Quando se fala em mulheres, normalmente nos citam assim, no plural, no geral pensam na gente como grupo homogêneo, o que não é verdadeiro. Somos grupos distintos com diferentes pautas, já que mulheres com deficiência lutam por causas diferentes daquelas que as mulheres indígenas. Mulheres mais velhas lutam por pautas distintas das que travam as mães chefes de família. Por óbvio, ainda existem muitos outros grupos aqui não citados, como as mulheres lésbicas, as mulheres negras, as mulheres brancas, as mulheres ciganas e quilombolas, as mulheres refugiadas, as mulheres em situação de rua, etc.
Então, quando falamos em mulheres, falamos no conjunto de muitas lutas. E cada uma de nós nos encontramos, muitas vezes, em um ou mais desses grupos lutando por diversas causas. Mas nem sempre juntos. Percebo na possibilidade de diálogo entre esses grupos, enxergarmos nossas semelhanças acima das nossas diferenças, uma oportunidade de virada de chave. E, aí, quem sabe, antecipar os 131 anos para conseguirmos a igualdade de gênero, conforme previsto pelo Fórum Econômico Mundial (leia aqui). Com passo de cada vez, mas de maneira coordenada, sem nenhuma a menos.
Olhando pra Floresta
O Brasil tem uma população total de 203.080.756 habitantes. Destes, 104.548.325 são mulheres (51,5%). De forma inédita, a maioria nas cinco regiões do país é feminina, de acordo com dados do último Censo. Ainda considerando os dados do Censo, outro dado importante a se considerar é que 54,9% se autodeclarou “não branco”, ou seja, 43,5% pardos, 10,2% pretos, 0,8% indígenas e 0,4% amarelos, o que nos conduz a concluir que a maioria da nossa população feminina também é “não branca”. Com essas informações, gostaria de pontuar que a maioria da população brasileira é atravessada, no mínimo, por duas questões básicas: o machismo e o racismo. Penso que não à toa são as mulheres “não brancas” as que vivem em piores condições e violações de seus direitos mais básicos, no Brasil.
Mercado de Trabalho – Uma Parte da Floresta
Conforme dados do Dieese colhidos em diversas fontes oficiais, o Brasil contava com a força de trabalho de 89,6 milhões de mulheres em 2022. Destas 47,9mi faziam parte do mercado e outros quase 50% estavam fora do mercado formal de trabalho. Entre as que nele se encontravam vemos a desigualdade ainda estampada.
Neste dia cinco de março foi divulgado pela Confederação Nacional da Indústria – CNI a Pesquisa Indústria & Mercado de Trabalho – igualdade de gênero e seus desafios. Ela abarca a realidade das trabalhadoras da indústria, apenas um setor da economia, porém um setor relevante que além de alavancar os demais segmentos econômicos, concentra 21,2% do emprego formal do país.
E daí? Quando vistos os números globais, eles são positivos. A indústria está caminhando para ampliar seus espaços para mulheres:
- 6 em cada 10 empresas do setor contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero.
- As mulheres são mais escolarizadas que os homens. Segundo dados do 2º trimestre de 2023, o tempo de estudo das mulheres empregadas é, em média, de 12 anos. Já o dos homens é de 10,7 anos.
- O índice de empregabilidade das mulheres apresentou uma evolução entre 2013 e 2023, passando de 62,6 para 66,6, respectivamente – crescimento de 6,4%.
- A paridade de gênero na remuneração salarial aumentou 6,7 pontos – saindo de 72 para 78,7, em dez anos.
- A participação das mulheres em cargos de liderança subiu de 35,7% em 2013, para 39,1% em 2023.
Porém, a qual velocidade? Calculando a evolução desses números (lembre-se, estamos tratando aqui de um setor da economia formal), serão necessários mais de 100 anos para chegarmos à equidade de gênero no mercado de trabalho como assinalado pelo Fórum Econômico Mundial! Temos todo esse tempo? Estamos dispostas a esperar?
Tudo vira Consumo
Acredito importante que tenhamos “o nosso dia”, que acaba por se estender ao “mês da mulher”, para que possamos conscientizar quanto à desigualdade de gênero, homenagear mulheres que vieram antes de nós e que foram invisibilizadas e/ou possibilitaram vitórias importantes nessa caminhada até aqui, disseminar conhecimento entre a população sobre seus direitos e serviços para a mulher que podem ser acessados, entre tantas outras ações que podem ser promovidas.
Fique muito atenta! Agora em março, seremos cantadas em verso e prosa. Dirão que somos perfeitas e maravilhosas, ou que mesmo imperfeitas somos maravilhosas, não importando se jovem, velha, gorda, negra, com deficiência, branca, muçulmana, católica, evangélica, mãe, solteira, mãe solo. Idadismo, Machismo, Patriarcado, Feminismo, Sexismo, Misoginia, Desigualdade de Gênero, Etarismo, … palavras que frequentarão a mídia até você se cansar.
Palavras não equiparam nosso salário ao dos homens, não colocam mulheres e homens em pé de igualdade nos cargos de liderança nas empresas, não abrem creches nas empresas nem determinam licença paternidade, não abrem portas para as vagas para mulheres mais velhas. Atenção! Analise, avalie quem se coloca à serviço das nossas pautas ou apenas se serve delas em seu próprio benefício.
Mulher! Alguma vez você já escolheu a empresa e/ou marca que consome de acordo com as políticas de igualdade de gênero que essa empresa e/ou marca possui? A gente escolhe o detergente, a roupa de cama, o sofá, a geladeira, a operadora de celular, a base e o rímel pensando se a marca X ou Y utiliza animais em seus testes ou se é mais sustentável ecologicamente, por que não fazemos o mesmo em nosso próprio benefício com relação ao que consumimos? E a gente adora uma comprinha, né? Mundialmente, 85% do consumo é realizado por mulheres! Isso é autoajuda e apoio à causa de todas as mulheres! Sororidade 360º. Que tal começar a fazer essa pergunta mágica a partir de hoje? Fazer disso uma causa para dizer não. Aqueles 131 anos calculados pelo Fórum Econômico Mundial cairiam pra uns 5 anos. Vamos apostar?
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Foto da Capa: Agência Brasil