Na coluna da semana passada tratei do tema usura (leia aqui). Usura é agiotagem, ou em outros termos, trata-se do direito de extorsão financeira legitimada no caso do Brasil. Práticas como juros abusivos, taxas de juros sobre cartão de crédito, estratégias de juros sobre juros, desinformação aos usuários de crédito, entre outras, são comuns entre os banqueiros — novamente, caso do Brasil.
Entre os leitores e leitoras da coluna da semana passada, um colega da época do colégio — aliás público — me fez uma pergunta: “E quais as saídas desse sistema?”. Na presente coluna busco apresentar algumas boas iniciativas bem-sucedidas que podem ajudar como primeiro passo para fora desses sistemas de extorsão financeira. As indicações a seguir não estão listadas em uma ordem de prioridade nem importância.
- Moeda social. Faça parte de alguma rede social que utiliza no cotidiano uma moeda social para realizar transições econômicas no nível local. Essa tem no Brasil e você pode conferir esse tema aqui.
- Atividades de contemplação. Outro modo de escapar do consumerismo e consequentemente das práticas de empréstimo de dinheiro rápido e abusivo é se dedicar em atividades que envolvam baixo custo de realização, como atividades ao ar livre, envolvo na natureza e deslocamentos suaves. Essa atividade é gratuita e não gera endividamento. Algumas dicas sobre banhos de natureza podem ser vistas aqui.
- Museu público como combate ao consumerismo. Essa prática tem uma relação com o banho de floresta. Também atua na dimensão do ócio, mas não qualquer tipo de ócio, uma atividade de reflexão que fomenta o lado crítico do ser humano. Essa atividade é gratuita e não gera endividamento. Confira aqui.
- Oficinas compartilhadas públicas. Em Berlim tem uma boa experiência que são as oficinas coletivas de conserto e manutenção de bicicletas. É uma iniciativa que consta com a solidariedade e conhecimento de quem tem um micro tempo livre para levar peças de reposição utilizadas para o estoque da oficina coletiva.
- Economia circular. Trata-se do antigo modo de fazer economia no nível local, com baixo esforço de deslocamento entre matérias-primas e reuso, reciclável e reelaboração dos produtos em novos insumos ou novos produtos. É a velha lógica do “nada se perde, tudo se transforma” do Antônio, vulgo Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794).
- Bens comuns. Essa discussão é ampla, mas em termos práticos trata-se de uma questão de como olhar e apreender o mundo. Vamos à questão da água. A água pode ser enquadrada como um recurso privado, um bem público comum ou até mesmo como uma entidade viva (como é o caso para várias nações indígenas — sim, nações e não povos [ver o caso da Constituição do Equador]). Nesse sentido, viver e lutar para que bens comuns sejam públicos e não privados e uma forma de não ter que pagar (ou se endividar) por elementos essenciais à vida. E qualquer discurso capitalista irá à contramão de bens comuns, públicos e gratuitos (ou em breve, a população terá que começar a pagar por ar puro — o mesmo ar que as indústrias que queimam fóssil poluem sem custos).
- E lista continua nas três indicações abaixo. Recomendo e aceito dicas de novas práticas que não estejam catalogadas até então nos conteúdos sugeridos a seguir.
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Conteúdos críticos indicados a partir da coluna de hoje:
- Site do professor Ladislau Dowbor é uma biblioteca científica online e gratuita.
- Segundo Manifesto Convivialista é elaborado por mais de uma centena de cientistas, boa parte das Ciências Sociais, que organizaram os principais elementos para a construção de sociedades pós-neoliberalismo pós-capitalismo e pós-fóssil. Aqui.
- Livro “Pluriverso: um dicionário do pós-desenvolvimento”. Kothari e outros (org.), Elefante, 2021.