Foi divulgado nesta terça-feira, dia 9, que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos condenou a Suíça por não ter agido adequadamente diante das mudanças climáticas para proteger seus cidadãos, numa decisão que está sendo considerada histórica por ser a primeira deste tipo e possuir o potencial de efeito cascata no mundo. Entre os fatos divulgados nesta notícia, alguns aspectos me chamaram a atenção, que pontuo ao longo do texto desta semana.
Elas foram às ruas
Quem promoveu essa ação foi uma associação de mais de 2 mil mulheres na faixa dos 70 anos. Essas mulheres, num ato coletivo, frente a falta de ação do Estado e o claro prejuízo causado a elas como cidadãs e a toda sociedade diante das mudanças climáticas, tomaram a iniciativa de cuidar do assunto, tomar satisfações, buscar ações reparativas. Esse exemplo quebra paradigmas e preconceitos etários, pois normalmente quando imaginamos senhoras idosas na faixa dos 70 anos, pensamos em pessoas sem energia, sem potência. E, especialmente quando falamos de mulheres, imaginamos elas em casa, cuidando de netos, sem voz e sem consciência cidadã. No entanto, pelas minhas andanças mundo afora, felizmente vejo mais e mais mulheres saindo dessas celas onde fomos postas e nos fazendo cada vez mais protagonistas, sejamos novas ou velhas.
Nada sobre nós sem nós
Analisando o ciclo de vida de uma pessoa, são os bebês e as pessoas idosas as mais atingidas pelos efeitos do calor e, consequentemente, pelas mudanças climáticas que já estão ocorrendo e que irão se agravar. Assim, percebo mais uma vez o protagonismo desse grupo de mulheres idosas ao entrarem com esta ação. Com coragem, cheias de indignação em busca da reparação necessária elas, enfim, venceram! O Tribunal Europeu de Direitos Humanos reconheceu os danos causados pela Suíça aos cidadãos suíços idosos, que tiveram seu estado de saúde agravado por causa das mudanças climáticas e a falta de políticas públicas para sua mitigação que o país precisava ter providenciado, pois seu propósito primeiro é o de cuidar e proteger.
Fico encantada com esse nível de consciência quanto a sua importância no mundo. Esta consciência cidadã que declara: “Eu mereço viver com dignidade. Eu sou porque somos. O Estado precisa nos proteger e providenciar o necessário para isso.” Isso é revolucionário. Adoraria ver grupos de pessoas idosas exigindo os direitos que lhe são negados: trabalho, descanso, saúde, moradia, estudo, cuidado, lazer… Infelizmente, o que enxergo são muitas velhices pelas ruas, sem casa, sem comida, sem dinheiro, sem remédio, sem cuidado e discursos normalizando essas situações.
Eles não ficaram parados
Quem também promoveu ação pedindo reparação para 32 países, porém negada pelo mesmo tribunal, foi um grupo de seis jovens portugueses de 11 a 24 anos. No geral, esperamos que jovens sejam revolucionários, busquem as grandes mudanças na sociedade. Então, nada surpreendente, certo? Porém, num tempo em que ouço tanta gente falar sobre as gerações mais jovens, como a Alfa, e a Z, que abarcam as idades desses jovens que foram à luta nessa ação, penso que é importante pontuar esse fato, pois ainda escuto muitas generalizações discriminatórias com relação as pessoas mais jovens: “jovens são preguiçosos”, “jovens não pensam no futuro”, “jovens são desligados”, “jovens só olham para as telas”, como se pessoas de outras faixas etárias não sofressem dos mesmos comportamentos também.
Além disso é importante observar que serão essas as gerações mais impactadas pelas mudanças climáticas no futuro. Até 2050, estudos apontam que haverá um aumento de 370% nas mortes causadas pelo calor, mesmo ano em que esses jovens se tornarão a grande maioria da população mundial, já envelhescente e envelhecida.
Quem não se comunica se trumbica
É certo que entre uma geração e outra haverá diferenças. Assim, como dentro de uma mesma geração encontraremos subgrupos com diferentes comportamentos. Entretanto, no geral, descobriremos referências comuns entre elas. Mas deixo aqui a reflexão de que o conflito ou choque geracional, assim convencionado por nós, tem por fundo um conflito de comunicação, pois quando achamos entre as gerações interesses, necessidades e semelhanças em comum, seja qual for a distância entre as idades, o diálogo e a compreensão mútua se estabelecem. Porém, há que se estar aberto para abraçar a outra pessoa. Para esta preparação do solo, é preciso deixá-lo fértil e irrigado, e há toda uma capacitação técnica profissional quando se trabalha com grupos, mas também a gente precisa em nível pessoal se preparar como indivíduo. Por exemplo, às vezes é mais fácil a gente se abrir para um desconhecido do que para o avô, o filho, a sogra ou a própria mãe, com quem já temos um passado vivido. Aí, nos “esconder” diante do tal “conflito de gerações” pode ser uma estratégia para não precisarmos enxergar o que está por debaixo do tapete.
Velhas e jovens unidos para adiar o fim do mundo
Gosto dessa imagem. Metaforicamente foi o que aconteceu essa semana no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, já que ambos os grupos que lá estiveram com suas ações postulavam por medidas que reparassem os danos causados pelas mudanças climáticas.
Em 2050, eu quero comemorar meus 83 anos. Minha imaginação me faz criar uma noite ao ar livre com música, amigos e a família reunida, com brisa fresca, estrelas no céu e uma lua cheia. Seria tão bom se pudesse estar povoada de vagalumes. Olho para as crianças na rua e sinto que elas merecem um mundo com essa natureza. Elas, os netos, bisnetos, trinetos e todas as crianças que nascerem nesta Terra.
Essa imagem também me lembra o quanto a Longevidade tem a ver com Ecologia. Usufruir de mais tempo de vida só faz sentido se tivermos um Planeta para gente desfrutar. Afinal, de que adianta você e eu vivermos até os 100 anos se enquanto isso a Terra estiver pegando fogo, inundando, congelando, e a gente correndo risco de morte, sem qualidade de vida?
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Foto da Capa: Greenpeace Suíça | Divulgação