A ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, soube de fonte segura de um esquema de tráfico internacional de crianças da Ilha de Marajó, no Pará, para a Guiana e o Suriname. Depois que cruzavam a fronteira, os brasileirinhos tinham os dentes arrancados e recebiam dieta pastosa para facilitar o sexo oral e anal.
Em 2019, Damares disse, maravilhada, em um evento conservador, que “ninguém tinha lhe oferecido maconha e nenhuma menina havia enfiado um crucifixo na vagina”, demonstrando que, antes do governo do seu Jair, o dia a dia brasileiro era uma mistura de Cheech & Chong e Poltergeist.
Às vésperas de assumir o ministério, Damares contou que tentou se matar tomando veneno em cima de uma goiabeira e só desistiu quando viu Jesus. Não vou duvidar da epifania alheia, mas subir logo em um pé-de-goiaba, que é liso como uma enguia besuntada de KY?
A ex-Ministra já havia revelado que muitos hotéis fazenda no Brasil são usados para “turista ir transar com animais”, então, aquela piscadela que você ganhou da cabrita na entrada da pousada rural, pode não ter sido sua imaginação…
Apesar de ter descoberto tantas coisas inimagináveis, passaram desapercebidas pela pastora Damares 570 crianças yanomamis mortas durante os 04 anos do seu ministério por fome, envenenamento e malária. E não foi por falta de aviso: 21 ofícios reportando a tragédia foram encaminhados, 3 decisões judiciais tratando do assunto foram tomadas.
Acho que faltou nesses ofícios e decisões um enfoque mais enfático do ponto de vista conservador. Ao invés de crianças yanomamis morrem de fome, deveria ter sido algo do tipo: índios fazem surubas satânicas com guaxinins bebês incentivados pelo Foro de São Paulo; ou indiozinhos usavam cocares rosa e indiazinhas azuis; ou que ONGs chinesas ensinavam ideologia de gênero na tribo; ou que os silvícolas utilizavam banheiro unissex. Se as coisas tivessem sido bem expostas, o governo teria agido.
É que um cristão-cidadão-de-bem-patriota não se comove com mimimi da esquerdalha como morte por fome, envenenamento e doença, até porque está ocupado tentando achar a fronteira da Ilha de Marajó com o Suriname e/ou fugindo de crucifixos na vagina.
Afinal de contas, nada disso teria acontecido se aqueles indiozinhos estivessem vendendo artesanato em uma sinaleira, ou seus pais trabalhando de Uber em alguma cidade. Preferiram ficar na mamata da aldeia e agora querem culpar o governo do seu Jair!?! Patifes!!! Comunistas!!!
Como pretender que o governo do seu Jair expulse os garimpeiros das terras yanomamis? O cara sai de casa, vai empreender na casa do caralho, no meio do mato, cercado de índios encardidos, ONGs hostis, e o governo vai ser contra esse trabalhador? Todo mundo achava lindo os pioneiros loiros metendo bala nos peles vermelhas pra conquistar o velho oeste, mas, se é brasileiro, basta colocar um mercuriozinho na água que já salta um comunista pra denunciar envenenamento de índios. É tal complexo de vira-lata que nos condena ao eterno subdesenvolvimento!
Como diria o patriota Paulo Guedes, meritocracia!
Ninguém sabe onde fica Roraima! Mas se tivesse um cassino naquele “onde-o-judas-perdeu-as-botas” os índios que, não estivessem cuidando da limpeza, poderiam empreender como MEI de Uber, flanelinha, garçom; e nem precisa dizer que uma índia bonita sempre pode faturar como acompanhante (e sequer paga imposto. hehehe). Isso sem contar que, acabando a palhaçada de reserva indígena, o governo poderia construir um Minha Casa Minha Vida para esses brasileirinhos morarem num apartamento de 42m2!
No mundo em que transita a ex-Ministra, a crise yanomami é pequena e tem que esperar na fila atrás das crianças traficadas na fronteira da Ilha de Marajó com o Suriname, locais que, a propósito, não fazem fronteira.
“-Ué, mas deixar morrer crianças de fome é defender a família? É cristão?”
Primeiro lugar, a Família deve ser branca, urbana e de preferência com alguma filha solteira pensionista de militar, essa é a essência do povo brasileiro na leitura dos conservadores do seu Jair e, quanto à exigência da branquidão, basta o sentir-se diferente do negro, do índio e do mameluco para que a pele amorenada fique alva. É que a questão não é exatamente a cor da pele, mas o sentido de supremacia que confere ao bolsonarista o direito inalienável de tratar o porteiro e a empregada como merecem ser tratados. Índio anda pelado, vive coletivamente e não vota no seu Jair, ou seja, é praticamente um comunista e, comunistas, querem destruir a família. Por isso, o conservador não mente quando afirma defender a família brasileira, cabe ao intérprete colocar as coisas nos seus devidos lugares.
Nesses dias conturbados, Cristão também não deve ser confundido com alguém que segue os preceitos de Cristo. Há uma guerra e os conservadores bolsonaristas são os cruzados batalhando contra o comunismo que acabará com a religião. Então não lhes negue essa condição quando uma guerreira como a Carla Zambelli persegue um negro desarmado com seus seguranças, patriota bate com o 38 no vidro do carro da frente no semáforo por causa de uma buzinada ou se deixam 570 crianças yanomamis morrer de fome.
Às vezes ser irônico dá vontade de vomitar!
570 crianças mortas!
570 brasileiros mortos!
570 seres humanos mortos!
Canalhas, patifes, ordinários, chorumes, lixos, vagabundos, anticristos, hipócritas, nojentos, asquerosos, biltres.