- Ela manterá um olho em sua “produção” científica e outro – bem aberto – nas consequências sociais e éticas dessa produção. (Em 1947, Oppenheimer, entrevistado pela Time/Life sobre sua responsabilidade na bomba atômica – da qual ele fora um dos conceptores -, respondera que: “Sou um cientista e me ocupo com o progresso da ciência. O que os políticos e os militares fazem deste conhecimento não é de meu interesse!”).
- Ela não terá medo da participação paritária de seus segmentos: os alunos, corpo permanente (ou nós, professores, não teríamos sentido!) não serão tratados como “parvos” ou como “perigosos”, e os técnicos não serão vistos como simples “meios”, e todos participarão ativamente da execução dos valores e missões da instituição e das decisões administrativas e acadêmicas.
(O filósofo espanhol Fernando Savater dizia que o “maior e mais injustificado medo da democracia são os ignorantes. Como se a democracia fosse uma sofocracia –o governo dos que sabem!”)
- Ela se inquietará apenas secundariamente com questões de “ranqueamento” e de classificação relativa, e se preocupará, antes de qualquer coisa, em dar respostas às questões urgentes e emergentes de nossa sociedade inclusiva.
(De que vale ser “uma das dez melhores” – segundo critérios discutíveis! – se temos à nossa volta os piores índices educacionais e humanos do país?).
- Ela não aceitará que conhecimento e saber sejam confundidos, mas que ambos possam conviver: o primeiro como saber “instituído”, aceito e consagrado, de onde partimos para inovar; o segundo como interrogação do primeiro, problematizador: que o médico ou o engenheiro leia algo sobre a relação entre ética, ciência e sociedade; que o cientista social leia algo sobre gestão pública e aplicação racional e razoável de recursos. E que ambos se encontrem…
- Que a porosidade entre universidade e sociedade seja aferida pela “Extensão”: da sociedade esperamos demandas, mais ou menos organizadas; da universidade esperamos repostas, práticas ou teóricas, avançando para a sociedade cenários futuros a enfrentar: ora a primeira na “frente”, ora a segunda, mas sem que nos percamos de vista.
- Os professores serão ali admitidos porque mostrarão sua aptidão para o ensino, para a aprendizagem (duas coisas muito diferentes), para a pesquisa, para a gestão, em acordo com os fins, missões e valores da instituição; serão instados a mostrarem, antes de tudo, que representam o elo fundamental entre o presente e o futuro, entre a circunstância e a esperança; e que estarão preparados para aprender com seus alunos, alunos que introduzem a cada nova “leva”, outras exigências que, se não a compreendermos, o que ensinamos entrará em colapso com a realidade. E estarão aptos a dividir com seus pares – e com a sociedade – os resultados de suas reflexões.
- Ela estará atenta ao que se passa no mundo – sua “internacionalização”. Mas não se submeterá a “modelos” copiados de outras realidades, saberá onde está “situada” e buscará parcerias que, ao invés de provocar comparação de performances, sugerirá diálogos interculturais, em que nossa própria “ciência” (aquilo que produzimos como saber “válido”) será constantemente interrogada.
- Uma universidade em que os “fins” não serão confundidos com os “meios”, consciente de que não basta ter “tecnologia” para que as coisas “funcionem”; ela saberá que não basta que os números “falem por si” ou que os “resultados” apareçam: Auschwitz apresentou, de um certo ponto de vista, excelentes “resultados”!
- Uma universidade em que seus órgãos administrativos superiores serão, mais do que instâncias deliberativas, uma caixa de ressonância de antecipação e de demandas vindas de toda a instituição e de toda a sociedade, e um instrumento de proposição inovador e avançado.
- Uma universidade que guardará, ciosamente, seu sentido republicano. Isto significa dizer que ela não será feita para os professores, para seus projetos, para suas “produções”, suas pesquisas; nem para os alunos ou técnicos. Ela existirá porque prometerá cumprir um engajamento civil: oferecer soluções, dirimir preconceitos, refletir sobre o que se passou, vislumbrar cenários futuros, preparar profissionais; porque para além dela existe uma coisa chamada de “público”, que não é a soma dos cidadãos ou a massa aglomerada, mas um projeto comum (embora sempre sujeito a conflitos institucionalmente regulados) baseado numa vontade política minimamente organizada.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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