Li com algum atraso e só porque meu filho Pedro me deu de aniversário. Mas que belo livro é “Como as democracias morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblat (Zahar)!
O que mais achei interessante no livro é a ênfase numa palavra que os autores nem chegam a usar: civilidade.
O eixo do livro está nas normas consuetudinárias. Ou seja, nos costumes, nas tradições, nas limitações que as instituições precisam impor ao avanço de figuras autoritárias e nefastas.
É muito interessante a visão de que são essenciais a tolerância mútua e a tolerância institucional. E o que isso significa? Que adversários devem se respeitar, fundamentalmente.
A tolerância mútua é a aceitação do adversário como um ente que pensa diferente, mas, do jeito dele, quer o melhor; a tolerância institucional é o acatamento às regras.
Sobretudo, os autores valorizam os partidos políticos como instituições que devem frear o avanço de bufões fascistas, sejam eles de direita ou de esquerda. O foco deles é o Donald Trump.
Quais são os sinais de perigo? “1) Rejeição das regras democráticas do jogo (ou compromisso débil com elas); 2) negação da legitimidade dos oponentes políticos; 3) tolerância ou encorajamento à violência; 4) propensão a restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a mídia”.
É natural que, ao ler esses itens, eu pense no presidente que absurdamente administrou o Brasil de 2018 a 2022.
Mas, como os autores dizem ao falar sobre as leis, não basta (sim, os autores dizem que uma Constituição não consegue ser suficiente; regras não escritas precisam ser observadas).
E a isso eu chamo de civilidade.
Quando vejo figuras como Luciana Genro, Fernanda Melchiona, Pedro Ruas, Paulo Pimenta e outros bem menos votados vomitarem seu antissemitismo visceral, penso no item 3 e consolido minha convicção de que a esquerda tem culpa no surgimento de figuras caricaturais e perigosas da extrema direita.
Os caras, cedendo a um discurso mainstream de um “antissionismo” ignorante e negacionista, rejeitam o progressista Estado judeu e defendem facínoras obscurantistas.
Já escrevi (volto a pôr os links no pé da coluna, como sempre) muito sobre o absurdo de ir para a Cidade Baixa justificar um pogrom inacreditável e orgulhosamente crudelíssimo e negar aos judeus o seu direito inalienável ao seu lar ancestral.
Olho: esses levianos defenderam uma “Palestina do rio ao mar” (genocídio implícito nessa frase), com suas frases prontas e vazias, antes de Israel reagir. Logo, não me venham com a desculpa de que choravam a morte de palestinos na guerra.
Todos os que estavam naquela manifestação são cúmplices de quem discursou falando absurdos. Se numa mesa de 12 pessoas há um nazista, os outros 11, se estão ali, são coniventes.
Todos! Rigorosamente todos!
Alguns deles, para minha mais profunda decepção.
Esses irresponsáveis, alguns deles cedendo às bases, estavam endossando uma violência descomunal. Estão 100% no item 3 de Levistky e Ziblatt, sem falar que também podem estar em outros.
Eu realmente quero muito que esses irresponsáveis, em especial as meninas, estejam num eventual califado criado pelos companheiros do Hamas. Serão, numa escala infinitamente maior, como os imbecis (devo confessar que estou entre eles nesse caso) que se surpreenderam ao ver o Guaíba subir num volume que justifica o tão vilipendiado (por nós) Muro da Mauá.
Coisa linda vê-los se virarem no meio das trevas que defendem!
No mesmíssimo instante em que a inconcebível Luciana Genro gritava com as veias saltadas justificando os atos do “grupo de resistência” (sic) Hamas, o Grêmio homenageava o menino Ranani Glazer com um minuto de silêncio na Arena. Só alguém totalmente desprovido de compaixão e empatia não se daria conta de que a mãe do Ranani estava vendo e ouvindo a deputada fantasiada de socialista e humanista justificar os monstruosos assassinos que executaram seu filho numa festa.
Sim, crianças, tem figuras assim na esquerda.
E digo mais: o livro de Levitsky e Ziblat está incompleto.
Se a extrema direita se assanha, ponha na conta dessa turma.
Vejo até esquerdistas que não têm mais como votar nessa esquerda burra, dogmática, sectária e preconceituosa.
Vejo um deles todos os dias quando acordo, no espelho.
…
Poesia numa hora destas?
La vai:
Perguntam por que meu sangue ferveu
E eu respondo que é porque sou judeu
Pergunto, ora, por que o teu sangue ferve?!
E você responde algo que não me serve
Indago então por que não Iêmen ou Síria
Você contesta que não se deu conta, mas faria
Dizem que a direita governa olhando a esquina
E que a esquerda se obceca com a Palestina
Sustento que é muito seletivo esse ativismo
E que desnuda um atávico antissemitismo
Aí, invertendo toda a lógica, é você que se ofende
Eu mostro o óbvio, mas você não entende
Digo que definir antissemitismo é minha fala
E você ignora até esse meu lugar, sua mala!
“Estou só debatendo ideias”, você talvez insista
Indago se você diria isso a um negro diante do racista
Mas talvez meu argumento seja imperceptível
Pois até diante do preconceito o judeu é invisível
O antissemitismo estrutural não tem pudor
E os amigos do Hamas ignoram a nossa dor
Me vem a imagem do Centauro no Jardim
Quando o trauma transgeracional bate em mim
E peço perdão, mas é inescapável dizer algo nessa luta
Tais sedizentes humanistas são muito filhos da puta!
Exasperado, eu já nem me importo
Responderei lhes negando o meu voto
…
Shabat shalom!
…
Confira também os textos:
>> Antissionismo é antissemitismo
>> Os poréns seletivos que constroem narrativas desonestas
>> Compreenda o conflito israelo-palestino
>> Efeitos do antissemitismo estrutural
>> Não é preciso fazer montagem
>> A invisibilidade dos israelenses
>> Só se aperta a mão de quem a estende
>> A maldade independe de ideologia
>> Presidente Lula, enxergue-nos