Hackers invadiram o meu computador e divulgaram nas redes sociais partes do meu diário de viagem. Decidi então compartilhar com você as histórias desta viagem de carro de Porto Alegre até João Pessoa. Ué? Não era até Forteza? Era, mas faltou tempo e resolvemos deixar o restante do litoral do Nordeste para uma outra viagem. Lamento que não iremos encontrar alguns amigos queridos. Peço a sua compreensão ao ler os relatos íntimos e conflitos internos registrados neste diário.
– Querido Diário, resolvemos fazer uma viagem de carro para o Nordeste, ir acampando de barraca e preparando nossas refeições, vai ser maravilhoso.
– Hoje compramos uma barraca high-tech, que se arma automaticamente em dois segundos. Ela tem uma tecnologia fresh and black que deixa fresquinho e escuro dentro da barraca. Armamos a barraca dentro do apartamento e dormimos dentro, foi uma beleza.
– Estamos saindo de Porto Alegre com o carro cheio de alimentos e equipamentos, partimos para mais uma aventura. Lá vamos nós! Uhuuu!
– Hoje, pela primeira vez vamos armar a barraca, conseguimos uma boa sombra e estamos ansiosos para viver a experiência de dormir nesta barraca.
– São duas da manhã e ainda não conseguimos dormir, a barraca é uma sauna a seco, um calor infernal! Acho que nos venderam a barraca com a tecnologia warm and black. Tomara que amanheça logo o dia.
– A barraca se arma automaticamente em 2 segundos, mas para desmontá-la precisamos assistir um vídeo no Youtube e, depois de várias tentativas sem sucesso, apareceu uma italiana e fechou rapidinho. Sempre aparece uma alma boa quando preciso!
– Putz! Ontem estourou o saco de leite em pó e “pulverizou” todas as embalagens de alimentos, hoje vazou a embalagem da pasta de amendoim, virou uma meleca danada, vamos ter que lavar tudo que tinha na sacola. Por que eu não coloquei tudo em saquinhos separados?
– Segundo camping: o pessoal é muito legal, acho que vai ser divertido.
– Passamos o dia no sol e me atacou a enxaqueca, vou dormir na barraca para melhorar.
– São 22 horas e não aguento mais este calor, vamos abrir a porta e as janelas para ver se circula algum vento.
– PQP! Não consigo dormir com as picadas e o zumbido dos mosquitos no meu ouvido. Onde está o repelente? Será que ficou no carro? Em qual sacola?
– Ufa! Achei o repelente, agora vou tentar dormir. A Grace resolveu passar a noite sentada numa cadeira no lado de fora da barraca, pois lá fora não está tão quente.
– Chuva! Essa não! Agora que consegui dormir, vou me levantar para ajudar a recolher a roupa do varal. Grace aproveitou e retirou do varal a roupa das demais barracas para não molhar. Quando passou a chuva ela recolocou tudo de volta e foi tomar um banho para se refrescar. Eu consegui pegar no sono novamente e não vi que voltou a chuva e molhou toda a nossa e a roupa dos demais. Bem dizem que as tragédias são um somatório de fatores. Eu poderia chamar essa de “uma noite de fúria”.
– Trouxemos alimentos como se estivéssemos indo para a Antártida. Me diga, para que trazer caixas de creme de leite, sachê de massa de tomate e esta quantidade de enlatados? Será que eu não sabia que tem supermercados no Nordeste?
– Trouxemos um liquidificador portátil e não pensamos em trazer um ventilador para a barraca, que cabeça esta minha!!!! Fomos comprar o ventilador e não encontramos nenhum que fosse bivolt, ou seja, se comprássemos ele serviria num camping e não no outro, pois num a tensão é 110V e em outros é 220V. Comprar um transformador? Custa mais caro que o ventilador e depois fazer o que com o transformador? Não! Vamos encarar assim mesmo.
– Chegamos tarde no camping, tomamos banho e quando fomos cozinhar já eram umas 23h, ninguém mais na cozinha. Não é que molharam a caixa de fósforo e não conseguíamos acender o fogão. Nesta hora, o que fazer? Ahaa! Não contavam com a nossa astúcia! Tínhamos levado uma caixa de fósforo na “sacola do se precisar”, sim temos sacolas temáticas: a dos alimentos, a dos equipamentos de camping, das roupas sujas e entre outras, a “do se precisar”, onde estavam o cabo de bateria para fazer uma chupeta, fósforo, canivete suíço e otras cositas más.
– Este é o nosso quarto camping, o dia foi muito quente. Entramos na barraca e resolvemos molhar as toalhas e colocar sobre o corpo para refrescar. Estava muito quente dentro da barraca. Quando a Grace saiu da barraca para molhar novamente as toalhas, pisou num formigueiro e pensou que eram mosquitos lhe picando, acendeu a lanterna e viu um exército de formigas atacando a sua perna.
– Querido diário, sei que estou muito chato reclamando da barraca, prometo levar um ventilador nas próximas vezes que formos acampar. Quero registrar estas memórias pois sei que algum dia ainda vamos rir muito disto tudo. As noites mal dormidas foram compensadas com as experiências que vivemos e com as belezas que maravilharam nossos olhos. Entre um camping e outro, ficamos alguns dias em Airbnb e na casa de amigos, o que nos proporcionou noites reparadoras do sono.
– Nos campings encontramos pessoas muito legais, fizemos amigos e conhecemos histórias de pessoas que estão há mais de 20 anos viajando pelo Brasil, uns de barraca, outros que improvisaram cama e cozinha em pequenos carros, bem como os dos motorhomes. Os hotéis nos dão conforto, mas é nos campings e pousadas que ouvimos histórias incríveis de jovens mochileiros de diversos países, de casais com criança pequena ou de aposentados que resolveram fugir da rotina e viajar o tempo que for possível. Admiro a coragem de quem sai sem a carga que trouxemos e não tem medo de percorrer o mundo. Penso que, quem está disposto a viver experiências deste tipo, nem o calor da barraca ou os mosquitos os faz voltar para casa. Enfim, muitos aprendizados!