Na redação de Zero Hora, a gente tinha comportamento de quinta série. Era a única forma pra levar na boa a quantidade de reportagens sisudas que tínhamos pela frente. Poucas vezes fui repórter de Geral (um pouco em ZH e, claro, naturalmente, 11 anos na Folha de S. Paulo, onde cobria de tudo, em Porto Alegre e por um inesquecível período em Buenos Aires). Mas o fato é que ríamos muito, e os integrantes daquele time são queridos amigos. Aí tocava o telefone, e o Carlos Wagner atendia. Se o colega não estivesse em seu assento de costume, ele respondia: “Ele não está, está na patente”. O Humberto Trezzi, diante de brincadeiras muito incorretas politicamente, tinha uma tirada maravilhosa. Dizia que era “à moda antiga”. Tinha outro que, diante de uma beldade se aproximando, sacudia a cabeça em reprovação ao momento de distração e dizia “lá vem o satanás”. Coisas assim (é evidente que não revelo nem na solitária ou em pau de arara o nome desse colega).
Enfim, era uma delícia conviver com essa turma, e até evito fazer listas pra não me omitir.
E tinha aqueles de humor fino e baixo perfil.
Um deles, e não menos brilhante, era o querido amigo José Luís Costa, um humilde acumulador de duas dezenas de prêmios, como o Latino-Americano do Instituto Prensa y Sociedad (do Peru), Esso Regional Sul, Esso de Jornalismo, Dom Helder Câmara, Estácio e, claro, o da ARI (Associação Riograndense de Imprensa).
Uma espécie de grito de guerra da nossa turma de alma progressista e modos caricaturalmente trogloditas era, diante de algum comportamento destemido, tipo estar de camiseta sob temperatura de zero grau, falarmos, intercaladamente, a palavra “homi” (homem, no jargão grosseiro). Aí vinha o sujeito de camisetinha no rigor do inverno, e a turma começava, como se fossem vários telefones soando:
-Homi!
-Homi!
-Homi!
-Homi!
-Homi!
-Homi!
Nem as gurias, como a Adriana Irion, escapavam.
Nem um gentleman, como o Renatinho Dornelles, escapava.
Nem um lorde, como o Marcelo Gonzatto ou o Nilson Mariano, escapava.
Nem um queridão mais jovem, como o Carlos Rollsing, escapava.
Nem eu, lá na editoria de Mundo, escapava.
-Homi!
E era delicioso.
Pois agora o Zé nos presenteia com o delicioso livro “Homão – Yustrich, o primeiro técnico-estrela, na gênese do futebol que mobiliza amor e ódio no Brasil de hoje”, uma obra que, mesmo quem não curte futebol, lê de uma sentada e aos risos.
Eu vi o título e perguntei pro Zé: “É por causa do grito Homi?”, afinal, o Yustrich, entrando na redação de Zero Hora, certamente seria recebido com “Homi! Homi! Homi!”
Só que não.
O livro explica:
“Confusões à parte, Yustrich iniciava a carreira como técnico campeão estadual de 1948 já no primeiro ano na nova profissão. Ganhou mais um apelido, Homão, por ser um gigante, gritão e mandão. Mas, principalmente, por ter sido o grande comandante do América-MG na conquista, o que não ocorria havia duas décadas.”
Em 1974, como acrescentaria o livro mais adiante, ele chegou a ter uma churrascaria muito concorrida em BH com o nome de “Churrascaria do Homão”.
Yustrich era um Felipão misturado com Telê Santana ao cubo.
Excelente treinador, disciplinador, centralizador e carinhoso com os comandados.
E, na intimidade, não era muito diferente.
O livro tem passagens hilárias. Zé conta que, no recôndito do lar, com a esposa (a companheira oficial), Yustrich tinha o apodo de Zé Ticão.
Precisa explicar?
Homi!
Yustrich treinou América-MG, Atlético-MG, Villa Nova-MG, América-RJ, Uberaba-MG, Vasco da Gama, Cruzeiro-MG, Coritiba, entre outros times, incluindo o do Flamengo, o clube do seu coração de “homi” dado a paixões. Ah, e o Porto, de Portugal, onde foi um acumulador de títulos históricos e, por isso, é ídolo.
Um Valdick Soriano do futebol.
Depois de viver a sua carreira como goleiro no Rio de Janeiro, para onde foi ainda bebezinho da sua Corumbá (antes MT, hoje MS) natal, Dorival Knipel (esse o nome de batismo do Homão), o Yustrich, se tornou treinador em Belo Horizonte, cidade para onde se mudou por buscar melhor qualidade de vida e onde chegou a ter oficina e loja de carros.
Nascido em 1917 (morreu em 1990), seu último time foi o Vasco, algo inusual na vida do flamenguista que chegou a recusar contratos pra ficar na Gávea.
No América-MG, na quebrada entre as décadas de 1940 e 1950, tempos de redemocratização depois do Estado Novo getulista, o mundo era bem outro.
Veja só. Yustrich substituiu o argentino Hector Papetti, que também era volante do time e, quando anunciava a relação de titulares pro “match”, em vez de citar o próprio nome, tinha um mínimo de compostura e dizia “! Yo!… que entrené bien…”
Genial!
Mas nos foquemos no Yustrich, porque ele, como protagonista, é colecionador de muitas histórias bizarras e fascinantes contadas no livro do Zé.
Importante contar a origem do apelido Yustrich para o Dorival. Por semelhanças na vestimenta e no porte físico com o goleiro argentino Juan Elías Yustrich, do Boca Jrs (confesso que eu sempre achei que Yustrich fosse estrangeiro).
Um trecho pra você saborear:
“Habitué no clube (América-MG, onde batia bola com outros ex-jogadores), Yustrich foi convidado pelo presidente Alair a assumir o time. A proposta era de ficar somente uns meses, um quebra-galho. Ele estava de bem com a vida, em um momento especialíssimo. No final daquele ano, nasceu Ana Lúcia, a primeira e única filha, a maior de todas as suas paixões. Pai coruja, o cuidado com a criança era tão grande que, nos dias frios, ele usava uma técnica especial para dar mais conforto ao bebê.
– Ele mandava esquentar água em garrafas e colocar sobre a cama para ela dormir com o colchão e o lençol quentinhos – recorda a psicóloga Branda Knippel, única filha de Ana Lúcia, única neta de Yustrich.
O ex-goleiro não desejava se envolver mais com o futebol, mas aceitou o desafio de dirigir o América-MG. De imediato, apresentou seu plano de trabalho, impondo regime ditatorial, que repetiria na maioria dos clubes dirigidos por ele em cinco décadas. Além de técnico, era o preparador físico, treinador de goleiros, considerado pioneiro nesta área, supervisor do alojamento, mestre-cuca do refeitório e palpiteiro no departamento médico.”
Veja bem. A isso chamamos um temperamento centralizador.
“A primeira providência foi revolucionar a acanhada concentração. Jogadores dormiam sob as arquibancadas em condições precárias. Yustrich desmontou camas, recolheu colchões, material de treino, redes e bolas usadas e fez uma fogueira. A diretoria precisou comprar tudo novo. (…) Os treinos passaram a ser diários, começando sempre às 7h. Mas, antes, o desjejum tinha de ser no clube. Yustrich mandava comprar frutas, sucos, leite, ovos e outros ingredientes para um café bem reforçado, acompanhado de cremes e mingau. (…) A tática do treinador fora de campo forçava os jogadores a dormir cedo, inviabilizando festas noturnas, e os deixava bem alimentados para suportar a carga pesada de treinamento que avançava até a hora do almoço. Os atletas ainda tinham de seguir disciplina rígida na vida privada e social, sobretudo dentro do clube. Era terminantemente proibido o fumo, a bebida alcoólica, usar cabelo comprido, barba, brinco na orelha, vestes coloridas e apertadas. Até bolsa a tiracolo foi vetada. Na concentração, só podiam jogar cartas com autorização de Yustrich e sem apostar dinheiro. Durante as folgas, o treinador contava com um time de X-9 para vigiar os jogadores que frequentavam bares e boates. Ele conhecia a maioria dos seguranças, porteiros e garçons. Apreciador dos prazeres da noite, eventualmente Yustrich também ‘entrava em campo’ para checar casas noturnas in loco. Um salvo-conduto para se divertir sem culpa. (…) A tolerância para atrasos e rebeldias era zero. Quem não se enquadrasse na cartilha recebia multa e corria risco de levar uns tapas ou ser expurgado do clube para não gerar más influências. (…) Os dirigentes também não escapavam das cobranças de Yustrich para melhor servir os atletas. Material de trabalho só de primeira linha, hotéis de categoria, conforto em viagens e nem pensar em atrasar salários. Nas renovações de contrato, o treinador também metia a colher. Convencendo, ora o jogador, ora o dirigente, a ceder nas propostas para chegar a um acordo. Aconselhava os atletas a sempre pedir imóvel como luvas ou em parte do ordenado.”
Incrível, não?
Selecionei esse trecho porque acho que resume a personalidade do Homão.
Aqui vai outro, das 266 páginas cheias de detalhes (Zé sempre foi assim como repórter, um obstinado valorizador dos detalhes, o que tempera muito o texto):
“Em 18 de abril de 1982, os cruzeirenses assistiam a um filme de terror. Nelinho vestido de alvinegro. Roteiro parecido com o de dez anos antes, quando da saída de outro ídolo, Tostão. O problema é que desta vez era muito pior. Nelinho ia jogar no maior e mais temido adversário. (…) Cruzeiro e Atlético-MG começaram a disputa do Torneio dos Campeões, um tapa-furo no calendário criado pela CBF antes da Copa do Mundo da Espanha. E a estreia de Nelinho foi justamente no clássico que acabou em 2 a 2. Nelinho iniciou as jogadas dos dois gols do Galo. (…) A partida seguinte do Cruzeiro foi contra o Grêmio, em Porto Alegre. O time gaúcho recém havia perdido a final do Brasileirão para o Flamengo e jogou com equipe mista para apenas 5 mil torcedores. O Cruzeiro saiu ganhando, merecia vencer, mas cedeu o empate com um gol de pênalti inexistente. Seria a primeira vitória do treinador no retorno ao comando da Raposa, mas escapou por erro da arbitragem caseira. Yustrich invadiu o campo para reclamar e foi expulso pelo juiz Silvio Oliveira. No túnel do estádio Olímpico, um baixinho tentava entrar no vestiário do Cruzeiro, e o auxiliar técnico Rui Guimarães impediu. Ele lembra:
– Todo mundo queria conhecer o Yustrich, e eu não deixava porque sabia que ele era meio ignorante.
O desconhecido insistia. O Homão, irritado por causa dos incidentes da partida, ouviu a discussão de Rui com o baixinho e não se segurou.
– Ele foi até a porta dizendo: ‘Vou ensinar como se faz.’ Pegou o senhor pelo colarinho e o atirou a uns três metros de distância – conta Rui.
A atitude tresloucada custou caro. A vítima era um oficial, à paisana, da Brigada Militar, a polícia militar gaúcha. Resultado: os dois detidos.
– Aí o Yustrich reclamou para mim: por que você não me falou? Eu respondi: você não dá tempo para nada. Fomos levados para uma delegacia e ficamos lá até a noite. Yustrich queria colocar a culpa em mim – assegura Rui, que se tornou treinador inspirado nos ensinamentos de Yustrich, a quem considera um mestre.
– Era contraditório, mas competente. Aprendi muito com ele. Se não fosse PMD, psicótico, maníaco e depressivo, seria técnico da Seleção Brasileira. Mas brigava com todo mundo.”
Homi!
…
Faltou (e nem seria o caso no livro, mas é o caso nesta coluna de gremista) o seguinte: se fomos beneficiados num jogo comum e corrente com time misto, aquela decisão citada contra o Flamengo havia sido um escândalo. Busquem o vídeo no Google. O Flamengo pariu o título em jogo-extra (foram três jogos, sendo o terceiro pra desempatar) só porque o volante Andrade tirou a bola de dentro do próprio gol, já passada a linha e com a mão (!). Um combo de safadezas! Sacanagem ao quadrado!
Aquele seria o nosso segundo título brasileiro seguido (conquistáramos o de 1981).
O consolo foi que no ano seguinte, em 1983, por sermos vice no Brasileiro, éramos um dos dois representantes nacionais na Libertadores, e conquistamos a América e o Mundo.
Chupem, urubus!
Fechemos parênteses.
…
Falando em Grêmio, uma das desavenças mais famosas de Yustrich foi justamente com um gremista. Zé nos mostra como Yustrich colaborou para a demissão de João Saldanha como treinador da seleção brasileira, restando frustrado porque o cargo que cobiçava (sim, ele cobiçava ser treinador da seleção e, dizem, só não conseguiu porque seu temperamento atuou contra o portador) foi ocupado por Zagallo. Fico imaginando como o comunista “João Sem Medo”, que mandou o ditador Médici escalar o seu ministério e não encher o saco palpitando sobre o seu time, deveria ser indigesto pro Homão e suas claras preferências verde-oliva. Saldanha chegou a caçar Yustrich armado, mas não o encontrou.
Outra de Grêmio que fica nas entrelinhas: o atacante Éder, ídolo eterno de Grêmio e Atlético-MG, era um garoto muito irreverente, cabeludo, aprontão, boa pinta e com o dom de pôr a bola onde quisesse, com chute violento e de efeito impressionante na perna canhota, para alguns indisciplinado, começando a carreira no América-MG. Vivia batendo de frente com o Homão, a convivência era insuportável. E, provavelmente por isso, aquele jovem altamente promissor (promessa cumprida, como veríamos mais adiante) foi buscado por Telê Santana e brilhou intensamente por quatro anos num Grêmio que jogava como uma orquestra, sendo depois trocado pelo grande Paulo Isidoro (outro ídolo eterno de Grêmio e Atlético), destaque no título brasileiro gremista de 1981.
Valeu, Yustrich!
(A propósito, Éder nasceu na mesma Vespasiano onde o Homão teve oficina e loja de carros usados).
Pra não me ater ao clube do coração, devo destacar que os colorados também têm motivos pra serem gratos ao “Homão”. E não é uma gratidão irônica como no caso do Éder. Yustrich, no Atlético-MG, teve a paciência que inúmeras vezes o futebol requer pra fazer Dario, o “Dadá Maravilha”, desenvolver sua vocação de centroavante. Não desistiu do Dadá, acreditou nele, o incentivou, ensinou-lhe macetes e colheu os frutos de um jogador formidável, folclórico, querido de todos, que também brilhou no Internacional campeão brasileiro de 1976 (o clube tinha sido campeão brasileiro também em 1975, mas com Flávio em vez de Dario no comando do ataque).
O que eu diria se fosse colorado (e digo por eles, até porque o Dadá é uma entidade universal)?
Valeu, Yustrich!
…
A contracapa do livro tem um texto do Ruy Castro, craque das letras e flamenguista apaixonado: “(José Luís Costa) vasculhou sua vida no gramado, no vestiário, na concentração, na rua, em casa e em todos os lugares por onde ele passou. Entrevistou dezenas de seus contemporâneos, leu milhares de recortes e de uma maneira que eu próprio tento fazer em meus livros: sem lero-lero, sem conversa fiada, com uma esmagadora quantidade de informações. E deixando que o leitor decida se o personagem merece admiração, compaixão ou ódio. Yustrich foi talvez o personagem mais perigoso e violento que já existiu no futebol. Com seus quase 1,90m e 138 quilos, ofendia, humilhava, castigava, agredia, ameaçava de morte e tornava intolerável a vida de todos que trabalhavam com ele: jogadores, auxiliares, funcionários do clube, dirigentes, juízes e até torcedores – era capaz de subir arquibancadas para sair no braço com a torcida. Paradoxalmente, emprego nunca lhe faltou – era também um grande técnico. Esta é uma das mais surpreendentes biografias de futebol que já li. E, se isso não for entregar o jogo, já vou adiantar o que, ao lê-la, você vai sentir por Yustrich: admiração, compaixão e ódio.”
…
E Zé foi muito feliz, também, ao escolher o seu prefaciador, o grande repórter esportivo José Maria de Aquino. Leia o texto na íntegra. Vale a pena:
“Este livro começou a ser ‘escrito’ há mais de meio século, na memória de um garoto de apenas cinco anos que, assustado, fazendo companhia a seu pai, ouvia nas rádios do Rio de Janeiro notícias e comentários sobre um técnico violento, grandalhão, que não levava desaforo para casa, batia nos jogadores, agarrando-os pelo pescoço, botando-os de castigo. Um técnico que enfrentava a imprensa e não aceitava ordens de seus diretores.
José Luís Costa, o garoto assustado, cresceu, tornou-se jornalista, trabalhou em órgãos de imprensa do Rio Grande do Sul, onde nasceu e vive, sempre longe da seção de esportes, mas nunca esqueceu aquele técnico, valente, violento, daquele HOMÃO.
Em 2021, desempregado pela pandemia, decidiu escrever um livro contando as histórias dos “bad boys do futebol” – cartolas, jornalistas, jogadores, torcedores que viviam se metendo em confusões. Fascinado com as informações sobre Yustrich, aquele valente, um deles, abandonou os demais. (…) Concentrou seu trabalho no Homão. Somando mais de 5 mil laudas de pesquisas em jornais, revistas, sites e mais de 140 entrevistas com ex-jogadores, dirigentes, jornalistas, amigos e inimigos, que lhe renderam um livro completo, sobre um personagem complexo, nascido em Corumbá, em 1916, batizado Dorival Knippel, mais conhecido como Yustrich – um goleiro razoável, um técnico de alto nível, nos seus 50 anos de profissão, dirigindo grandes e pequenos times. (…) Colhendo sucessos e fracassos. Colocou o Porto na elite do futebol português, ganhou estátua no museu do clube. Considerado um dos três melhores em sua história.
José Luís descobriu que o Homão era mesmo tudo que, assustado, ouviu dizer dele quando guri, mas que era, também, um ser humano sensível, carinhoso, capaz de bater e de abraçar; de punir e perdoar; de enfrentar cartolas poderosos, jogadores famosos, e de chorar como uma criança.
Disciplinador e paizão, que emprestava dinheiro e não cobrava. Que mandava queimar camas e colchões velhos, exigindo o melhor para os jogadores. (…) Capaz de prender o time na concentração após uma derrota e de levar um atleta que não dormia porque sentia fome a uma churrascaria tarde da noite. Capaz de proibir jogador de sair do treino para assistir ao nascimento dos filhos gêmeos, e no dia seguinte pedir perdão, levando flores para a mãe na maternidade.
Um ‘louco’ capaz de barrar no Flamengo o zagueiro Brito, tricampeão mundial no México, em 1970, por achar ‘que queria jogar só com a fama’. De brigar com o artilheiro Doval, ídolo da torcida rubro-negra. E ter visão e coragem para lançar um garoto como Wladimir, no Corinthians, e fazer brilhar Geovani, na Desportiva, do Espírito Santo. De, em um ano, ensinar Dario Maravilha, no Atlético-MG, a chutar, cabecear, ser gente e chegar à Seleção.
Criticou João Saldanha, dizendo que não tinha competência para ser técnico da Seleção Brasileira. E, há quem diga, que não herdou o cargo em 1970 por seu gênio forte. Não se dava bem com a imprensa e, nos momentos de aperto financeiro, se tornou comentarista de rádio e televisão.
Mulherengo, tinha dois amores em Belo Horizonte e chegou a ter um terceiro no Rio, ao mesmo tempo. Mas a grande paixão era a filha Ana Lúcia. Proibia bebida para jogadores e, de vez em quando, tomava todas nas noitadas. Gostava de mesa farta. Exigia dos jogadores, mas não cuidava do próprio corpo.
Ganhou muito dinheiro. Gastou, não cobrou o que emprestava, ajudava pobres e crianças, perdeu tudo. Desregrado, tornou-se diabético. Lutou, sem saber – porque queriam poupá-lo -, contra um câncer na próstata e foi derrotado por ele. Morreu sem conhecer a palavra limite. Amparado por uma de suas mulheres e amigos, que custearam seu funeral.
Um livro muito bem cuidado, uma história para ser conhecida.”
…
Uau!
Um baita personagem e um autor à altura.
…
Shabat shalom!
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