A lei da mente é implacável. O que você pensa, você cria; o que você sente, você atrai; o que você acredita, torna-se realidade. Essa frase, atribuída a Buda, está na caderneta, chamada de passaporte, do 1º Congresso Popular de Educação para Cidadania. O evento foi organizado pelos coletivos POA Inquieta e Ponta Cidadania. Clique AQUI para saber mais. Estive acompanhando tanto encontros preparatórios quanto os três dias de atividades.
Várias questões mereciam ser comentadas sobre esse evento, que, para muitos, foi um ponto de partida para ser um divisor de águas. Mas vou centrar em alguns aspectos que me chamaram muito atenção e que têm a ver com a frase que inicia o texto. Antes de qualquer coisa, o evento só foi possível porque pessoas de carne e osso, e com um baita coração, acreditaram que seria possível fazer acontecer tudo em pouquíssimo tempo. Ou seja, a crença da união faz a força, do relegar a segundo, a terceiro plano, os empecilhos, as pessoas que traziam mais problemas do que soluções, tornou possível esse grande encontro acontecer.
Senti o quanto foi difícil para os participantes das rodas de conversa visualizarem futuros desejáveis. Como deveria ser uma cidade boa para todos? As respostas custaram a sair. Fui mediadora de um grupo e fiz várias provocações, até que as colocações foram surgindo aos poucos. Diferente da primeira pergunta, que começou indagando sobre a realidade que temos. Jorraram reclamações sobre a sujeira, o descaso, especialmente nos bairros periféricos. O pessoal está muito mais acostumado a enxergar o que incomoda e nem um pouco habituado a vislumbrar como tudo poderia ser melhor.
Talvez isso seja uma tendência, uma característica marcante nossa do Rio Grande do Sul. Quem lembra que até uma campanha pelo Sim já foi lançada por esses pagos. Por aqui é muito mais comum a desconfiança, o apontar o erro, o duvidar das intenções do que acreditar que algo pode ser bom. O que está por trás dos interesses em fazer isso ou aquilo? Essas inquietações, típicas de uma terra fronteiriça, que tem anos de disputa e de mistura de tantas culturas, tem atrasado muitos aspectos do nosso estado.
Tanto é que venho obtendo boa parte da energia para superar dificuldades nos últimos anos pela convivência com gente de outros cantos do Brasil. Comunidades virtuais como as da Cuidadoria, onde fiz cursos de facilitação virtual e de liderança evolutiva, a do Espaço de Manifestação Coletiva de Inteligência Apreciativa (Emica) e a do Caleidoscópio são exemplos que evidenciam como podemos nos fortalecer em grupos, mesmo distantes fisicamente. Todas elas são iniciativas de que fez a formação em Fluxonomia 4D (quer saber mais, clica AQUI para ler meu artigo aqui na Sler).
No Congresso, ouvi mulheres que foram mães solo, gente que se vira para sustentar família e ainda assim se preocupa em colaborar com a comunidade. Escutá-las com o coração e a mente abertos serviu para reforçar a importância do fortalecimento de laços de amizade, de cumplicidade para nossa evolução. Se por um lado o avanço tecnológico é evidente na casa de pessoas com bom poder aquisitivo, os valores, a solidariedade, o respeito e a coragem, muitas vezes, parecem ter ficado para trás. Só em conviver com o pessoal das organizações da periferia já se aprende horrores de como eles demonstram cuidado e atenção uns com os outros.
Ao mesmo tempo que temos que aprender, trocar, eles também precisam saber de muitas coisas que são ignoradas pelos governantes e por seus formadores de opinião. Vivemos um momento de crise climática onde as populações mais pobres são as mais impactadas, principalmente mulheres, crianças e idosos. E esse é um assunto onde boa parte das periferias não se ligou ainda, pelo menos aqui em Porto Alegre. Para que todos, de longe e de perto, das zonas urbanas e rurais, acordem para esse problema, precisamos relacionar o que significam os resíduos acumulados com o aumento dos casos de dengue (esse ano foi o primeiro a se ter óbitos em Porto Alegre devido a essa endemia); a ocupação desordenada em Áreas de Preservação Ambiental, como beira de rios e riachos (onde um morador de um bairro próximo ao Morro da Cruz foi levado pelas águas); a diminuição das áreas verdes, da arborização para a qualidade de vida de todos e muitas outras situações que fazem parte do cotidiano.
Outra questão me incomoda bastante, talvez por ser uma característica cultural daqui, dos gaúchos, é o quanto precisamos fortalecer as redes de colaboração. O individualismo, a falta de consideração com quem vive ao nosso lado, que compartilha do mesmo ar, da mesma quadra, bairro ou região necessitam de campanhas, de estímulos para que a coletividade seja valorizada. Sonho para que em um futuro próximo comecemos a caminhar e enxergar que tem gente que consegue fazer do impossível o possível. Dessa forma, acredito que sejamos mais felizes unindo forças para melhorar o que está ao nosso alcance. E tudo começa fechando os olhos. Visualizando futuros desejáveis.