A onda avassaladora de antissemitismo, disseminada pelo mundo em geral e muito em especial no Brasil, terá efeitos contrários aos pretendidos em relação aos judeus e a Israel, se é que esses itens podem ser vistos separadamente (não podem).
Quanto a Israel, a cada vez que um leviano fala absurdos e um presidente irresponsável vê genocídio onde está a vítima histórica e atual de genocidas, mais claro fica o quanto o lar judaico recriado em 1948 é essencial para o povo judeu.
Para os judeus, especificamente, a urgência de buscar respostas a perguntas nunca feitas para outras minorias robustece aquela que é a etnia mais resiliente da História. O judeu se vê obrigado a conhecer detalhes da sua história, ritos, valores e condição.
Sempre foi assim!
Os caras nos odeiam, e nós nos unimos.
Judeus e Israel. A separação em dois itens é apenas esquemática, para facilitar a leitura. Mas, na verdade, repito: se confundem numa coisa só, e assim deve ser lido. Ao entender o judaísmo, o cara necessariamente entende o quão necessário é Israel.
O judeu se vê impelido a explicar quem é, interna e externamente. Quando há ondas de antissemitismo como a atual, até judeus laicos desvinculados da sua etnicidade dão meia volta e passam a valorizar suas raízes e sua identidade.
Você já reparou, aliás, que nenhum outro povo e nenhum outro país precisam se explicar tanto e tão frequentemente? Há 4 mil anos (o tempo que esse impressionante grupo étnico religioso existe), o judeu parece precisar pedir licença para existir.
Israel, tão questionado, é um dos países mais legítimos do mundo. Os judeus e os árabes são povos originários daquele pequeno naco de terra. E o judaísmo tem cultura e valores que persistem tenazmente apesar de todas as perseguições.
Ainda assim, mesmo que saibamos que tudo no mundo, no fundo, é convenção (países, fronteiras, raças, times), só o judeu precisa ficar permanentemente se explicando. Mas tem a metade cheia do copo: isso nos dá solidez, nos fortalece.
Mais que fortalecer, o antissemitismo une o povo judeu. Diante da polarização política existente no Brasil desde a década passada, os judeus, grupo étnico extremamente plural, retomaram os abraços e esqueceram as pequenas diferenças.
Sim, pequenas diferenças! O voto político-partidário se torna algo muito miúdo quando há uma situação de risco existencial. A direita aderiu ao fascismo e a esquerda ao antissemitismo? Por mais posicionados que sejamos, aderimos ao judaísmo.
É uma questão de identidade, de raízes, de sobrevivência.
>> Antissionismo é antissemitismo
>> Os poréns seletivos que constroem narrativas desonestas
>> Compreenda o conflito israelo-palestino
>> Efeitos do antissemitismo estrutural
>> Não é preciso fazer montagem
>> A invisibilidade dos israelenses
>> Só se aperta a mão de quem a estende
>> A maldade independe de ideologia
>> Presidente Lula, enxergue-nos
>> A esquerda burra dá vida à extrema direita
>> Mais atenção às palavras
>> A narrativa vazia do “intelectual” antissemita
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Já expliquei por que o termo “genocídio” é distorcido. Leia os links acima. Tem ali o título “mais atenção às palavras”. E agora me vem o governo brasileiro ignorar o pogrom genocida promovido pelo grupo terrorista Hamas e participar de protesto contra o país que foi vítima dessa ação violenta e cruel, a ela reagiu e… absurdamente, é tachado de “genocida”.
Veja bem!
É truísmo dizer que o preconceito é filho da ignorância.
Meu Deus! Como isso está claro.
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Abaixo, recupero pequenos textos que andei escrevendo durante a semana em redes sociais. A maioria deles se origina de diálogos com amigos não judeus, intelectualmente honestos, que buscavam ser esclarecidos. Dedico muito do meu tempo a isso.
Aqui vai:
Precisamos de luzes!
O antissionismo (ser contra a existência de Israel e o direito de defender sua integridade), ao rejeitar o direito à autodeterminação do povo judeu, apaga seus quase 2 mil anos de uma diáspora tragicamente cruel. Ser contra isso é, sim, ser antissemita. Além dessa explicação, devo dizer que tal definição cabe ao lugar de fala judaico. E a esmagadora maioria dos judeus vê assim. Logo, é, sim, antissemitismo. E dizer que o judaísmo é maior que essa questão é o mesmo que dizer que algo muito racista (inclusive no sentido estrutural), apesar de pontual, é restrito, enquanto a questão da luta afro é muito mais ampla. Se um negro diz haver racismo em alguma manifestação, eu acato seu sentimento, respeitando o lugar de fala que ele tem. Espero ter esse tratamento. Sim, eu digo do meu lugar de fala: antissionismo é um tipo de antissemitismo. Espero ter ao menos meu lugar de fala respeitado.
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Israel e a esmagadora maioria dos judeus quer 2 Estados. O Hamas, os outros grupos fundamentalistas e boa parte dos palestinos fanatizados por eles, quer “Palestina do rio (Jordão) ao mar (Mediterrâneo)”. Isso, implicitamente, varre Israel do mapa. E é justamente essa a questão. Meu maior sonho é que se estabeleça de uma vez por todas o Estado Palestino ao lado de Israel, com ambos os países soberanos, seguros e em paz. E te asseguro: mais de 90% dos judeus pensam assim. O Hamas tem nos seus estatutos o objetivo de eliminar Israel e matar os judeus em todos os lugares onde estiverem. Isso está escrito no estatuto dos caras! Em 1947, quando foi feita a partilha, os judeus aceitaram e refundaram seu lar (antiga Canaã, depois reinos de Judá e Israel e depois Judeia) nos limites estabelecidos pela ONU. Era 14/5/1948. Em 15/5/1948, países árabes atacaram Israel por não o aceitarem. E Israel começou ali a criar sua infelizmente necessária força bélica (o nome do exército de Israel é Forças de DEFESA de Israel). Na guerra de 1948, quem ajudou Israel a resistir aos ataques foram a URSS e os demais países socialistas. Era uma defesa justa! A URSS, aliás, foi o primeiro país a dar reconhecimento diplomático a Israel. Enfim, também sou ardoroso defensor do Estado Palestino. Ser “sionista” não elimina isso. São defesas compatíveis. A Golda Meir (que foi embaixadora israelense na URSS entre 1948 e 1949), tinha várias frases incríveis, e uma delas era: “Se Israel baixar as armas, deixará de existir; se os árabes (palestinos e vizinhos) baixarem as asmas, haverá paz.” É exatamente assim. Isso resume tudo.
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O mistério nazista desvendado
Estamos desvendando agora um enorme mistério, que tive toda a vida: como foi possível o nazismo se tornar algo naturalizado na sociedade europeia dos anos 1930? Estamos vendo em tempo real como a coisa vai se criando. E é muito assustador!
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As pessoas não percebem (ou não querem perceber) que esses grupos fundamentalistas islâmicos são o que foram as cruzadas e a Inquisição na idade média. Exatamente o mesmo! E as vítimas também são as mesmas de sempre.
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Quando minorias reclamam de preconceito em algumas situações, às vezes até fico pensando “por que isso é preconceito?”, mas sempre concordo, em respeito ao lugar de fala dessas pessoas, que se sentem ofendidas (serve pra todos os racismos, homofobia, misoginia etc.). Algumas situações são óbvias, outras são muito estruturais, muito tácitas, pouco expostas ou explícitas, que requerem compreensão, e eu sempre me ocupo em compreender. Vou falar de uma eloquentemente explícita, e é do meu lugar de fala: negar o direito dos judeus a sua autodeterminação no seu lar ancestral, no lar em relação ao qual, mesmo na diáspora forçada, jamais perdeu o vínculo. É o que chamam de “antissionismo”. Quando o cara sustenta com raiva que “antissionismo” não é antissemitismo, está cometendo um antissemitismo agravado, porque 1) sente a necessidade da negação (ora, por que tanto empenho em negar, o que é inexistente pra outros grupos étnicos ou minoritários? Não lhes parece estranho esse ativismo seletivo?); 2) invisibiliza a vítima (invisibilizar é apagar, é preconceito clássico); 3) rejeita ao judeu o lar que o acolhe e acolhe sua cultura no único espaço geográfico onde esse povo não é minoria; 4) além de negar o lugar do judeu onde ele é povo originário, nega até seu lugar… de fala!
Cara, se tu é “antissionista”, tu não é só antissemita. Tu é antissemita pra caralho!!!!
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Nagorno Karabaj livre!!!
Adorei uma moda que anda por aí e resolvi aderir a ela. Você sabe do genocídio armênio perpetrado pela Turquia? Você sabe que o Azerbaijão, de etnia turca, já matou 40 mil armênios que viviam em Nagorno Karabaj? Hmmm. Pouco se fala nisso, que estranho! Veja: não é uma reação do Arzebaijão, os armênios não fizeram um pogrom com degolas, estupros e sequestros contra arzebaijanos, eles não são maus. Só querem viver no seu pedaço de terra. Nem cogitam varrer do mapa o Azerbaijão, querem que ele exista ao seu lado numa boa.
Já o Azerbaijão quer, sim, eliminar os armênios daquele lugar, e isso é genocídio. Aliás, os armênios já foram embora do seu lar. Foram pra Armênia, você sabia? Faz poucos meses. Ge-no-cí-dio! Muito diferente de Israel, que aceita o Estado Palestino ao seu lado, desde que os árabes também o aceitem, reconheçam e baixem as armas, vivendo, ambos, lado a lado e em paz. Ah, e repito: esse apagamento dos armênios pelo Azerbaijão não é consequência de algum ataque cruel e devastador que eles tenham feito. Nesse caso, tão desconhecido (por que será?), vale desfraldar a bandeira do Nagorno Karabaj. Acho que vou pra Cidade Baixa empunhando as bandeiras de Israel e do enclave armênio que o Azerbaijão está apagando (como o Hamas quer apagar os judeus, o que configura, aí sim, genocídio). Ah, uma curiosidade: o Azerbaijão assinou com outros países de governos antissemitas um pedido pra Israel ser considerado “genocida”. A Armênia, claro, não assinou essa porcaria.
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Shabat shalom!
Foto da Capa: Agência Brasil