Último final de semana do janeiro infinito de 2023 e a internet explode entre críticas, apoio e coloca Anitta no trend topics, pois a malandra subiu o morro mais uma vez gravando um clipe onde simula sexo oral, leva Cloé Bahley e vaza cenas de foto em meio a homens negros cheios de óleo (suor?).
O portal Africanizei faz o seguinte post:
“A diva do pop brasileiro não se contenta apenas em praticar o soft porn através das músicas e coreografia, é preciso leva para milhões de pessoas, inclusive fora do Brasil, a imagem hipersexual de homens e mulheres negros. Não vamos confundir o que está sendo dito aqui com moralismo. O tipo de propaganda que a música pop faz com seus clipes é parecido com os cartões postais de antigamente onde as brasileiras seminuas posavam como convite chamativos para a publicidade da Embratur, configurando turismo sexual.
Que o empoderamento feminino tem se confundindo com pornificação já é sabido, mas a exploração de corpos negros para essa prática se torna ainda mais problemática. Pessoas precisam trabalhar e a Anitta faz seu trabalho, os modelos fazem seu trabalho e as dançarinas também, mas todo esse trabalho é alimentado por uma estrutura industrial que lucra muito na confusão do discurso da liberdade feminina com exposição absoluta de corpos a serviços de homens brancos que são os donos da engrenagem. Anitta com a visibilidade que tem, poderia fazer qualquer coisa com a imagem do Brasil, mas ela joga o jogo e reforça o que vende porque no fim o lucro é mais importante que o discurso. Não será a última vez que uma cantora pop vende imagem pornificada para alcançar visualizações. Mas talvez o público possa ser mais crítico antes de consumir closes genitais e coreografias que emulam sexo.”
Ufa… são muitas questões aqui: objetificação de corpos negros, emulação sexual e a palavra pornificação que achei o máximo… e já penso há bastante tempo sobre a conexão da sociedade com uma imagem de sexo pornificada. Poderíamos seguir adiante, mas aí seria uma coluna do Luciano Mutuella que tem toda uma formação em psicanálise para dissecar esta onda que Annita levantou. Deixo como sugestão de tema para o nobre colega kkk
Ou então, eu poderia ir por outra linha de brincar com a pornificação como faz tão bem Antony Jojohn em seus textos aqui na SLER. Que eu não me surpreenderia, pois ele que veria algum ponto de genialidade na subida do morro da menina Anitta.
Mas pensando e repensando sobre este post eu ainda não conseguia localizar o meu incomodo quando vi o post brilhante de @adjunior (recomendo que sigam)
“Estaríamos nós preparados pra essa conversa?
Enquanto o papo for que temos que viver pra sempre na Favela e na Periferia sem uma integração urbana nas cidades…
Enquanto a romantização de um dos últimos resquícios da escravidão, que é o direito q moradia, continuar sendo visto como fashion por setores da sociedade.
Vamos continuar vivendo sem mudanças profundas e sem visão de futuro.
Aos que acham que eu estou inventando, nos anos 30 e 40 os Estados Unidos começaram a discutir o final das shattytowns (favelas)… Sim, eles tinham favelas.
E foi assim que na marcha dos direitos civis, os afro-americanos também tinha como bandeira o final das moradias não integradas às cidades.
Na famosa Marcha de Washington, MLKing também tinha esse sonho, tá?
Enquanto o Brasil não quiser discutir o futuro do urbanismo integrado às cidades, camuflando nossos problemas e não pensando o futuro, continuaremos a viver com pessoas que vão continuar achando que a estética da falta de planejamento urbano, que é uma das consequências direta de um fim da escravidão mal-feita, vai ser pra sempre somente “cool” e “chic”
O problema não é contudo a @anitta fazer esse clipe nesses espaços, ela só reflete a realidade de um país que não está nem aí ou pouco preocupado em reorganizar, e nessa vão da violência a sexualização e várias interpretações equivocadas dos seus moradores.
Há potência na favela e as organizações que trabalham lá estão engajadas por uma vida digna, contudo não há vitória em viver em espaços não planejados pra gente ser feliz! O Brasil do futuro precisa existir sem esse marcador. Eitaaaa
Os moradores das favelas não precisam mudar do local onde vivem, mas a localidade precisam sim mudar, precisamos de escolas bem equipadas, saneamento básico, casas e ruas espacosas, hospitais equipados, árvores, praças e oportunidades!
Não é sobre estética, mas sim sobre a qualidade de vida de um país que não pensa que os pretos e os periféricos, brancos pobre e imigrantes, merecem viver igual a quem vive no bairro verdinho com árvores e com muros na frente!
É sobre isso! Vamos falar sobre esse assunto?”
Este é o ponto? Estamos preparados para encarar a favela e seus moradores de uma maneira que a transformação erradique os signos da escravidão e desumanização?
Se Anitta fez cena de sexo ou está se expondo não é meu ponto. O meu ponto é o quanto este simbolismo de uma favela livre, sem tabus é conivente para continuarmos a ser nós e a favela.
E a mantê-la lá para os negros, para as drogas, para os excluídos como um parquinho de diversão da elite. Assim como eram as senzalas. Lembro que a 1ª coisa que minha mãe fez foi financiar um apartamentozinho na rua Lucas de Oliveira, coração de Petrópolis aqui em POA. Minha avó faleceu e nos mudamos… pois ela não queria nos criar na favela. Favela é cool e chique pra quem não vive nela.