Muito antes de me mudar para cá (ou mesmo de saber que Roosevelt Island existia), eu já havia procurado o lugar exato de Manhattan que oferece a melhor vista para este lado do East River.
Em 1997, quando visitei a cidade pela primeira vez, saí em busca da minha Nova York, ou seja, aquela que eu havia aprendido a imaginar (e amar) no cinema: os recantos do Central Park que apareciam em Hair (1979), a Brooklyn Bridge entrevista entre os edifícios de Era uma Vez na América (1984), o macabro Dakota Building de O Bebê de Rosemary (1968), a vitrine da joalheria Tiffany que Audrey Hepburn namora em Bonequinha de Luxo (1961)… A única cena que ficou faltando recompor naquela primeira visita foi exatamente a mais icônica de todas: Woody Allen e Diane Keaton, sentados em um banco diante de uma ponte iluminada, em Manhattan (1979).
Foi preciso inventarem o Google para eu descobrir que aquela ponte é a Queensborough (e não a Brooklyn Bridge, como muita gente pensa), que o lugar onde eles estão é um pequeno parque chamado Sutton Place (entre as ruas East 56th e East 57th) e que o pedaço de terra do outro lado do rio não é o Queens, mas minha querida Roosevelt Island.
A primeira coisa que você precisa saber sobre o lugar onde estou morando há sete meses é que esta pequena ilha (3,2 km de comprimento, 240 metros de largura, 12 mil habitantes) faz parte de Manhattan e está a apenas uma parada de metrô do Upper East Side. A segunda é que ela não parece com nada que você imagina quando pensa em Nova York. Restaurantes? Poucos. Teatros? Nenhum. Trânsito? Esparso. Silêncio? Muito. Tranquilidade? Total.
A ilha foi comprada pela prefeitura de Nova York em 1828, quando ainda se chamava Blackwell’s Island. O objetivo era usar o novo território como área de escape para tudo que uma cidade precisa ter, mas não gosta muito de ver (ou conviver): hospícios, hospitais, presídios… Em 1973, a ilha foi rebatizada, homenageando o presidente Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945), que conviveu com a poliomielite durante boa parte da vida. Foi um jeito de a cidade honrar a memória das pessoas com deficiência enviadas para cá durante décadas – muitas vezes, contra a própria vontade.
Nos últimos 50 anos, à medida que foi sendo reurbanizada, a ilha foi ganhando um novo perfil. Em 1976, veio o bondinho (usado hoje principalmente pelos turistas). Em 1989, chegou o metrô, e morar aqui passou a ser um ótimo negócio para quem quer ficar perto de Manhattan – mas não no meio da confusão.
Além de edifícios novos, como o meu, surgiram pequenos negócios, supermercados, uma Starbucks. Mas nem mesmo a instalação do campus de uma universidade (Cornell Tech) e a inauguração de um hotel-boutique supermoderno (Graduate) alteraram o ritmo pacato de cidade do interior. Ao lado da metrópole mais cosmopolita do mundo, existe uma ilha de tranquilidade – e silêncio.