Na disputa por cliques, a função apelativa da linguagem comanda o tom da comunicação no tempo em que vivemos. Função apelativa, como definiu o linguista russo Roman Jakobson lá no finado século vinte, é aquela em que o mais importante numa situação de comunicação é o receptor.
Impressionar, persuadir, comover, engajar o receptor é a tarefa a se realizar. Para tanto, o emprego do modo imperativo, “faça”, venha”, “pense”, “saiba” e outras formulações para trazer quem nos ouve para o nosso lado estão a serviço dessa empreitada.
A conversa sem fim que se instaurou pelas formas de comunicação do mundo em rede trouxe para todos que estão conectados um receptor ou um conjunto de receptores disponíveis para serem impactados por nossas mensagens. Dos grupos de WhatsApp aos perfis em Instagram, Facebook, Twitter, TikTok, canais de YouTube, despertar a atenção tem sido trabalho exercido e aprimorado pelas pessoas a cada dia.
De tal modo que os termos para elogiar ou descrever algo ou alguém têm sido também regidos por esse falar eloquente e afim ao universo da persuasão. “Gigante”, “enorme”, “plena”, “maravilhosa”, “brutal”, além dos “um soco no estômago”, “cirúrgico”, “cravar”, todos são termos e expressões com um quê de exagero e heroísmo num mundo visto sob a ótica da função apelativa.
Essa função que se exercita sempre que se quer convencer os outros a entrarem na nossa e que, no âmbito de profissão ou ofício, é a linguagem de trabalho de publicitários e de políticos, tem se estendido para outras áreas. Por exemplo, as chamadas para matérias jornalísticas na internet têm se valido de técnicas desse tipo.
Termos como “atenção”, “urgente”, “explodiu agora” anunciam matérias. Clicamos e, logo em seguida, percebemos que nem era tão urgente assim. Era só um jargão usado para nos forçar a abrir a notícia que vem recheada de links publicitários, muitas vezes nos impedindo de seguir lendo o próprio texto.
O objetivo secundário parecia ser informar. Antes dele, clicar. Isso alimenta as métricas que vivem também no ambiente da função apelativa, ostentando seus grandes números.
Mas há sim muitas coisas e pautas urgentes. Combater a fome, aumentar as políticas de distribuição de renda, investir em educação, em cultura, desmontar as redes de fake News, combater o racismo, o feminicídio, entre outras. Quem sabe, com esses avanços, poderemos fazer valer todos esses adjetivos que são usados hoje para tudo.