“Existem dois pilares da felicidade revelados (pelo Estudo de Harvard) …Um é o amor. O outro é encontrar uma forma de lidar com a vida sem afastar o amor”. (George Vaillant 1º)
O nosso bem-estar, felicidade e longevidade dependem dos vínculos de boa qualidade que mantemos ao longo da vida. E isso não é um palpite, mas o resultado do mais longo estudo feito a respeito, realizado pela Universidade de Harvard desde 1938.
Mas como manter vínculos de boa qualidade? Para nossa saúde mental, tanto quanto a saúde física, é importante mantermos a saúde social. Para que a nossa saúde social floresça e se mantenha sadia é preciso que a gente utilize mecanismos e ferramentas que nos orientem a respeito do nosso Universo Social. A respeito dele, tratei nas colunas das duas semanas anteriores, que você pode ler “O Universo Social de Cada Um de Nós” (aqui) e “Nenhuma Estrada É Longa em Boa Companhia” (aqui).
Quanto à como se desenvolver no sentido de se tornar uma pessoa que consegue atrair e manter bons vínculos e realizar conexões de qualidade, trarei para cá Adam Grant, estudioso na área de recursos humanos, professor na Wharton School que, em seu livro Dar e Receber, obra que foi indicada como uma das melhores do ano pela Amazon, Apple, The Financial Time e The Wall Street Journal, apresenta estudos seus e de colegas pesquisadores sobre achados da correlação entre sucesso, generosidade e influência. Puxa vida, o que isso tem a ver com bem-estar e felicidade? Siga comigo que você descobrirá!
Adam conta no seu livro que nos seus estudos percebeu que as consequências das escolhas feitas pelas pessoas levam a resultados surpreendentes nas suas vidas, sejam na área pessoal como profissional. Junto com ele, inúmeros outras pesquisas descobriram que as pessoas são muito diferentes em suas preferências por reciprocidade, ou seja, a combinação de quanto desejam tomar para si e quanto desejam doar, o que ele denomina de tomadores (takers) e doadores (givers).
Os Tomadores gostam mais de receber do que dar. Seus interesses próprios estão acima dos demais. Acreditam que o mundo é competitivo. Necessitam ser melhores do que os demais. Não são cruéis nem maldosos, simplesmente são cautelosos e defensivos: “se eu não cuidar de mim, ninguém o fará”.
O oposto do Tomador é o Doador. Fazem a reciprocidade pender na direção dos outros, preferindo dar mais do que recebem. São mais voltados para os outros, dedicando mais atenção do que podem oferecer. Ajudam sem esperar nada em troca. Fora do trabalho normalmente este comportamento é muito comum. A maioria das pessoas age como doadora nos seus relacionamentos mais íntimos.
No entanto pouca gente é puramente tomador ou doador, adotando um terceiro estilo. Tornando-se Compensadores (matchers) ao se empenharem em equilibrar o dar e o receber, operando com o princípio da equidade: ao ajudar os outros também se protegem, buscando reciprocidade. “Toma lá dá cá” ou “isto por aquilo” ou “é dando que recebe” ou “lei da ação e reação”.
Agora, se você fosse opinar sobre qual desses tipos alcança mais sucesso, qual seria a sua resposta? Tomadores, Doadores ou Compensadores?
Foram feitos estudos na área profissional a esse respeito. Verificaram que os três tipos geram vantagens e desvantagens, mas um deles é mais oneroso que os outros dois. Os doadores alcançam os piores resultados. As pesquisas apontaram que em uma ampla variedade de ocupações os doadores melhoram a vida dos outros, mas sacrificam o próprio sucesso.
Mas, então, qual estilo fica no topo do sucesso? Tomadores ou Compensadores? Nenhum dos dois. Os Doadores ficam no topo. Os Tomadores e os Compensadores tendem a se situar no meio do espectro. E esse padrão é generalizado. Durante o curso de medicina, ser Doador se associa a notas 11% mais altas. Em vendas, Doadores tem uma receita média 50% superior à dos Tomadores e Compensadores.
Por que essa diferença? Por que os Doadores “ganharam” dos Tomadores e Compensadores? Esta diferença se encontra na atitude baseada na generosidade. Eles compartilham seu tempo, sua energia, seus conhecimentos, suas habilidades, seus contatos com outras pessoas que podem se beneficiar desses. Elas formam vínculos de boa qualidade, possuem um Universo Social de qualidade. Você já ouviu isso onde?
“Julgue cada dia não pelo que você colhe, mas pelas sementes que você planta” (William Arthur Ward2º)
Nesse sentido, em seu livro, Adam oferece algumas dicas de como incrementar seu “lado” Doador. Trago algumas delas:
- Conheça-se – Teste seu quociente de doação neste site, respondendo em inglês a 15 perguntas por cerca de 15 minutos, e descubra qual é a proporção de cada estilo na sua maneira de agir.
- Anéis de Reciprocidade – Uma atividade sugerida é a de reunir regularmente um grupo de pessoas (amigos, família, colegas de trabalho…) para cada uma compartilhar um pedido, que pode ser desde o desejo de conseguir o emprego na empresa dos sonhos, telhas para a construção da casa até dicas para uma viagem, entre si, e se ajudar mutuamente. Essa ferramenta de networking, onde essas pessoas irão colaborar mutuamente, geram sentimento de pertencimento, comunidade, conexão.
- Favor – O que você pode fazer por alguém? Apresentar uma pessoa que pode ajudar outra? Ligar para alguém que você está sabendo que está enfrentando alguma dificuldade na vida? Oferecer um elogio sincero?
- Escute mais – Não é à toa que temos duas orelhas e uma boca. “Não aprendo nada quando falo, mas aprendo muito quando escuto”. Assim, se torna possível compreender melhor as pessoas e o que se passa ao nosso redor. E também a fazer melhores perguntas.
- Voluntarie-se – Em um estudo americano, adultos que faziam ao menos 100 horas de trabalho voluntário em 1998 tinham maior probabilidade de estar vivos em 2000. Outras pesquisas demonstram que, se uma pessoa inicia o voluntariado dedicando a ele duas horas por semana, percebe-se o aumento de bem-estar e da autoestima cerca de um ano depois.
“Não há tempo para implicâncias, pedido de desculpas, desgostos, acertos de contas, tão breve é a vida. Só há tempo para amar e apenas um instante, por assim dizer, para fazê-lo.” (Mark Twain)
Sabemos que Mark Twain tinha as melhores das intenções, e que no fundo ele tem toda razão, mas no dia a dia e ao longo do tempo, relacionamentos são cheios de imperfeições e ruídos.
Por meio do autoconhecimento, do exercício contínuo e intenção a gente vai se tornando aquela pessoa que consegue criar e manter vínculos fortes e significativos, que possuirá maior bem-estar, felicidade e longevidade. Mas nada disso significa que evitaremos os momentos difíceis da vida, atritos, dificuldades, palavras rudes, conflitos. Eles continuarão a existir. Como agir diante deles? Essa é a conversa que teremos na próxima semana!
…
Quem são os autores das frases utilizados no texto:
1º George Vaillant – psiquiatra americano e professor da Harvard Medical School e diretor de pesquisa do Departamento de Psiquiatria do Brigham and Women’s Hospital
2º William Arthur Ward – escritor e professor americano
3º Mark Twain – escritor e humorista americano
Foto da Capa: Freepik