O mundo tem 22 países árabes e mais de 1,5 bilhão de muçulmanos (islâmicos) espalhados como maioria e de forma hegemônica, impondo suas regras extremamente rígidas, em dezenas de nações na Ásia e na África. Você sabe a diferença, né? Árabe é etnia e islamismo é religião. Abro o texto com essas informações oficiais para em seguida engatar uma pergunta:
Por que tem gente que, em uma das tantas modalidades do antissemitismo, nega o direito da etnia judaica ao seu único, minúsculo e essencial lar, o único onde o judeu não é minoria, onde não é esquisito, onde não é perseguido?
Ou, numa hipocrisia nem sempre proposital (mas às vezes muito capciosa), o cara sugere “magnanimamente” que Israel e os territórios palestinos, naquela terra que antigamente era conhecida a Judeia, sejam um país único pra dois povos.
Que trampa, hein?
Não só por ter avós sobreviventes a pogroms (os paternos, que vieram da Bessarábia) e ao próprio Holocausto (os maternos, que vieram da Polônia), sei do quanto Israel era o maior de todos os sonhos que os judeus tinham e têm na diáspora.
Quando fui correspondente da Folha de S. Paulo na Argentina, numa temporada definitiva da minha formação humana e profissional, entrevistei, pelas minhas contas na época (1997/98), mais de 30 sobreviventes do Holocausto.
Essas pessoas, cheias de dores na alma e lembranças atrozes, eram uníssonas ao festejar: “Hoje temos Israel”, por ser o único lugar onde podiam ficar à vontade para serem quem são, viverem sua cultura, acreditarem na sua fé, terem seus hábitos.
É muito pedir um mínimo de compaixão para entender o que move um judeu, necessariamente sionista (sim, necessariamente, porque no mínimo o cara faz parte de um povo que há 4 mil anos reza voltado para Jerusalém (Sion)?
É muito pedir um mínimo de empatia?
Exercite sua empatia com os judeus como exercita, se é que faz isso (deveria!), com outras minorias. Entenda essa dor e a importância que aquela terra originária do seu povo tem, a terra de onde tiveram de partir e se dispersar numa diáspora cruel.
Logo, fala aqui um ardoroso defensor da criação do 23º país árabe no mundo: a Palestina. Serão 23 países árabes, e somente um país judeu, e a comparação deve ser essa, porque o judeu, assim como o árabe, é uma etnia, e não só uma religião.
Se o paralelo fosse o islamismo, a coisa iria muito longe, porque o islã se espalha por países que vão além do mundo árabe. Na África e na Ásia, onde está Israel, são de uma hegemonia acachapante. Qual o problema de haver o lar judeu?
O problema é o velho antissemitismo, cujas diferentes facetas podem ser vistas pela conhecida frase do pai de Amos Oz. Na Europa da sua infância, o slogan era “judeus, vão pra (região da) Palestina”. Com a recriação de Israel, passou a ser “judeus, saiam da Palestina”. Hoje é… “Palestina do rio ao mar”.
E quem é genocida nessa história?!
Mas não mudemos de assunto. Peço que reflitam muito. Tenho certeza de que as pessoas de boa vontade vão concordar comigo. Israel é uma imposição histórica, geográfica, étnica, religiosa, de direitos humanos e de sobrevivência judaica.
Sempre surge uma nova faceta do antissemitismo. Agora é essa ardilosa defesa de um Estado para dois povos, como se não fosse o apagamento dos judeus em meio a uma maioria absoluta que o rejeita. A história mostra cabalmente: Israel é essencial!
E falam tantos absurdos sobre o sionismo! Ora, sionismo é o movimento de autodeterminação do povo judeu no seu lar ancestral. Qual o problema de haver o Estado judeu ao lado do Estado palestino? Por que não baixam as armas e ambos se reconhecem como os povos originários que são daquela terra?
Peço que leiam com atenção os outros textos que tenho escrito sobre esse assunto, num esperneio para ser compreendido, num apelo para não ser nem ignorado nem apagado. Não há dúvida de que, diante da impressionante resiliência do povo judeu, ao lado da busca de aniquilá-lo fisicamente (meta assumida estatutariamente pelo Hamas exatamente como tinham os nazistas e outros monstros), hoje há diversas estratégias muito sorrateiras de eliminá-lo pelo uso perverso da semântica.
O primeiro texto é “antissionismo é antissemitismo” (ao negar ao sofrido povo judeu o direito à autodeterminação no lar de onde foi expulso e espalhado pelo mundo inóspito). A esmagadora maioria dos judeus vê assim. Logo, é do nosso lugar de fala que gritamos. Por favor, ouçam nosso grito! Mesmo que hoje seja voz corrente odiar judeus, como era na Europa dos anos 1930.
>> Antissionismo é antissemitismo
>> Os poréns seletivos que constroem narrativas desonestas
>> Compreenda o conflito israelo-palestino
>> Efeitos do antissemitismo estrutural
>> Não é preciso fazer montagem
>> A invisibilidade dos israelenses
>> Só se aperta a mão de quem a estende
>> A maldade independe de ideologia
>> Presidente Lula, enxergue-nos
>> A esquerda burra dá vida à extrema direita
>> Mais atenção às palavras
>> A narrativa vazia do “intelectual” antissemita
>> Aviso aos antissemitas: vocês nos fortalecem
…
Seremos salvos da ignorância ambidestra?
Escasseiam-se as alternativas eleitorais no Brasil.
Prolifera o negacionismo, surpreendentemente ambidestro.
Sim! Há ignorâncias e negacionismos por todos os cantos.
Se de um lado havia um líder de extrema direita ignorante, cercado de negacionistas e com uma base prenha de neonazistas, com estúpidos capazes de defender que a Terra é plana, idolatrar a ditadura militar, homenagear torturadores, reduzir a sexualidade ao azul e ao rosa, imitar o Goebbles, rejeitar a importância da vacina e da ciência e se contrapor aos essenciais movimentos afirmativos de minorias vítimas de preconceito, de outro há uma esquerda antissemita e burra, capaz de justificar um grupo fundamentalista islâmico terrorista e expressamente genocida que traz ao mundo, com palavras atuais mas não menos perversas, tudo o que o alto clero católico fazia e na Idade Média contra “hereges” em geral, judeus em particular (sempre nós!), homossexuais, mulheres e outras minorias, só que agora querendo implementar o obscurantismo por meio de um califado tão assassino e expansionista quanto desejava Adolf Hitler com suas teses assustadoras do arianismo, só faltando os símbolos da fogueira (na inquisição) e dos fornos (na solução final nazista) para serem exatamente o mesmo.
Ufa!
Quero políticos generosos, lúcidos, preparados, ponderados, honestos e defensores da vida. Será que é pedir muito?
É isso ou a triste opção do voto nulo.
…
Shabat shalom!