Senhores e senhoras patriotas, venho por meio desta missiva tentar pôr alguma noção no seu debilitado cérebro. Não serei irônico como aquela mulher que andou dizendo que os ETs que andam por aí poriam a alma do palmito no corpo do Presidente Lula. Vocês sacaram que aquilo era piada, né? Se não sacaram, putz, melhor assim, continuem acreditando nisso. Quem sou eu pra estragar a brincadeira?! Nem vou fazer poemas, trocadilhos e insights aos quais recorro como forma de expressão e alívio (pra vomitar já não se diz “chamar o Hugo”, agora se diz “vou ler o Guzzo”… ops! Esse é dos teus, né?).
Enfim, não quero ironizar e até peço que esqueçam que represento aquilo que vocês, muito grosso modo, chamam de “bolchevismo judaico”, com as, segundo vocês, “antinaturais” tentativas de se opor à supremacia racial, à desigualdade social que leva à miséria, a estrelas nas portas das casas de adversários e a marchas que pedem quarteladas. Sim, sou o típico representante do chamado “bolchevismo judaico”, também conhecido como “turma do mimimi”, por defender valores sagrados de democracia, respeito às diferenças, solidariedade e outras “pavadas”, como certamente diria o Mauricio Macri, aquele que andou elogiando a “raça superior” da seleção alemã.
Esqueçam esses meus doces vícios de origem, minha ojeriza aos espantosos e diários horrores que andamos vendo em reprises dos anos 1930, e me deem 10 minutinhos do seu tempo de manifestante pró-fascismo. Ops, vocês não se importam que eu diga as palavras exatas, né? Sou jornalista… sei que vocês são contra nós e os juristas, além dos artistas e dos cientistas. Mas esqueçam essas listas… ah, eu prometi que evitaria rima de padaria… ops! Enfim, ressalvando que sou toda essa degeneração moral que tanto o ameaça na sua cabeça reaça. “Cala a boca, mimizento metido a poeta, porra!!!” (isso é o meu próprio superego pondo ordem aqui dentro desta mente degenerada).
Tchê, eu jurei que evitaria ser irônico… mas vou começar por aí, pela minha suposta degeneração geral. Outro dia, eu tentava mostrar a um dos seus que eu e os meus nem somos tão ameaçadores assim. Nem vou lembrar que o Presidente Lula já governou oito anos sem confiscar seu chevette nem invadir seu quitinete (“para com essas rimas, porra!!!” “perdão, superego, é maior que eu…”). Enfim, tive o seguinte e revelador diálogo com um dos seus (juro que é verídico!):
– Às vezes, sou mais conservador que você e posso provar isso.
– Só faltava essa. Duvido! Prove, então!
– Sou a favor do casamento homoafetivo, de que esses casais tenham o direito de adotar crianças vulneráveis…
– Sim, conheço essa ladainha. Mas isso é antinatural. Por que isso mostra que você é conservador?
– Ora, porque sou tão defensor da família, que a quero ampla e forte.
– Puxa, faz sentido.
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Eu até diria que sou mais patriota que você, patriota! Mexeu com meus mais primitivos sentimentos nacionalistas ver o Presidente Lula devolver a nossa condição de “player” no palco diplomático mundial, em especial “no tocante” (argh!) à “cuestão” (argh!!!) do meio ambiente.
Mas aí acho que você vai me mandar pra Venezuela…
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Aliás, falando em Venezuela, sabem como o troglodita Nicolás Maduro chama seus apoiadores? “Patriotas”! Sim, preciso dizer, como profundo conhecedor da Venezuela chavista, que vocês são iguais a eles.
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Volto ao início do meu texto pra mostrar como fui sincero, respeitoso e verdadeiro. Evitei usar “prezados patriotas, “queridos patriotas” ou, muito menos, “amigos patriotas”. Seria falso! “Senhores” e “senhoras” ficou de bom tamanho. Eu os desprezo e os quero… longe de mim!
(“porra, estragou tudo!” “perdão, é maior que eu…”)
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Mas não resisto!
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O problema dos patriotas
É que, sendo a Terra plana,
É mentira que ela dá voltas
Então ele se ressente
Ao pensar que o palmito
Já nem é presidente
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Fiquei especialmente brabo com vocês na terça-feira, patriotas. Tentei ir à Feira do Livro e vivi o momento tristemente histórico em que os fascistas sufocavam com sua ignorância o nosso maior evento literário. Não me dei conta de que, no dia da República (15/11), essas figuras repulsivas estariam diante do quartel pedindo o inadmissível. Não pude estacionar! Entrei num redemoinho de carros e vi loira de farmácia enfiando camiseta na pobre filhinha, senhor de idade me batendo continência ao atravessar a rua em frente ao carro, orangotangos, hienas e víboras. O consolo é que vivi presencialmente a história, mesmo que ela tenha “h” minúsculo. Jornalisticamente (nunca deixo de ser repórter), achei interessante. E me assustei muito.
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Mas, voltando ao nosso papo reto (sei que falar em “reto” leva vocês a pensarem ANALogicamente), os problemas dos fachas (ops!) com o STF e a imprensa são: 1) foram essas duas instituições que deram o derradeiro suporte à democracia e à civilização no Brasil, que estava na iminência de uma derrocada duradoura; 2) caso o “Você sabe quem” vencesse, o STF teria indicações terrivelmente obscurantistas e seria ampliado pra amplificar esse obscurantismo, vindo a seguir a detonação do jornalismo profissional em nome da desinformação desvairada.
Percebam: na linha de frente da resistência estiveram o impressionantemente firme Alexandre Moraes, indicado ao STF por Michel Temer (sim, crianças! Isso mesmo!); e veículos como Globo e Folha, tradicionais representantes da mídia. Qualquer pessoa lúcida e com boa memória sabe que esses personagens jamais poderiam ser chamados de “petistas”.
Vi numa rede social alguém avisando aos “patriotas” que a Copa do Mundo servirá pra distrair e facilitar a penetração comunista. Ei, Xandão, avisa esses lunáticos que a Copa do Mundo ocorrerá ainda sob o governo fascista palmitista.
Moral da história: além do Xandão, da Folha, da Globo, do Papa e dos EUA, a FIFA e o atual governo de inspiração e desejos fascistas também são “comunas”. Tchê, contenham o delírio!
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Juro que, apesar de algumas incontidas ironias e profundas revoltas, este texto é um apelo à razão. Chega!!! E bola pra frente, porque a chapa tá quente, a situação é premente e é Copa na mente, até porque a urna não mente e não há quem aguente.
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A frase do Samuel Johnson é de dois séculos e meio atrás: “O patriotismo é o último refúgio do canalha.” Foi ele quem falou!
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Shabat shalom!