— Doutor, eu sou uma mentira!
— Por que você se percebe assim?
— Porque o meu nome já deixa claro, eu sou uma “Fake News”, uma “notícia falsa”!
— Você sente que está transmitindo uma notícia falsa para os seus leitores?
— Não para todos.
— Como assim? Você é uma mentira para uns e uma verdade para outros?
— Isto mesmo! No início, eu me achava bipolar, pois quando era bem recebida e repassada adiante, eu ficava feliz e me sentia verdadeira. Logo em seguida chegava em outros leitores que me rechaçavam, me chamavam de mentirosa e me ofendiam publicamente, me deixando deprimida.
— Agora não se vê mais como bipolar?
— Não! Agora eu me vejo como uma mentira! O que eu não entendo é por que tanto ódio contra mim? Eu sou apenas uma notícia que alguém postou! Sabe o que mais me intriga, Doutor, é que no passado, ao receber uma mentira, as pessoas ficavam indignadas e queriam saber quem inventou tal mentira. Hoje não! Elas ficam brabas é com a notícia e não nem querem saber quem inventou a Fake News.
— Veja bem, não é você que causa toda esta irritação nas pessoas que não gostam da notícia que receberam, o problema está dentro delas. São elas que não sabem conviver com uma informação que contraria as suas crenças e os seus interesses.
— O Senhor está dizendo que eu estou me dando mais importância do que eu realmente tenho? Isto é o que vocês chamam de “delírio de importância”?
— Estou dizendo apenas que a reação dos seus leitores depende do equilíbrio e da maturidade emocional deles. Você não teme ser rapidamente esquecida pelos seus leitores?
— Não, isso não! Diferente das outras notícias, nós somos “requentadas” e voltamos a circular a cada eleição ou quando interessa, eles só trocam as datas e o título. Nós temos vida longa! Sabe Doutor, toda notícia tem sonho de ser baseada em fatos reais, de poder ser comprovada, de ocupar as manchetes de primeira página dos principais jornais, sites e de viralizar nas redes sociais. Ser uma Fake News pode até viralizar, mas fica a sensação de não ter cumprido nossa função. No fundo, a gente sabe que somos uma enganação.
— Foi você que escolheu ser uma Fake News?
— Não!
— Você acha que os leitores que adoram você escolheram ser desequilibrados, imaturos emocionalmente e alguns com comportamento beirando a irracionalidade?
— Não!
— Então! Assim como você, a grande maioria não escolheu ser o que é, eles são resultados da educação que receberam, do meio em que viveram, das influências etc.
— Doutor, não sei se estou me sentindo melhor ou pior do que quando cheguei aqui?
— Isto é você que vai descobrir!
— Entendi… Eu nunca vou deixar de ser uma Fake News, o melhor a fazer é aceitar a minha realidade e não sonhar em ser um fato verídico, é isto?
— Estas progredindo muito rapidamente!
— E quanto ao controle das minhas emoções?
— Vamos trabalhar mais isto nas próximas sessões.
— Com este tratamento será que não vou mais ficar radiante com alegria dos leitores e nem deprimida com os xingamentos dos que me odeiam?
— É possível, acredite em você e invista no seu autoconhecimento! Nos vemos na próxima semana.