Domingo, 1º de junho, foi um dia para entrar na história. Embora nossa imprensa hegemônica tenha ignorado, em várias cidades brasileiras houve protestos contra o PL 2159, também chamado de PL do licenciamento ou PL da Devastação, já que ajuda a desmontar o Sistema Nacional do Meio Ambiente.
Estive lá. E, pela primeira vez, marquei presença com a família. Meu guri foi convicto e segurou o cartaz que preparei para ostentarmos. Sei o quanto é importante ter imagens convincentes em manifestações. Fiz várias entrevistas ao vivo, clica no meu perfil no insta pra conferir.
E também dá para sentir o clima daquele domingão ensolarado!
Foi bonito de ver gente de vários lados do contexto ambiental reunida: políticos, artistas, ambientalistas, estudantes de biologia, técnicos das três esferas, do Ibama, da Sema/Fepam e da Smamus (extinta Secretaria do Meio Ambiente de Porto Alegre, a primeira pasta municipal do país), enfim, uma biodiversidade de um ecossistema – longe de ser de um bioma – todos que já são da bolha que defende a natureza. Pelas beiradas circulavam curiosos, como um publicitário que trabalha com a tal empresa de supermercado que tem colaborado com a diminuição do verde na capital.
Uma amiga, que não tem um pé em algum movimento social, achou que a função teve pouco público. Eu, na hora, retruquei: olha, para o momento, a participação era significativa e muita gente circulou por volta do Monumento do Expedicionário na Redenção. Ela ficou incomodada de ver um adesivo de um vereador se declarando anticapitalista. Explico: para ela, esse tipo de mensagem afasta quem precisa ser convencido para as causas necessárias do momento. Como ela não é da academia, nem estudiosa dos rumos do capitalismo, o problema, no seu entendimento, “é o capitalismo predatório”. Enfim, não vou entrar nesse mérito do contexto do capitalismo. No entanto, para os pouco esclarecidos, a ideia é logo aquela: então tu é comunista!
A questão é que, ao mesmo tempo que todo mundo hoje se acha entendido em comunicação porque sabe fazer um vídeo, nunca os profissionais da minha área foram tão desvalorizados. Será que quem fez o tal adesivo consultou profissionais sobre as possibilidades de interpretação da mensagem que se desejava transmitir? Saber dar o recado com precisão exige lastro e muito conhecimento.
Na manifestação, o som mal dava para ouvir, não havia palco, nem uma kombi com altofaltante, digo altofalante. Ou seja, foi uma manifestação, pobre, pobre de marré deci. Mas, como sei que foi tudo feito às pressas e preparado com muito empenho por gente que fez tudo com a melhor das boas intenções, me sinto até mal em criticar. Ou seja, tudo foi feito no voluntariado.
Escrevo sobre isso para que nos demos conta de que enquanto um pequeno grupo está aprendendo a se organizar para fazer coisas acontecerem para o bem da natureza, para uma melhor qualidade de vida para esta e futuras gerações, outros lados estão em mega preparativos com as big techs para espalhar desinformação. Pior: arquitetando fisgar corações e mentes com enredos de embrulhar o estômago a la Zambelli. É a mesma turma que está colaborando intensamente para que o tal PL seja aprovado e passe logo no Congresso Nacional.
O contexto é nebuloso, não é só entre mocinhos e bandidos. As moedas de troca de interesses e favores rondam por muitos lados. E o próprio governo federal está dividido com relação a esse assunto. A propósito, sabe onde nasceu o tal autolicenciamento?
Em um governo petista na Bahia, onde um cara que não está mais entre nós criou esse mecanismo depois de ter aprendido bastante, dando aulas sobre licenciamento ambiental para municípios nos bons tempos dos primeiros anos de Sema do RS, quando coordenava a Comunicação.
Dei essa breve contextualizada porque, se naquele tempo essa ideia pode ter sido encarada como genial, hoje, é quase uma sentença de morte da biodiversidade, de poluição pelo ar, pela água, pelos poros. De todos os seres vivos, inclusive você que me lê. E esse fim de mundo pode vir de várias formas, não só por desastres como temos vivido com frequência pelos pagos, mas através de desequilíbrios onde se proliferam vírus, bactérias, pandemias etc.
Com o avanço do lucro a qualquer preço, onde somos dominados e regidos por telas e boa parte dos seres com senso crítico com a profundidade de um pires, o avanço de narrativas de mentiras, desinformação em escala é uma ameaça tão grande quanto a emergência climática. São tempos de aceleração rumo ao precipício.
A reportagem do Sérgio de Souza, no Intercept, sobre as aulas que as big techs deram para treinar a extrema direita e me provocaram uma sensação difícil de nomear. Uma tristeza misturada com uma chama de esperança que oscila entre quase apagar e se revigorar. Uma incerteza que ora pende para o pendurar os sapatos (não uso chuteiras), ora prefere se refugiar entre quem está em sintonia com a minha vibe, ora se esforça para estudar e querer compreender como se comunicar por gente que prepara o futuro dos outros com retroescavadeira.
Se estamos querendo chamar atenção com arco e flecha, eles estão instalando chips sem mesmo precisar de qualquer tipo de implante.
Diante desse cenário, creio que as pessoas que têm algo mais entre as orelhas e que entendem minimamente da enrascada em que estamos metidos precisam deixar de lado as rusgas e as diferenças. É hora de se unir em busca de estratégias para o menos pior. Nem que seja para se nutrir, para juntar forças para seguir adiante. Já pensou que legal uma escola de samba desfilando na Sapucaí com o tema Unidos para pedir licença à natureza? Nossos sonhos não podem parar. Pois 2026 tá logo aí.
Ah, e só pra lembrar do dia 5 de junho: Todo dia é dia do ambiente. Ele está no meio de nós.
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Foto da Capa: Acervo da Autora