Hoje não sabemos mais qual é o preço de um produto. Na mesma loja, o mesmo produto tem vários preços. Se você perguntar ao vendedor numa loja física, ele dirá que à vista o produto custa tanto, mas poderá fazer em “x” parcelas, o que implica em aumentar significativamente o valor. Agora, se ali mesmo, você pegar o celular e entrar no site da loja, encontrará o produto por um valor bem menor do que o valor à vista. Poderá fazer a compra no site e sair dali com produto. Por que então algumas pessoas ainda pagam mais caro? Porque não sabem disto tudo ou porque não sabem fazer compras pela internet. Por exemplo, a minha mãe, com os seus 92 anos, gostava de ir sozinha ao shopping fazer suas comprinhas e usufruir da sua autonomia, porém, ela não sabia fazer compras pela internet. Enquanto existir pessoas assim, existirá vendas em lojas físicas. Nem vou falar das “Black Friday” da vida, que oferecem produtos pela metade do dobro do preço, colocando apenas alguns produtos com preço realmente abaixo como chamariz e arrastam multidões para suas lojas.
As compras pela internet se sofisticaram, vão muito além da oferta nos sites oficiais das lojas. As grandes redes contratam pessoas para serem “vendedores virtuais”, pessoas que oferecem nas suas redes sociais os produtos daquela rede e ganham percentagens nas vendas. Eu, você ou qualquer pessoa pode se tornar vendedor de qualquer loja e convencer seus amigos a comprar tais produtos ganhando comissão em cada venda.
E os produtos da “China”? Nem tudo que se diz “da China” é chinês. A conhecida Shopee é de Cingapura. Os sites chineses mais conhecidos são: Shein (moda popular), LightIn TheBox (de vestido de noiva a eletrônicos), Banggood (robôs, drones, instrumentos musicais), Deal Extreme (eletrônicos e novidades tecnológicas) entre outros tantos. Este comércio eletrônico entrega produtos no Brasil com frete grátis ou subsidiado. Qualquer pessoa pode pegar o seu celular e fazer uma compra. O mais incrível é que alguns compram estes produtos e montam uma loja física para revender por 30%, 50% ou até 100% do valor pago. Tem quem compre estes produtos e anuncie no Marketplace do Facebook cobrando muito mais caro. E, por incrível que pareça, tem gente que compra e acha bom o preço.
Talvez o fato mais ridículo seja ver influencers, aquelas pessoas que “por acaso” compraram um produto, gostaram e estão te recomendando, elas dão dicas de que em tal loja aquele produto que ela adorou, custava R$900,00 e está na promoção por R$600,00, mas isto só vale para o dia de hoje. Se você tiver curiosidade, pegue a marca e especificação do produto e procure nos sites chineses e vai encontrar o mesmo produto por cerca de R$300,00. Que bela dica esta da amiga influencer!!!!
Historicamente se conhece a “pechincha” nas transações comerciais na cultura dos povos do oriente médio. Pagar o preço que foi solicitado era quase que uma ofensa ao vendedor. Algo semelhante ocorre na cultura chinesa. Eu tive a oportunidade de visitar o Mercado da Seda em Pequim e achei que tinha feito um grande negócio quando, depois de muito pechinchar, consegui baixar o preço de uma camisa Lacoste falsificada de 90 dinheiros para 30 dinheiros. Andei mais um pouco e encontrei a mesma camisa em outra banca por 25 dinheiros. Um colega que estava comigo não quis levar a camisa Lacoste e argumentou que queria uma Tommy Hilfiger. O vendedor disse que poderia resolver o problema na hora, e mostrou que poderia trocar o jacaré pela etiqueta da Tommy Hilfiger. Quem dirá que não é? Eu achava tudo isto engraçado, mas hoje acho triste ver as pessoas pagando o dobro do preço por não saberem que podem comprar direto e se livrar dos atravessadores e amigos influencers.
Comprar é muito mais do que um ato de trocar dinheiro por um produto ou serviço. Trata-se de trocar horas de vida de uma pessoa que trabalhou para comprar um produto/serviço que foi produzido por outras pessoas, mas que em determinadas cadeias produtivas é uma troca injusta, pois quem produziu recebe talvez cerca de 10% do valor do valor pago no ponto de venda. Quem fica com grande parte dos lucros são as grandes marcas e os atravessadores. No caso do mercado popular, são os amigos, os influencers e as lojinhas que importam produtos da China ou que vão no Paraguai ou no comércio popular de São Paulo buscar produtos parar revender. O trabalho do camelô e do atravessador pode ser legal, mas é injusto, tanto com quem produz quanto com quem paga mais caro por não saber que pode encontrar aquele produto em outro canal de venda. Será que em breve teremos uma sociedade mais bem informada e sem atravessadores?