Vejo que de forma inevitável todos nós iremos nos perguntar um dia: qual o sentido da vida?
Mesmo as pessoas mais práticas e objetivas trazem esta questão consigo na sua psique. Por fazer parte da nossa humanidade, nos perguntarmos de onde viemos, por que vivemos do jeito que vivemos e para onde vamos.
Neste breve percurso das nossas vidas humanas nos perdermos em busca grandes utopias como a felicidade, o amor eterno, o poder absoluto ou apenas acreditarmos que nossa visão de mundo particular deve prevalecer como uma fórmula mágica do bem viver.
Lembro que anos atrás eu e minha irmã Janaina fomos na conferência do filósofo francês Luc Ferry, no Fronteiras do Pensamento aqui em Porto Alegre. Era um momento das nossas vidas em que estávamos muito unidas em busca de tudo que pudesse explicar o sentido da vida e de nossas vidas, pois já vivíamos com nossa mãe com um diagnóstico de câncer incurável. Isto me faz acreditar que a história de vida de cada individuo nos faz entrar na trilha do conhecimento por motivações limítrofes entre a vida e a morte. Mas há quem não busque a filosofia, a psicanálise ou observe e questione o mundo. Há pessoas que se contentam com a objetividade do mundo com medo de mergulhar em busca de respostas. (se é que elas existem)
Mas lembrei de Luc Ferry grandioso naquele palco da UFRGS e do quanto fiquei impactada com as ideias que ele trazia de seu livro a Arte de Viver. E depois seguiu no livro Aprendendo a Viver. E que a grande questão que ele se propunha a analisar era afinal o que é uma vida boa?
Sim o que é uma vida boa? Como se vive uma vida plena e boa? E afinal o que significa o bom?
Porque temos a tendência na nossa sociedade da superficialidade midiática a achar que os conceitos são únicos e rasos. Bom é bom. Mal é mal. Feio é feio. E a filosofia nos mostra que não. Os conceitos variam de acordo com a cultura, com as sociedades e com o tempo. Mas muita coisa se cruza e permanece mesmo que se trilhe caminhos diferentes.
Volto a 2023, e desde a semana anterior ao conversando sobre Amor e Coragem, talk que fiz parte abordando a minha escrita a partir de uma história amorosa como pano de fundo para refletir sobre escolhas, multiculturalidade, vivência de amores e vida, e que tem impactado as pessoas aqui na Sler, eu me deparei com último livro de Contardo Calligaris, “O Sentido da vida”.
Nele o autor diz que a “felicidade sempre lhe pareceu uma preocupação desnecessária e, sem dúvida, não determinista – na realidade, o primordial seria nos autorizar a desfrutar da vida intensamente, em todos os momentos por ela proporcionados.
Luc Ferry, no palco da UFRGS, disse que a Felicidade não existe. Temos momentos de alegria, mas não existe um estado permanente de satisfação. Separações, morte de pessoas queridas, doenças e acidentes são inevitáveis e é por isto que a busca pela felicidade plena não faz sentido.
Estes conceitos de certa forma sempre moldaram minha visão de mundo configurando minha personalidade, e me levando até a traços bem impulsivos, pois sempre senti urgência por viver, por descobrir, por entender, por ver o mundo de uma maneira mais ampla, e menos estável até. Pensando aqui talvez o contato claro com a finitude da vida e das coisas tenha sido a base para isto.
E muitas vezes as pessoas chamam isto de coragem. A coragem ou o meu impulso para a ação de viver intensamente, me leva a situações não muito seguras aos olhos de quem busca uma vida feliz. Eu não evito o sofrimento. Eu busco viver todos os sentimentos que eu puder para aí sim construir talvez a minha sabedoria particular.
Afinal, sabedoria para Luc Ferry é aceitar o fim para vencer o medo. Porque ele acredita, assim como Bel Hooks, que viver sem medos é uma revolução do amor coletivo. E aí se encaixa também a visão de amor coletivo de Paulo Freire. Ou seja, viver uma vida boa seria viver uma vida amorosa em todos os aspectos do ser humano do individual ao coletivo.
Assim como num filme conto uma cena para vocês em que encontro amigos e uma desconhecida se agrega ouvindo a repercussão do Conversando. E quando ela ouve amor coletivo salta imediatamente e diz: “Não! Que é isso! Amor tem que ser único e meu”. Penso comigo: cada um tem seu estágio de entendimento, mas só com este exemplo fica claro porque ainda estamos longe dos ideais filosóficos de uma vida boa humana.
E eu volto para a ideia de viver uma vida intensa e interessante. E me sinto abraçada por Calligaris ao entender que meus anseios têm fundamento. Que comungo com uma visão de mundo que coloca a vida interessante como cenário para uma vida boa. Mas o básico disto é vencer o medo como ouvi do brilhante Luc Férry. Sair da paralisia do medo e ousar de forma consistente.
Eu estou em busca de uma vida interessante que necessariamente não é mais estável, mas com certeza é que a me faz sentir viva, inteira, em descoberta e que me mova a novos desafios.
Decidi que irei voltar a Paris no final do outubro para mais 15 dias. Para ver o Rana. Para viver mais Paris, trabalhando em cafés. Para fazer o que não fiz por falta de tempo, conhecimento e receios. Paris sempre será para mim mais que do que vivi na minha primeira ida, eu amo o mood da cidade luz de desnudar a inquietação, a partir do encontro com o mundo dentro dela.
O maravilhoso escritor Ernest Hemingway fez inclusive um livro sobre sua vida em Paris que explica a magia da cidade: “Se você quando jovem teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança que o acompanhará pelo resto da vida, e por onde você esteja será esta… porque Paris é uma festa ambulante.” E ele ainda complementa: “Quando fui realmente feliz? Em Paris, quando era muito pobre e vivia de cheirar as sandes dos amigos.”
Eu não sou Hemingway, mas sempre amei sua escrita. Eu não sou jovem, mas me sinto em ebulição para viver mais do que a rotina disciplinada de uma vida acética. Eu não sou rica, por isto consigo ver Paris com os olhos de Hemingway pobre e me divertir ao flanar na rua. Talvez a coisa mais valiosa que tenho comigo é o que me habilita a mais uma temporada em Paris: coragem de viver novas e boas descobertas.