Faltam seis dias para a eleição. As pesquisas não asseguram projetar uma vitória no primeiro turno. Por isso, os dois principais candidatos, Lula e Bolsonaro, pressentindo o futuro imediato, traçam estratégias. Lula prega o voto útil e Bolsonaro, diz que se não fizer, no mínimo, 60 por cento dos votos, algo errado aconteceu na Justiça Eleitoral. Essa é sua velha pregação golpista, agora com uma ameaça explícita caso o resultado não lhe favoreça.
As últimas pesquisas, tanto da Datafolha, quanto do IPEC, porém, apontam pela primeira vez uma vitória de Lula no primeiro turno. A diferença entre os dois candidatos foi de 12 para 14 pontos percentuais desde 15 de setembro, repetida na sondagem de 22 de outubro. Lula volta a apresentar chance de vencer no primeiro turno. O petista aparece com 50% das intenções de votos válidos. Se receber metade mais um no dia 2 de outubro, ganha o pleito. Ainda se percebe que uma parcela de 11% dos eleitores brasileiros pode mudar de candidato no primeiro turno da eleição presidencial e apoiar aquele que estiver em primeiro lugar nas pesquisas, como prevê o Datafolha.
Mas como a margem de vitória pode se esconder nas margens de erro, as estratégias petistas seguem buscando a pequena margem que falta para assegurar a vitória imediata, assegurando a mudança de voto dos eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). O voto útil surpreende e é sempre na reta final. A campanha presidencial de 2022 marca-se por um cenário de cristalização entre dois polos: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). O número de indecisos segue baixo (2%) e apontou Lula com 45% e Bolsonaro com 33%.
Para vencer no primeiro turno é preciso que o candidato tenha 50% dos votos válidos mais um. Desde então, o PT concentra esforços no chamado voto útil, que é a tentativa de convencer o eleitor a optar por um voto pragmático, ainda que não seja para o candidato de sua escolha inicial. O ex-presidente também pediu aos militantes e lideranças petistas que tentem dialogar e mandar mensagens direcionadas aos eleitores indecisos.
Nesse esforço de reta final, o petista junto ex-presidenciáveis reúnem-se e abraçam-se de braços erguidos pedindo o voto derradeiro. Renovaram apoio o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice de Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), o ex-ministro Henrique Meirelles (União Brasil), a ex-ministra Marina Silva (Rede), o líder sem-teto Guilherme Boulos (PSOL), a deputada estadual Luciana Genro (PSOL) e o ex-deputado João Goulart Filho. Ex-presidenciáveis que mostram superar rusgas e divergências do passado para o apoio na reta final. E unem-se à ofensiva pelo voto útil e contra a abstenção. De quebra, do alto dos seus 91 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso emitiu uma nota com um recado claro sobre quem não deve merecer o voto no próximo mês. Não citou nem Lula, nem Bolsonaro. Mas não precisa, pois seu retrato foi claro.
As últimas pesquisas colocaram Lula na margem de erro ao projetar o primeiro turno. Sobre os votos válidos, excluídos brancos e nulos, o ex-presidente teria 48% dos votos, com proximidade de vitória no primeiro turno. Na pesquisa do Ipec (de 12 de setembro), Lula venceria no primeiro turno, com 51% dos votos válidos, margem muito estreita e que pode mudar por qualquer motivação. Mas é do eleitorado do PDT, que tem como candidato à Presidência Ciro Gomes, que pode haver alguma migração mais significativa de votos para o petista. Tanto Ciro, que figura em terceiro lugar nas pesquisas, quanto Simone Tebet (MDB), que aparece tecnicamente empatada com o pedetista, criticam o discurso do voto útil e tentam segurar seus eleitores, que são mais voláteis do que os de Lula e Bolsonaro.
O debate do voto útil suscita paixões porque coloca o eleitor num dilema: pensar de forma estratégica ou votar de forma sincera, de acordo com as suas reais preferências? O fato de Bolsonaro ter uma rejeição de 51% e o segundo turno abrir possibilidades para episódios de mais acirramento político, violência e flertes com rupturas institucionais seriam outros fatores que poderiam levar o eleitor a cogitar um voto resignado. Um dos argumentos utilizado pelos apoiadores de Lula é que um segundo turno poderia potencializar os riscos de questionamentos do resultado eleitoral e atos violentos no intervalo entre a primeira e a segunda fase da campanha.
E ele?
Nos funerais da Rainha Elisabeth II, o presidente Jair Bolsonaro antecipou o discurso da derrota. “Eu digo que se eu tiver menos de 60% dos votos, algo de anormal aconteceu no TSE, tendo em vista obviamente o ‘datapovo’, em que você mede pela quantidade de pessoas que não só vão aos meus eventos, como nos recepcionam, afirmou o presidente em entrevista ao SBT. Reconhece que a eleição está “bastante” dividida, mas “muito mais favorável” a ele.
Voto tático, plural, estratégico
O voto tático (também conhecido por voto estratégico ou voto útil) ocorre em eleições com mais de dois candidatos quando os eleitores fornecem uma informação enganadora com o objetivo de maximizar a utilidade do seu voto. Se um eleitor acredita que o seu candidato preferido não tem chances de ganhar, por exemplo, ele pode optar por votar num candidato que não gosta, mas com o objetivo de impedir a vitória daquele que detesta.
O voto plural ocorre quando o eleitor tem um incentivo para não votar em candidatos que ele acredita que não poderão ganhar, independente de gostarem ou não dele. Se votarem nos candidatos com mais chances de ganhar, o voto tem mais probabilidades de influenciar no resultado. Normalmente, este fenômeno causa a concentração de apoio no que terminará ganhando.