orientar, acolher, e não apenas jogá-la em uma função para cumprir a lei.
Ver o outro com sensibilidade é transformador
É importante lembrar que tijolo por tijolo desta construção que chamamos de VIDA é resultado de muitas mentes, cabeças, braços e pernas diferentes, que devem andar em harmonia, respeitando direitos e deveres. Se não tivermos anteparos a cada passo, a cada pedra no caminho, a cada trajeto percorrido, a cada conquista feita, o que será de nós seres humanos? Precisamos refletir sobre o que nos leva a excluir e penalizar aqueles que consideramos inferiores a nós. Por que nos é tão difícil o pensamento coletivo, livre de preconceitos?