É essencial que o assunto não caia no esquecimento. É essencial que haja memória. É essencial que haja responsabilizações.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) afirmou na sexta-feira passada (dia 14) que o Estado argentino é culpado não só por não ter evitado, como por permitir que siga impune aquele que é considerado o maior atentado terrorista da história do país: o ataque contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em Buenos Aires, há exatos 30 anos.
A decisão foi motivação por petição feita em 1999 pelo grupo Memória Ativa, uma ONG criada pelos parentes das vítimas.
Na verdade, sempre preferi somar o atentado à Embaixada de Israel, em 1992, ao da Amia, apenas dois anos depois. Juntando os dois números tristes e macabros de mortes, são 114 vítimas.
Em 18 de julho de 1994, um carro-bomba colidiu contra o prédio da Amia, deixando 85 mortos e ao menos 300 feridos.
A sentença lida pela presidente da corte, a juíza Nancy Hernández, diz que o Estado argentino “estava ciente de uma situação de risco real e imediato em relação aos locais relacionados à comunidade judaica”, mas não “adotou medidas razoáveis” para prevenir atentados. E continuou: situações anteriores indicavam que a Amia poderia ser um alvo, como um atentado ocorrido dois anos antes, em 1992, contra a embaixada local de Israel que deixou 29 mortos.
“Quase 30 anos após o ataque, ainda não há clareza sobre o que aconteceu, os responsáveis, ou as razões pelas quais o Estado utilizou seu aparato judicial para encobrir e dificultar a investigação”, diz a decisão da CIDH, um tribunal autônomo vinculado à Organização dos Estados Americanos (OEA).
A corte ordenou que, para reparar essa situação, a Argentina remova os obstáculos que mantêm o caso impune até hoje, reabra investigações para julgar os responsáveis individualmente, e estabeleça a verdade sobre o ocorrido.
Muito importante.
Essa impunidade precisa ser removida, para que não se repita.
A corte estabeleceu que, por ter havido “violação ao direito de acesso à informação”, além da leniência na prevenção e nas punições, o governo argentino está obrigado a criar uma espécie de banco de dados com todas as informações existentes.
A decisão também salienta que a inação do Estado argentino provocou “angústia, tristeza e frustração” nos parentes das vítimas e que o acesso à informação é um direito básico.
Sou profundo crítico do atual governo argentino, que é capaz de vibrar com a diminuição do déficit fiscal apesar de a pobreza ter chegado a assustadores 55,5% da população e a indigência a promíscuos 17,5% (conforme a Universidade Católica Argentina), como se um país real, com gente de verdade, fosse um tabuleiro de banco imobiliário. Mas há algo que me agrada: a ex-candidata a presidente e atual ministra da Segurança, Patricia Bullrich, a quem entrevistei presencialmente em 2015, quando ela assumiu o mesmo cargo no governo de Mauricio Macri (de quem é correligionária), sempre se disse uma pessoa atenta a esse caso.
Que seja! E que aja como corresponde.
Oxalá haja essa sensibilidade e as devidas atitudes, para que os eventos referentes aos 30 anos do atentado, daqui a menos de um mês, não sejam palavras ao vento recheadas de hipocrisia.
É importante, pois o grito que se ouve é o “nunca mais”.
E eu o endosso.
…
Shabat shalom!
Foto da Capa: Por Nbelohlavek, CC BY-SA 3.0, Wikipedia
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