Em agosto de 1973, o Sport Club Internacional (1909) de Porto Alegre realizou a sua primeira excursão no continente europeu, disputando o Torneio Internacional de verão de Atenas, na Grécia, cujo campeão foi o Sporting Club de Portugal (1906). Disputou três partidas. Perdeu na estreia, no dia 9, no Estádio Georgios Karaiskakis, em Pireu, para o clube lisboeta, por dois a zero. No dia 13, perdeu novamente, no mesmo estádio, para o Club Atlético Peñarol (1891), de Montevidéu, Uruguai, por uma a zero, e finalmente, no dia 16, empatou com o Olympiakos (1925), de Atenas, no mesmo local, em um a um (o gol do Inter foi marcado pelo chileno Elias Figueroa).
Na oportunidade surgiu uma história, provavelmente inverídica, de que a delegação do Internacional foi convidada a visitar as ruínas do Partenon, na Acrópole da capital grega. Claudiomiro, um excelente centro avante colorado, teria dito que não iria na visita pois não estava interessado, já conhecia o Partenon … de Porto Alegre. Até hoje isto é repetido às gargalhadas em mesas de bares da capital gaúcha.
Se o Partenon de Atenas (447 a.C. – 438 a. C.), templo pagão dedicado à deusa Atena Partenos, que, segundo Plutarco (46 d. C. – 120 d. C.), foi concebido pelos arquitetos Ictinos e Calícrates (470 a. C. – 420 a. C.), é difundido mundialmente, como o principal dos remanescentes arquitetônicos clássicos da época de Péricles (c. 495/492 a.C. – 429 a.C.), inclusive por Le Corbusier (1887-1965), o Partenon de Porto Alegre é um bairro pouco conhecido, inclusive pelos porto-alegrenses, surgido apenas no século XIX. Aliás, não há termos de comparação. Na verdade, a intenção, nesta introdução, em citá-los, é para provocar a curiosidade do leitor em relação a este último e para mostrar que há algo que ligam os dois sítios.
O autor deste artigo foi provocado há pouco tempo atrás para responder a solicitação de uma jornalista e falar sobre o bairro onde se localiza a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, (PUCRS), instituição na qual leciona. A demanda foi atendida, no entanto, não teve mais notícias sobre a o resultado da entrevista. Isto motivou a escrever sobre o assunto, agora dedicando aos seus alunos.
O Partenon de Porto Alegre
A presença humana no território do município de Porto Alegre é comprovada pelos vestígios arqueológicos que antecedem em séculos à ocupação portuguesa. Foram encontrados especialmente em morros situados nas regiões leste e sul da atual cidade. Estes objetos estão expostos ou guardados nos museus antropológicos e históricos da cidade e do estado. Importante salientar que os antepassados dos quais se fala não se fixaram nestes locais.
A chegada dos portugueses, na primeira metade do século XVIII, marcou a fixação humana no território. O primeiro sesmeiro que se estabeleceu onde hoje é grande parte da cidade de Porto Alegre (terras entre o Rio Gravataí, ao norte, e o Arroio Jacareí, hoje Arroio Dilúvio ou Riacho) foi o madeirense Jerônimo Dorneles Menezes e Vasconcelos (1691-1771), chamado por alguns historiadores de Jerônimo de Ornelas, que em 5 de novembro de 1740 recebeu a carta da Sesmaria, concessão das autoridades lusitanas para tomar posse do local em nome da Coroa Portuguesa. Diz-se que construiu sua casa no atual Morro Santana, aqui chegando em 1732. Jerônimo Dorneles veio dedicar-se à pecuária. A propriedade foi denominada de Sesmaria de Santana. Dorneles a vendeu, em 1762, para o lagunense Inácio Francisco de Melo.
As terras vizinhas, do lado oposto do Jacareí, para o sul, onde hoje é o Bairro Partenon pertenciam ao vizinho Sebastião Francisco Chaves, aqui chegado em 1733, e que obteve a concessão da Sesmaria, em 30 de março de 1736, e a dedicou a São José. A carta de sesmaria encontra-se no Arquivo Público da Bahia, em Salvador. Diz Clóvis Silveira de Oliveira que a sede da fazenda se situava “nas imediações da atual ‘Gruta da Glória’” (Silveira, 1987, p. 37). Informa ele que Sebastião não casou e que doou a fazenda que confrontava ao norte com as terras de Jerônimo Dorneles (cuja divisa natural era o Arroio Jacareí), e ao sul, com a Sesmaria de São Gonçalo, de Dionísio Rodrigues Mendes (limitada pelo Arroio Cavalhada), natural de Vila de Alvora, Comarca de Tomar, em Portugal, ao seu compadre Manoel de Ávila e Souza e herdeiros, sogro de um dos filhos de Dionísio (Idem). Esta sesmaria estava situada entre o Arroio Cavalhada e o Arroio Capivara. Sua sede estava situada onde se formou a Vila de Belém Velho. O mesmo autor diz que o porto desta propriedade recebeu o nome do sesmeiro, motivo pelo qual é até hoje conhecido como “Ponta do Dionísio” (Ibidem, p. 39).
O povoamento que originaria Porto Alegre surgiu posteriormente, sendo a data de fundação o dia 26 de março de 1772, momento no qual o aldeamento foi elevado à Freguesia e desmembrado de Viamão. Se chamou inicialmente de Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais. Recebeu este nome por terem sido assentados sessenta casais de açorianos que aqui chegaram ao Porto de Viamão, em 19 de novembro de 1752, sendo na oportunidade nomeado o capelão carmelita Frei Faustino Antônio de Santo Alberto e Silva para prestar serviços religiosos à esta comunidade. Diversos autores atribuem ao capitão engenheiro lisboeta Alexandre José Montanha (1730-1800) o traçado inicial de Porto Alegre. Na verdade, coube a ele dividir as terras que inicialmente pertenceram a Jerônimo Dorneles, depois vendidas para Inácio Francisco de Melo. Chamavam de “datas” as porções de terra destinadas à agricultura, distribuídas ou doadas pelo governador da Capitania, com 272, 5 hectares. Para assentar os sessenta casais, foram distribuídas “meias datas”, isto é, 135,5 hectares, a partir de 1º de agosto de 1772 (Ibidem, p. 41). Neste dia, no “Título de Data”, foi reservado um terreno localizado na ponta onde ficava o Porto de Viamão, “mais precisamente tomando como centro geométrico o ‘Alto da Praia’ e arredores (hoje Praça Marechal Floriano ou Praça da Matriz), destinado ao traçado das primeiras vias e a construção da Igreja Matriz, Palácio do Governo, Câmara e Real Fazenda” (Ibidem). Depois o local recebeu nova denominação, Freguesia de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, sendo nomeado seu primeiro pároco, José Gomes de Faria. Para deixar claro, o Porto de Viamão era a região que abrange a ponta onde está o centro de Porto Alegre.
Não existe um mapa da época em que a cidade surgiu e que demonstre ter surgido de um projeto deliberado. Há duas reconstituições, uma elaborada por Jaci Antonio Louzada Tupi Caldas (1898-1946), publicada pelo historiador Deoclécio Paranhos Antunes (1902-1962) – que assinava De Paranhos Antunes -, em 1940, em um artigo intitulado “Porto Alegre no século XVIII”, que faz parte dos Anais do III Congresso Sul Riograndense de História e Geografia, volume 3, reproduzida mais recentemente por Francisco Riopardense de Macedo (MACEDO, 1999, p. 65), e outra, posterior (de 1983), elaborada por Clóvis Silveira de Oliveira (OLIVEIRA, op. cit., p. 62). As reconstituições são interpretações dos seus autores, cabendo ao investigador, confirmar a veracidade ou não das informações contidas. Ambas se aproximam por serem coerentes com a topografia do local e com a orientação solar. Neste caso específico, a povoação de Porto Alegre estava restrita ao que hoje é chamado de Centro Histórico da cidade, que ocupou a área definida no “Termo de Data” antes citado, sendo que o Partenon surgiria muito distante dali.
Há documentos que demonstram que, no primeiro quartel do século XIX, Porto Alegre tenha sido representada graficamente. Lamentavelmente não se encontrou estes desenhos. O mapa mais antigo de Porto Alegre que se conhece, data de 1833. Encontra-se no Museo Cívico del Risorgimento, em Bolonha, na Itália. Nele consta a assinatura do italiano bolonhês, Tito Lívio Zambeccari (1802-1862). Publicada em preto e branco pelo historiador Alfredo Varela, na obra “Res Avita” (1935), foi recentemente publicada em cores pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (NEVES & MARTINS, 2005). O mapa é restrito à região central de Porto Alegre e contém erros consideráveis. Liana Bach Martins e Gervásio Rodrigo Neves presumem que o desenho tenha sido feito de “lembrança”, um mapa mental (MARTINS & NEVES, 2006), justificando a gritante distância da realidade.
A segunda planta que se conhece data de 1837. Nela não consta o autor. Foi feita na época da Regência, durante o Período Imperial. Certamente por motivos militares, pois sua elaboração coincide com os primeiros anos da Guerra dos Farrapos (1835-1845). É o primeiro documento gráfico conhecido em que aparece o Campo da Várzea, atual Parque Farroupilha, com a ligação na época denominada de Caminho da Azenha (hoje trecho da Avenida João Pessoa), que saindo do portão contido na trincheira que estava protegendo a povoação (onde está o Viaduto Loureiro da Silva), levava ao moinho d’água (azenha) de Francisco Antônio da Silveira, por este motivo chamado de Chico da Azenha, instalado às margens do Jacareí, produzindo farinha de trigo, e para as direções sul e leste. Sérgio da Costa Franco lembra que, em 1777, o Governador da Capitania José Marcelino de Figueiredo (1735-1814), cujo nome original era Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, coagiu a Câmara Municipal para destinar verba para a construção de uma ponte no local conhecido como “passo de Francisco Antonio”. Günter Weimer afirma que esta primeira ponte, de madeira, foi projetada por Joaquim José Vieira. Uma chuva torrencial a destruiu, sendo construída, de imediato, uma nova, projetada presumivelmente, segundo ele, pelo então Governador da Capitania, engenheiro militar Francisco João Roscio (1733-1805), em 1803 (WEIMER,2019, p. 36). Hoje, no local está a ponte construída em 1935, conhecida como Ponte da Azenha. O mapa vai até o local das pontes citadas, não chegando até o território onde se localiza hoje o bairro Partenon.
Muito parecido com o anterior, e mais detalhado, é o mapa de 1839, elaborado por Luís Pereira Dias, também em plena Guerra dos Farrapos, o terceiro mapa mais antigo, cujas informações batem com a descrição da povoação que havia sido feita quase duas décadas antes por Auguste de Saint-Hilaire, que aqui esteve entre 1820 e 1821, conhecida através da publicação do livro “Viagem ao Rio Grande do Sul” (SAINT-HILAIRE, 2021, p. 45-49). Neste mapa aparece o caminho da Azenha (hoje Avenida João Pessoa), que partia do portão das trincheiras que protegiam Porto Alegre, bordeando o Campo da Várzea (hoje Parque Farroupilha), e que levava até a azenha de Francisco Antônio da Silveira. Não chega até esta, e obviamente ainda não contempla a área do bairro Partenon.
Outros dois mapas importantes para o estudo de Porto Alegre são os de 1844, no qual não consta o autor, e o de 1881, do engenheiro Henrique Breton. Porém estão restritos ao centro.
Depois da Guerra dos Farrapos, foram eliminadas as trincheiras, e cinco vias se expandiram do centro para as povoações vizinhas, iniciando uma configuração radial. A primeira era o Caminho de Belas – hoje Praia de Belas -, que conectava Porto Alegre com Belém Velho, margeava o Guaíba até a Ponta do Estaleiro onde ia ao encontro da atual Avenida Icaraí e, de lá, ia dar no antigo Arraial de Belém Velho.
A segunda via que saía do centro, como já foi visto, era o Caminho da Azenha (hoje Avenida João Pessoa), que pouco adiante da ponte da azenha, sobre o Arroio Dilúvio, tinha ramificações. Sérgio da Costa Franco diz que a vistoria realizada pela Câmara Municipal e suas respectivas resoluções, ocorrida em 5 de agosto de 1844, podem ser consideradas como “a fundação da Azenha como bairro da cidade. Ultrapassando a ponte, os vereadores se defrontaram com a encruzilhada que é hoje a Praça Princesa Isabel, e ali fixaram os alinhamentos que deveriam obedecer a Estrada do Mato Grosso (Avenida Bento Gonçalves), a Estrada de Belém (Avenida Oscar Pereira) e ‘a estrada que vai para a chácara que foi do Tenente General Câmara’, que é a mesma Avenida da Azenha da atualidade.” (FRANCO, op. cit., p. 49). A Estrada do Mato Grosso tornou-se uma das vias que ligavam Porto Alegre e Viamão. A Estrada de Belém Velho, além de levar ao antigo Arraial homônimo, passou a ser acesso da cidade ao seu novo cemitério (da Santa Casa de Misericórdia), para lá transferido, em 1850. A estrada para a chácara do Tenente General Câmara, que hoje é a Avenida da Azenha, passaria, na segunda metade do século XIX a se chamar Rua Caxias, ela e a atual rua José de Alencar.
O terceiro caminho, o do meio, recebeu a denominação óbvia de Caminho do Meio. Bordeava o Campo da Redenção no lado oposto ao anteriormente citado, e seguia até Viamão (hoje são as avenidas Oswaldo Aranha e Protásio Alves).
A quarta via ligava Porto Alegre a Gravataí. Da Praça em frente a Santa Casa de Misericórdia abriu-se a Rua da Independência (atual Avenida Independência), que ia até o local onde hoje é a Praça Júlio de Castilhos, ponto no qual se conectava com a Estrada dos Moinhos de Vento (agora rua 24 de Outubro e Plínio Brasil Milano, seguindo no caminho da atual Avenida Assis Brasil).
A quinta via era a Rua dos Voluntários da Pátria, que levava até o Arraial de Navegantes, surgido ao redor da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. Paralelo a esta via, foi construída a primeira linha ferroviária da Província, a partir de 1874, ligando Porto Alegre a São Leopoldo, e logo em seguida, a Novo Hamburgo.
A cidade se expandiu num crescimento descontínuo, formando cinco arraiais, se for considerado que antes existia o antigo Arraial de Belém Velho. Depois da Guerra dos Farrapos surgiram os arraiais de Navegantes (ao redor da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes), de São Manuel (entre a Estrada dos Moinhos de Vento e a Rua da Floresta – agora Rua Cristóvão Colombo -, que daria origem ao Bairro Moinhos de Vento), de São Miguel (entre o lado sul do Arroio Dilúvio e a Estrada do Mato Grosso, origem do Bairro Santana), Arraial do Partenon e o Arraial do Menino Deus, também organizado em torno de uma igreja, no encontro das ruas 13 de Maio (agora Getúlio Vargas) e Caxias (atual José de Alencar).
A configuração radial e os novos arraiais, incluindo o do Partenon, estão no mapa de 1888, do engenheiro João Cândido Jacques. Junto ao antigo portão da trincheira, surgiu um logradouro novo, a Praça da Independência (atual Praça Argentina). O Campo da Várzea, no mapa de 1881, aparece como Campo do Bom Fim (no lado oposto, tinha sido construída a Capela do Senhor do Bom Fim que deu nome também ao bairro na qual está implantada), e no mapa de 1888, passou a ser chamado Campo da Redenção (para homenagear a Princesa Isabel pela Lei Áurea). No mapa de 1888, no trecho que ladeava o Campo da Redenção, até a Rua da Imperatriz (agora Rua Venâncio Aires), a via aparece arborizada, A determinação de alinhar e arborizar a via para que oferecesse sombra, ocorreu em 1846 (Ibidem, p. 226). A transferência do Cemitério da Santa Casa foi outro fator que contribuiu para que se desse atenção aos logradouros entre o centro a região.
No mapa dá para perceber que o nome da estrada tinha a ver com os matos que cobriam o território ocupado ainda por propriedades rurais, especialmente nas margens do antigo Jacareí, neste momento já chamado de Arroio Dilúvio. Ao longo da Estrada do Mato Grosso, afastado das áreas povoadas foi edificado o “Hospício São Pedro” (1884), como consta no mapa de João Cândido Jacques. Trata-se do Hospital Psiquiátrico São Pedro (foto da capa), que ainda existente, apesar de ter sido ameaçado de demolição.
No ano de 1873, nos terrenos que estavam sendo oferecidos à venda por Fernando dos Santos Pereira, dois foram doados para a Sociedade Partenon Literário, para que a entidade construísse a sua sede no topo de um morro, lembrando pela forma, o Partenon de Atenas. A pedra fundamental chegou a ser solenemente lançada em 9 de novembro de 1873. A falta de recursos inviabilizou a concretização da ideia. Neste local viria a ser construída, em 1876, uma modesta capela em devoção de Santo Antônio de Lisboa, inaugurada em 1881, que não consta no mapa. Percebe-se que à época a única edificação digna de menção, era de fato o manicômio. Em 1899, o Partenon Literário se dissolveu, sendo o terreno doado à Santa Casa de Misericórdia como informa Sergio da Costa Franco (Ibidem, p. 306).
Nas primeiras décadas do século XX, surgiram novas edificações. No ponto de origem do bairro, no topo da colina, foi construída, a partir de 1928, a Igreja da Paróquia de Santo Antônio do Partenon, à Rua Luiz de Camões, número 35, sendo demolida a capela primitiva, que fora ampliada em 1922. A nova igreja foi concebida pelo francês Henri-Victor Denarté. Foi concluída em 1961. Na década de vinte, foi criado o Instituto Champagnat, fundado em maio de 1920, que logo recebeu uma sede para abrigar a Administração Provincial e para formar Irmãos Maristas. Foi a primeira edificação implantada na área do atual campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. A frente dos terrenos se voltava para a Estrada do Mato Grosso, depois Avenida Bento Gonçalves. Isto explica a posição da edificação do Instituto, atual Colégio Champagnat, voltado para o número 4.314 do logradouro e sua implantação no sentido contrário da grande maioria dos prédios da Universidade. O Arroio Dilúvio era o limite dos fundos. Não havia a Avenida Ipiranga, foi aberta posteriormente. O Colégio Champagnat começou a funcionar com a criação do curso ginasial, em 1946, autorizado pelo Ministério da Educação. Abriu suas portas aos estudantes externos, em 1956. A Universidade, cujo embrião nasceu no Colégio de Nossa Senhora do Rosário, na Praça Dom Sebastião, foi criada em 1948. Se mudou para a o campus atual em 1967. Nesta época, o Arroio Dilúvio, depois de sofrer correções de percurso, recebeu em suas margens a Avenida Ipiranga. Isto explica como os lotes antes voltados para a Avenida Bento Gonçalves, passaram a se voltar para a Avenida Ipiranga, que paulatinamente tornou-se preferencial para os novos investimentos. A presença da Universidade reforçou ainda mais a valorização da frontalidade para a Avenida Ipiranga.
Foi a Lei Municipal número 2.022, de 7 de dezembro de 1959, que definiu os limites do Bairro Partenon. Sérgio da Costa Franco o descreve como a zona compreendida nos seguintes limites e logradouros públicos: “Avenida Bento Gonçalves, da esquina da Rua Veador Porto até a Rua Humberto de Campos; por esta até encontrar a Rua Caldre e Fião; por esta até a Rua Marieta e seu prolongamento por uma linha reta e imaginária até a Dom Rua João VI; por esta até o entroncamento com o Arroio Águas Mortas e pelo talvegue deste até a Rua Bernardo Guimarães; por esta até a Rua Mário de Artagão e até a Rua Manoel Vitorino; por esta até a Avenida Coronel Aparício Borges; por esta até a Rua Coronel José Rodrigues Sobral; por esta até a Rua do Outeiro; por esta até a Avenida Bento Gonçalves; pela Bento Gonçalves até a Estrada Cristiano Fischer; por esta até o talvegue do Arroio Dilúvio (Avenida Ipiranga); e pelo talvegue deste curso d’ água até a Rua Veador Porto; por esta, em toda a sua extensão, até a esquina da Avenida Bento Gonçalves” (Idem, p. 305).
Curiosamente, ficou fora do bairro atual o Arraial do Partenon, que lhe deu nome. A área do arraial pertence hoje, oficialmente, ao Bairro de Santo Antônio. Costa Franco lembra que a atual divisão territorial dos bairros não tem muito apoio na tradição nem na toponímia usual.
Aloísio de Magalhães (1927-1982), designer gráfico que dirigiu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), de 1979 a 1982, costumava dizer que a sociedade é a melhor guardiã do seu patrimônio. O professor Júlio Nicolau de Curtis (1929-2015), que dirigiu a representação regional da mesma instituição pública, complementou dizendo que “só se protege o que se ama, mas só se ama o que se conhece”. Este artigo é um pequeno esforço no sentido de despertar o amor pelo patrimônio que desconhecemos. As frases de Magalhães e de Curtis afirmam a necessidade de construir a memória coletiva como forma de se contrapor e de garantir a ideia de cidade para todos, com qualidades urbanas, aos interesses imobiliários que apostam na amnésia social. Que este artigo seja um pequeno gesto para despertar o amor por lugares que grande parte da comunidade desconhece ou ignora.
BIBLIOGRAFIA:
ANTUNES, De Paranhos. Porto Alegre no século XVIII. In: Anais do III Congresso Sul-Riograndense de História e Geografia, volume 3, Porto Alegre: Oficinas Gráficas da Livraria do Globo, 1940.
FRANCO, Sergio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Edigal, 5ª edição, 2018, p. 305-306.
MACEDO, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: origem e crescimento. Porto Alegre: Unidade Editorial / Porto Alegre, 2ª edição, 1999.
MARTINS, Liana Bach. A cartografia histórica de Porto Alegre através de três olhares: 1800-1850. (RS) (Dissertação de Mestrado em Geografia. Orientador Gervásio Rodrigo Neves). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Instituto de Geociências / Programa de Pós-Graduação em Geografia, junho de 2008.
MARTINS, Liana Bach & NEVES, Gervásio Rodrigo. A cartografia histórica de Poto Alegre. Porto Alegre: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, 2005 (cd-rom).
NEVES, Gervásio Rodrigo & MARTINS, Liana Bach. Mapas, plantas e planos de Porto Alegre: a produção das plantas urbanas. In: Anais do XVI Encontro Estadual de Geografia. Porto Alegre: AGB, 2006 (cd-rom).
OLIVEIRA, Clóvis Silveira de. A Fundação de Porto Alegre: dados oficiais. Porto Alegre, Editora Norma, 1987.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1974.
VARELA, Alfredo. Res Avita: Idealismo farrapo; tempos idos e vividos. Lisboa: Mauricio e Monteiro, 1935, p. 32.
WEIMER, Günter. Arquitetura de Porto Alegre: os primórdios. Canoas: Ed. ULBRA, 2019.
Foto da Capa: Reprodução do Youtube