Dei um pulo da cama e imediatamente peguei o celular. O quarto escuro se iluminou com a luz da tela. Meus olhos protestaram. Apertei um pouco as pálpebras e confirmei o que já imaginava. Dormi mais do que devia, e agora? Todos já estavam lá, menos eu. A angústia tomou conta de mim.
Seria FOMO?
A síndrome de FOMO, que vem do inglês “fear of missing out” ou “medo de perder algo”, é descrita como aquela sensação incômoda de estar perdendo alguma coisa, seja uma informação, um evento, uma experiência, não participar de uma conversa, perder um episódio de uma série, não ir a uma festa ou descobrir que todos já conhecem o restaurante novo, menos você.
Tenho os olhos ainda na tela. Levanto correndo, coloco uma roupa e decido ir de qualquer maneira. Chego ao restaurante quinze minutos antes de encerrarem o serviço. Deu tempo. Não era FOMO, era FOME. Imagina perder logo o café da manhã incluído na tarifa do hotel? Jamais! Por isso, peguei tão cedo o celular. Para ver a hora, já que aposentei o relógio de pulso há anos.
Enquanto saboreio meu café fumegante com ovos mexidos e um pão quentinho, sei que o Instagram insiste em jogar na minha timeline todas as listas possíveis dos “dez mais” de Mallorca. As dez praias mais bonitas, os dez melhores restaurantes, os passeios de barco imperdíveis, sunsets, bares, discotecas, etc. Sim, “eles”, os tais algoritmos, sabem que estou na ilha e vão tentar de todas as formas me convencer de que “se não aproveitar A G O R A, estarei perdendo a grande oportunidade da minha vida”.
Impassível, peço um pouco mais de café. Vejo pela janela várias pessoas na fila esperando o ônibus para seguir em uma das excursões de um dia. Viro para o lado e as cadeiras da piscina já estão lotadas. Tanto de um lado como do outro, o celular nas mãos é presença constante. Olho para o televisor e os horários das aulas de Ioga, pilates e condicionamento físico piscam em rosa. Ainda tem um aviso sonoro informando a programação imperdível da noite. Tento abstrair-me de tudo isso. Só quero terminar o meu café e completar o “desayuno” com yogurte e umas frutinhas. Não quero ir para as praias mais procuradas e nem sair correndo para chegar antes de todos na sala de ginástica.
Quero voltar para o quarto e descansar um pouquinho mais antes de decidir o dia. Afinal, quem foi que inventou essa coisa de hora marcada para o café da manhã nas férias?
Sei que de FOMO não sofro, mas desconfio que posso padecer de JOMO.
JOMO, “joy of missing out” seria em tradução livre “o prazer de perder coisas”, um conceito totalmente oposto ao FOMO.
Uma das formas de “contágio” é o “jejum digital”. Já faz algum tempo que tenho me desligado progressivamente das redes sociais e procuro utilizar a Internet de forma mais inteligente.
Você já parou para pensar o tempo que perdemos com um aparelho nas mãos ou sentados na frente de um computador ou televisão? Tempo esse que deixamos de aproveitar para cultivar e manter as relações pessoais, por exemplo. Ou alimentar um hobby, ou aprender algo, ou ler, ou fazer nada, nadinha mesmo.
Porém, JOMO é mais. É também aprender a dizer não sem culpa. Pode ser a festa mais esperada da estação, se não estou com vontade, não vou. O restaurante do momento? Preguiça, vai estar cheio. Aquela série de doze temporadas? Esquece. Reuniões sem fim? Não quero. Obrigação de socializar? Tô fora.
Essa tal JOMO está ganhando espaço por aqui e os sintomas de alegria e alívio por perder algo se manifestam cada vez com mais intensidade. É algo como desconectar para reconectar com o que realmente faz sentido.
Contudo, tenho que confessar que continuarei dormindo com o celular ao lado da cama durante os próximos dias e também vou deixar o “plim” ativo. O do alarme, é claro!
Deus me livre começar o dia sem meu café e meus ovos mexidos, ou fritos, ou cozidos, ou escalfados, ou em forma de omelete.
Coisa boa é café da manhã de hotel!
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