A tragédia gaúcha avassaladora e exasperante que vivemos neste momento, como mostrei detalhadamente na coluna anterior, escancara as faces dos heróis e, também, as dos sem-noção. Nesta coluna, quero enfatizar pontualmente as dos oportunistas, que já estavam contemplados, no texto anterior, entre os sem-noção. Mas eles merecem ser lembrados de forma especial. Muito em especial, então, falo agora dos antissemitas.
Uma notória antissemita travestida de esquerdista e humanista, com cargo eletivo em vigor, conseguiu ampliar a minha angústia.
Em seguida a ela veio o mais saliente dos capitães do mato judeus, um verme que adora servir de álibi aos antissemitas que tentam lavar as mãos usando artifícios como o mais manjado quando falamos em preconceitos: o do “até tenho amigos…”
Ressalva sempre necessária aos desavisados: sionismo é só o movimento de autodeterminação do povo judeu no seu lar ancestral. Ser contra o sionismo (a existência de Israel e seu direito de autodefesa) é apagar a sofrida diáspora judaica e a evidente necessidade de os judeus terem seu lugar no mundo.
Primeiro, vamos à lamentável personagem política, aquela figura bizarra a que me referi acima. Em meio ao sofrimento por que todos estamos passando, ela fez um post mostrando como os árabes palestinos são queridos ao fazer uma ação muito localizada para ajudar os flagelados com as enchentes.
Tudo ok, se formos ver o fato isoladamente, descontextualizado. Maravilha! Eu também elogio essa ação ocorrida numa região da fronteira. Mas a figura patética essa, justificadora de terroristas genocidas e aliada dos iatolás obscurantistas, conseguiu a proeza de juntar o drama gaúcho com a reação militar israelense em Gaza. A mulher entra no rol dos sem-noção oportunistas.
E a manifestação da contumaz leviana e irresponsável fez questão de ignorar a enormidade que a numericamente pequena comunidade judaica gaúcha tem feito em termos de mobilização para ajudar o próximo (aliás, menos pessoas, menos votos).
Não apenas a Federação Israelita e outras várias entidades abriram diversas formas de ajuda incessante aos flagelados. Grupos de WhatsApp surgiram ao natural. Um deles, com o nome de “iehudim unidos nas enchentes” (“iehudim” é judeus em hebraico), troca mensagens freneticamente com informações sobre onde é possível ajudar, com doações, locomoções (quem tem carro o disponibiliza) ou a prática do voluntariado.
Em vários lugares onde se fazem triagens de doações, recreações e outras iniciativas, estão lá, anônimos, jovens dos movimentos juvenis sionistas estendendo a mão como corresponde.
Repito: tudo silenciosamente, sem alarde, até porque é assim que tem de ser. A ética judaica valoriza o perfil baixo.
No caso desse grupo (do qual faço parte e no qual me informo permanentemente), em poucos dias depois de sua criação, já eram quase 300 pessoas participando, todos judeus.
E essa leviana omite isso, enaltecendo oportunistamente apenas um grupo de palestinos numa ação isolada e misturando assuntos, tentando fazer propaganda de quem representa delirantemente sem ter a menor ideia do que está fazendo. Essa senhora desprezível estava gritando o slogan genocida “Palestina do rio ao mar” já lá em outubro, ainda antes de Israel reagir ao devastador pogrom que resultou em execuções com requintes de crueldade e sequestros. Ou seja, ela é um dos antissemitas que não pode se desculpar dizendo que o foco é contra a ação militar israelense, que nem tinha se iniciado.
Capitalizou a tragédia gaúcha para endossar o Hamas!
E então veio o capitão do mato.
A figura desprezível, que conhece a comunidade judaica e sabe que a ação de estender a mão lhe é um princípio literalmente sagrado (“tsedaká” é o nome), fez um “alerta” muito canalha, dizendo que os “sionistas” apenas tentam mostrar empatia com o povo gaúcho e avisando que esse gesto seria falso.
Obs: essa pessoa má, de quebra, nem gaúcho é.
O “alerta” do capitão do mato, do pusilânime, do judeu amado pelos antissemitas por odiar seu próprio povo, mostra quão desonesto ele é. Ele sabe muito bem que desses grupos sionistas aos quais se refere saíram inclusive grandes quadros da esquerda brasileira (um deles é o atual líder do governo no Senado, o Jaques Wagner) e sabe o que é “tsedaká” (palavra em hebraica que significa algo como “fazer justiça”). Sabe muito bem que os judeus sempre se uniram para ajudar os necessitados, que há instituições famosas por atuar dessa forma. Ele sabe!
Por esse conjunto de horrores (a tragédia da chuva e os antissemitas oportunistas), minha angústia nos últimos dias subiu a níveis insuportáveis. Na madrugada de sábado para domingo, acordei no meio da noite e fui para a janela da minha casa chorar, vendo a chuvarada que não dava trégua.
Que sofrimento! Que angústia!
Para piorar a situação, o Lula da Silva está conseguindo a proeza de pôr no Estado um emissário que é o pior entre todos os quadros petistas, um cara detestado pelos mais lúcidos até dentro do partido, um racista antissemita, uma figura sinistra, com o evidente propósito de faturar eleitoralmente. Que leviandade, presidente! Que oportunismo rasteiro! Quer nos enfiar essa figura pra governar o Estado?! Se a receita do oportunismo já era péssima, apimentada fica indigerível.
E não tem ponderações possíveis. Não tem “prós e contras” pro cara. Só tem “prós”. Quem conhece política, não é ingênuo e está descontaminado de eventuais amizades e favores sabe que a visibilidade é tudo o que os caras querem. Se por acaso as ajudas não forem suficientes, sempre haverá uma desculpa, a transferência de responsabilidades e a capitalização do fato.
Que feio, presidente!
…
E me vem aquela cena épica, linda, emocionante, inesquecível, de Blade Runner, quando o personagem do Rutger Hauer, em meio ao premonitório aguaceiro incessante que ocorre durante toda a obra, fala da lágrima escorrida que se perde na chuva.
Triste. Triste e angustiante.
Perdão, mas que mundo de merda!
Shabat shalom!
Foto da Capa: Freepik AI-Generated
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