Está declarada uma guerra santa no Brasil, subjacente à campanha eleitoral presidencial? Pode ser. O Presidente Jair Bolsonaro, candidato pelo PL, não conseguindo avançar na pauta política e econômica ditada por seu principal adversário, parece ter fisgado o candidato Luiz Ignacio Lula da Silva (PT) e a chefia de sua campanha à uma inversão de pauta do debate político. A guerra santa deflagrada pelo presidente surtiu efeito no eleitorado evangélico.
A pesquisa Ipec divulgada em meados deste mês indica que, entre evangélicos, Bolsonaro tem 47% das intenções de voto, enquanto Lula tem 29%. No cenário global, porém, Lula aparece em primeiro lugar, com 44% das intenções de voto, e Bolsonaro em segundo, com 32%. Além disso, no cenário simulado de segundo turno, Lula também aparece em primeiro, com 51% das intenções de voto, e Bolsonaro, com 35%.
Porém, o contingente de evangélicos no Brasil, estimado pelo Instituto Datafolha em 2020, e espalhado pelas diversas ramificações pentecostais, chega a 31% da população brasileira, o que equivale a 65,4 milhões de pessoas. É um terço da população e quase metade do eleitorado, que, se votasse de forma uniforme (algo improvável) pende o resultado da eleição para o lado que se dirigir.
Este quadro delineia-se em meio a acenos explícitos de Bolsonaro. Agora, tem a participação ativa da primeira-dama, a evangélica Michelle, e os ataques de pastores e religiosos bolsonaristas ao candidato petista. Até santos e demônios são chamados ao auxílio de um e outro. A equipe de campanha do petista, por seu lado, adota estratégias de emergência para contrapor esse avanço e, no fim de semana, Lula voltou a falar de religião, tema que tem sido dominante em seus últimos atos de campanha.
Já há iniciativas para prover a leitura de sites e páginas de Internet voltadas ao eleitorado “evangélico-petista”. Num comício em São Paulo, Lula subiu o tom e disse que “igreja não é palanque político”. No dia seguinte, voltou ao tema no Twitter lembrando as ações de seus governos em favor dos evangélicos.
Esse protagonismo de Lula na reação, entretanto, preocupa a equipe de campanha. Parte dos auxiliares é contra, pois avalia que Lula pode estar sendo levado a jogar no campo do adversário, abandonando a pauta da economia. justamente o que Bolsonaro quer, segundo esses assessores. Petistas avaliam que ao falar em público, de improviso, como é seu costume e que foi uma estratégia vencedora em eleições passadas, Lula fica vulnerável à divulgação, em redes sociais, de trechos de discursos com interpretações diferentes das pretendidas por ele.
O QG do petista espera que as manifestações dele sobre religião durante o fim de semana sejam as últimas, e que o ex-presidente volte a falar de economia. Se houver interesse em falar aos evangélicos, isso não pode ser feito de improviso e deve focar em pontos que, na visão dos assessores petistas, podem desgastar Bolsonaro com esse eleitorado, como a ampliação do acesso às armas.
Bolsonaro não cansa de acessar sua bolsa de bondades. Agora, aumentou isenções fiscais a igrejas e pastores evangélicos. Bolsonaro usa pastores para impor-se perante os fiéis, eleitores.
A guerra santa vai ao rádio e a televisão
A confirmar que a tônica dos programas de rádio e televisão, que começam no próximo dia 26 de agosto, tende a reproduzir a temática e a tônica geral das campanhas, a guerra santa poderá ser vista também na televisão e ouvida no rádio.
Na próxima sexta-feira, no horário das 7 horas, começam as aparições. Segundas, quartas e sextas-feiras serão transmitidas, nesta ordem, propagandas dos candidatos a senador, a deputado estadual ou distrital e a governador. Os candidatos ao Senado terão juntos cinco minutos; candidatos a deputado estadual ou distrital terão, no total, 10 minutos; e os candidatos os candidatos a governador, 10 minutos. Nas terças, quintas e sábados serão veiculados os programas dos candidatos a presidente e a deputado federal. O bloco de propaganda para cada cargo terá, igualmente, 12 minutos e 30 segundos.
A propaganda eleitoral gratuita terá dois blocos diários, cada um com 25 minutos. No rádio, o primeiro horário será das 7h às 7h25, e o segundo das 12h às 12h25. Na televisão, a propaganda eleitoral gratuita será exibida das 13h às 13h25 e das 20h às 20h25. A transmissão acontecerá de segunda-feira a sábado em todas as emissoras de rádio e canais abertos. A transmissão é obrigatória.
As inserções publicitárias, os chamados “comerciais”, que para muitos é o file mignon do espaço, porque não pode ser desligado o aparelho e eles chegam ao eleitor, são divididos paritariamente entre proporcionais e majoritários. As inserções são divulgações de 30 ou 60 segundos que serão veiculadas das 5h à 0h nos mesmos veículos. Cabe aos partidos e federações distribuírem suas cotas de divulgação igualmente entre as candidaturas. Já as emissoras ficam encarregadas de distribuir em diferentes blocos ao longo do dia.