No anuário L’Année Scientifique et Industrielle de 1891, editado em Paris pela livraria Hachette, lê-se que a duração média da vida humana era, na época, de 33 anos. Hoje, cem anos depois, poderemos pensar em viver 130 anos ou mais. E isso, com a crescente velocidade de transformações biotecnológicas e sociais, não levará um século e o progresso dessas condições nos possibilita pensar num futuro de um homem de quase um século e meio de vida com a vitalidade e as potencialidades físicas e intelectuais de um executivo atual.
Diversos estudos, como um publicado na revista Royal Society Open Science, em 2012, sugerem que a idade máxima que o ser humano pode viver é de até 150 anos.
· A ideia de viver até os 150 anos pode parecer coisa de ficção científica, mas estudos indicam que isso pode ser possível ainda neste século. Cientistas analisaram dados de supercentenários e concluíram que, após os 110 anos, as chances de continuar vivo se estabilizam em 50/50 a cada ano. Ou seja, a longevidade extrema pode não ter um limite definido. Claro, fatores como avanços na medicina, estilo de vida e genética desempenham um papel crucial. Os humanos podem viver até 130 ou 150 anos, embora as chances de chegar a essa idade não sejam tão altas, mostra um estudo suíço.
· Os pesquisadores chegaram a tais números após análises de probabilidade com base em dados de supercentenários, indivíduos com 110 anos ou mais, e semi-supercentenários, aqueles com ao menos 105 anos.
O limite de idade que um ser humano pode atingir é uma questão amplamente debatida por especialistas em longevidade. Segundo a equipe da revista, o tempo máximo definido é de 150 anos e há também investigações indicando a impossibilidade de definir um teto de anos vividos. Na análise, foram utilizadas informações médicas de mais de 1.100 supercentenários de 13 países, retiradas de um banco de dados pertencente à iniciativa global de pesquisas da International Longevity Database e de um estudo italiano com todos os viventes no país, entre 2009 e 2015, que tinham 105 anos ou mais.
O estudo mostrou que, embora o risco de morte aumente com a idade, a possibilidade de seguir vivo ou de morrer se iguala em 50%. A partir dos 110 anos, a probabilidade de viver mais um ano se assemelha ao ato de jogar uma moeda para o alto, ilustra, em entrevista à Agência France-Presse, Anthony Davidson, professor de estatística do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne.
Novos medicamentos alentecedores dos processos degenerativos, transplantes de órgãos, vacinas mais variadas, inclusive contra o câncer, antibióticos, cirurgias estéticas e reparadoras e, principalmente, os clones, permitirão que as Janes Fondas, Xuxas, Adrianes Galisteu, Anitas, Giseles Bundschen de cem anos possam esquiar e terem amantes da idade dos namorados de suas netas.
Não obstante, a velhice em geral é acompanhada de uma desorganização da memória que desaparece ou se acumula de forma inoportuna. Se a consciência equivale a uma baixa na entropia por degradação da energia celular, as informações são uma entropia ao contrário. A que se encontra, por exemplo, no código genético da célula, se renova constantemente no sentido de uma organização cada vez mais elaborada, devida à plasticidade neuronal recentemente estudada e descrita (apud Miguel Nicolelis).
As histórias de ficção científica que traçam cenários habitados por seres humanos a salvo da degenerescência física e mental, fazem uso corrente de bancos de memória, plataformas de pesquisa, transplante de cérebros, clones e robôs bióticos.
Os clones em cadeia tornam os indivíduos cada vez mais ricos em informações, pois cada nova duplicação conserva as memórias do clone original. Clones e robôs bióticos poderão ser programados tanto para executar tarefas específicas como também ser programados ou impossibilitados, pela engenharia genética, de rir, chorar, comer e simular afetos com o objetivo de aumentar sua eficiência. A ideia é antiga (Huxley, Orwell, Zamiatin, Karol Capek, entre outros) e envolve riscos (na dependência de quem os maneja e usa), mas agora perfeitamente imaginável e tecnicamente realizável.
Cenário futurista possível:
Um ser humano “autêntico” se apaixona por uma jovem da qual desconhece a origem, não a social ou familiar, mas a biológica – reprodução sexual, clonagem, ou biotecnológica (robôs bióticos).
– Desculpe-me, Rê, mas ainda não sei, desde que nos conhecemos, se teu nome é uma abreviatura de Renata, por exemplo, ou apenas um código de fábrica ou de laboratório. Faço a pergunta, querida, porque nunca te vi comer, chorar ou rir.
A moça – fisicamente perfeita – parecendo recém-saída de uma linha de montagem (ou de clonagem), sorri levemente, abre a bolsa, pega uma maçã e começa a comê-la.
– Isso não me leva a nada, meu bem. A cópia pode ter sido tão bem elaborada ou o mecanismo tão tecnicamente sofisticado – diz o jovem – que até o ato de comer pode ter sido programado para tornar-te mais verossímil.
Rê vira o rosto e, simulando um acesso de tosse, enxuga uma lágrima com o dorso da mão e corre, sem se despedir, para pegar seu aerônibus.
Franklin Cunha é médico e membro da Academia Rio-Grandense de Letras
Todos os textos da Zona Livre estão AQUI.
Foto da Capa: Gerada por IA.