Faz sete anos que eu acompanho de muito perto aquele que pode ser tranquilamente classificado como o evento de maior inclusão da nossa cena cultural. É muito tocante! É demais! É lindo!!!
Já tive o privilégio de ver uma senhora cega, acompanhada do netinho, chorar diante da tela de cinema, porque era a primeira vez na vida que ela tinha essa oportunidade. Esse é o grau de importância do festival. É extremamente emocionante e arrebatador.
Portanto, ponha na sua agenda: 22 de outubro será o dia em que todas as pessoas, independentemente de terem baixa visão, alguma deficiência auditiva ou outras quaisquer limitações, poderão ir ao cinema juntas, em uma atração cultural inclusiva já tradicional na cena de Porto Alegre e com aclamação nacional.
Os filmes, com LIBRAS, audiodescrição e legenda descritiva, podem ser vistos por pessoas com deficiências auditiva, visual, cognitiva e intelectual. As tecnologias são produzidas e apresentadas pelo Som da Luz Estúdios, do meu amigão Sid Schames (por ser muito amigo do Sid, acompanho desde sempre e vibro demais com as altas doses de humanismo desse evento).
Com sete anos de existência e já tendo levado quase 15 mil pessoas ao cinema em cidades gaúchas, catarinenses e de outros Estados, o Festival de Cinema Acessível tem recebido forte reconhecimento nacional, ampliando seu alcance.
“A apresentação em Brasília, no Senado, foi um sucesso. Recebemos a chancela do Senado, além da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e da Unesco. Em São Paulo também se multiplicou. Teremos nova apresentação do festival kids (voltado ao público infantil) no Teatro J Safra, que já está lotado”, diz o Sidão, amigo da vida toda.
Avatar será exibido na Sala Redenção (da UFRGS), na Rua Sarmento Leite, 450, às 15h do dia 22 de outubro, um sábado – e haverá reprise em 26 de outubro, com duas sessões direcionadas a escolas, no mesmo local, uma às 9h e outra às 14h.
É interessante sublinhar que a exibição antecederá o esperado lançamento no Brasil de Avatar 2, a continuação do filme, em 15 de dezembro (Avatar foi considerado o mais lucrativo da história no quesito bilheteria, com arrecadação de incríveis US$ 2,84 bilhões em todo o mundo quando foi lançado).
A ousadia de descrever cenas de alta plasticidade, depois de já ter feito o mesmo com a magia de Harry Potter (houve uma sessão de A Pedra Filosofal, o começo da saga, em maio), é tida como um passo adiante no trabalho inovador do Som da Luz Estúdios. É muito desafiador descrever algumas cenas.
O fato é que o festival é uma oportunidade preciosa e única para quem nunca teve a experiência de ir ao cinema. Para quem não tem limitações auditivas ou visuais, além de eventualmente acompanhar alguém que as tenha, é a chance de viver uma grande experiência, de se colocar no lugar do outro e ter uma vivência extremamente humana, generosa e enriquecedora.
As pessoas com deficiência costumam definir a experiência como “libertadora”. No caso específico da versão “ficção e aventura”, o evento tem forte cunho educativo ao possibilitar que crianças e jovens, público afeito a esses gêneros, convivam com as diferenças e aprendam a exercitar a empatia.
O formato pelo qual as tecnologias são inseridas nos filmes é pioneiro e único: são apresentadas de forma simultânea e sem sobreposição à obra, o que proporciona o convívio entre pessoas com e sem deficiência.
Se você pensa que o festival se direciona a públicos restritos, saiba que as pessoas com algum tipo de deficiência severa são um quarto da população brasileira, conforme o IBGE. É muita gente! Gente silenciosa, até em razão das suas limitações. Em números precisos são 45 milhões de pessoas, ou seja, exatos 23,94% da população brasileira (no Rio Grande do Sul, há aproximadamente 2,5 milhões com deficiência, o que equivale a 23,84% da população – percentual semelhante ao nacional).
É importante, ainda que se saliente o seguinte: nesses números, não estão computados idosos e pessoas com perda auditiva ou de visão causada pelo diabetes.
Os filmes apresentados desde 2015 foram sucessos como O Tempo e o Vento, O Homem que Copiava, Saneamento Básico, Tropa de Elite 1, Dois Filhos de Francisco, Se Eu Fosse Você, Tropa de Elite 2, O Palhaço, Malévola, Meu Malvado Favorito, Universidade Monstros, Divertida Mente, Frozen – Uma Aventura Congelante e Harry Potter.
E é importante que se diga: a entrada do evento é gratuita, o que amplia ainda mais seu caráter inclusivo.
Em cada sessão, são distribuídas vendas antes de se iniciarem os filmes. O objetivo é proporcionar que aqueles que não têm deficiências possam vivenciar a experiência de assistir a um filme do ponto de vista de uma pessoa com deficiência visual.
É uma forma de quebrar barreiras.
O festival tem a já antiga chancela da Unesco e, por meio da Lei de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet), patrocínio de Banco Renner, Bem Promotora e TransUnion.
“Temos a certeza de que contribuiremos para a construção de uma sociedade mais justa de forma natural”, diz o Sidão.
Tenho certeza disso, amigão querido!
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Veja aqui alguns exemplos:
Recorte do filme Malévola com três tecnologias de acessibilidade (audiodescrição, libras e legendas explicativas):
Vídeo Institucional do projeto Festival de Cinema Acessível Kids em formato acessível:
Entrevista no programa Encontro com Fátima Bernardes em 12 de outubro de 2018 (há exatos quatro anos):
Recorte da matéria da TV Assembleia sobre o Festival Kids:
Matéria do Jornal Hoje (Rede Globo) no dia 14/06/2022:
TV RN, afiliada Globo em Natal, no dia 09/08/2022:
Algumas notas esparsas:
O SOM DA LUZ tem como premissa de trabalho a acessibilidade como condição indispensável para possibilitar às pessoas com deficiência o exercício pleno da cidadania e de todos os direitos e liberdades fundamentais, buscando assegurar a essas pessoas o acesso em igualdade de oportunidades.
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Desde 2010, investe no aprimoramento da apresentação das tecnologias de acessibilidade em conteúdo audiovisual, tornando-se referência de qualidade técnica no Brasil.
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O Festival de Cinema Acessível, projeto inovador e pioneiro na América Latina, já chegou ao sétimo ano de sucesso, trazendo obras que contam com audiodescrição, legendas descritivas e língua brasileira de sinais. Esses recursos gerados pelo Som da Luz são apresentados de forma simultânea e aberta e, desde 2016, sem sobreposição à obra original, denominado pelo público frequentador de “Formato Som da Luz.”
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A ação continuada do Festival promove muito mais do que acessibilidade de conteúdo. Oportuniza a convivência de forma equiparada das pessoas com deficiência e sem deficiência, provocando o pensar em inclusão, sociabilidade, praticar a empatia, rever preconceitos e formular novos conceitos num ambiente mágico e lúdico como a sala de cinema.
Uau! É de arrepiar.
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Golaço! Feira do Livro acessível e inclusiva
A acessibilidade, pelo jeito, é uma tendência que veio pra ficar. Uma forma maravilhosa de tirar pessoas da invisibilidade! A 68ª Feira do Livro de Porto Alegre, de 28 de outubro a 15 de novembro, terá mapas táteis, materiais em braile, audiodescrições dos ambientes para facilitar as visitações, LIBRAS e banquetas móveis para pessoas com nanismo (pra viabilizar o acesso às obras nas bancas). Outro querido amigo deste colunista, Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), merece enormes elogios. Max define a garantia de pleno acesso aos livros como “uma missão”. E que lindíssima missão!
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O futuro do país
Estamos em época de eleições, e são eleições atípicas, porque algo muito poderoso e histórico está em jogo: o fascismo e o futuro do país.
Tá muito chato ver o contorcionismo das pessoas pra justificarem seu preconceito, sua dificuldade em aceitar o passeio de domésticas na Disney, o pobre na universidade e o negro na sala de embarque dos aeroportos, essas conquistas espetaculares que rompem privilégios asquerosos (e é isso que incomoda), históricas, que devem ser recuperadas, retomadas e ampliadas. Vamos desconstruir as desculpas esfarrapadas?
1) “Sou contra a corrupção!” Te dou 01, 02, 03 motivos, imóveis comprados com dinheiro vivo e dinheiro de funcionários divididos e apropriados, orçamentos secretos e outros absurdos pra mostrar que teu alvo está errado. Aquele que chamam de “o ladrão”, no máximo, cometeu erros que o equipararam pontualmente aos políticos comuns (o que é ruim). Só que o outro, além de tudo, é muito pior que os políticos comuns.
2) “Pô, o cara recebeu (por motivos comerciais e diplomáticos, que eu rejeito, mas que pautam todas as nações do mundo, inclusive as que eu mais amo por questões étnicas) líder negacionista e obscurantista de outro país.” Pô! Muito pior que RECEBER líder negacionista e obscurantista é SER político negacionista e obscurantista, que, ironicamente, líderes de outros países evitam receber exatamente por isso.
3) “Bah, o cara deu dinheiro pra reconstrução de determinado território onde há grupos terrotistas.” Hmmmm. Ele fez parte de uma força-tarefa com vários outros países pra ajudar esse território. Há conflito ali, há complexidade e questões históricas mal resolvidas. Mas há seres humanos precisando de ajuda. Questionável dar dinheiro q pode parar em mãos erradas? Sim! Mas muito compreensível.
4) “O cara é contra meu lar ancestral, minha referência territorial étnica, o refúgio do meu povo.” Não é verdade… sou desse mesmo povo e confesso que até criei o hábito de consultar o político sobre o assunto antes de votar nele. Sim! Eu faço isso!!! Não voto em quem é contra mim. E asseguro: já conversei algumas vezes com a pessoa em questão (jornalistas têm o privilégio desse tipo de acesso), abordei o assunto e ouvi com todas as letras que ele é a favor da autodeterminação de dois povos (incluído o meu) e entende a importância de dois Estados. Além disso, é fácil achar na internet essa mesma pessoa discursando no parlamento do meu lar ancestral, repetindo tudo isso que ouvi pessoalmente dela e sendo aplaudida de pé pelo plenário lotado.
Se, mesmo depois de ler isso tudo, você continuar dizendo que tem motivos pra optar pela monstruosidade inadmissível, ignorante e má, assuma de vez: o real motivo pra esse desatino é o preconceito e a ojeriza que você nutre a tudo que tenha cheiro de povo.
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Poema ELEitoral
A letra “ele” não tem acento
Mas a poesia transgride
E pede atrevimento
O pronome também não tem
Mas vale brincar
Porque a arte é do bem
Então, fica assim:
Êle, não!
Éle, sim!
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Shabat shalom!