Não tivéssemos as evidências materializadas em estudos e na vivência do dia a dia em projetos com grandes clientes, nem eu que estou imerso neste ambiente há dez anos acreditaria. As mulheres 60+ casadas, separadas e principalmente viúvas reclamam do “assédio de amor” que enfrentam com suas filhas e filhos que querem sabem onde estão, como estão e por que não atenderam o telefone fixo em casa num sábado à noite. Podem rir caros leitores. Este sim é o novo normal que veio para ficar.
Mulheres com independência social, no tocante aos julgamentos, independência financeira, vontade de viver e realizar muitas coisas que não conseguiram ou tiveram coragem enquanto os filhos estavam sob suas asas. Experimentando outra fase das suas vidas e muitas vezes sem seus maridos que já partiram desta para uma melhor, as novas mulheres 60+ têm uma agenda cheia, intensa e divertida. É a “Gerontolescência”, expressão criada pelo psiquiatra americano Dr. Gene D. Cohen em seu livro “The Mature Mind: The Positive Power of the Aging Brain” (em tradução livre, “A Mente Madura: O Poder Positivo do Cérebro em Envelhecimento”), publicado em 2005. Ele usou a expressão para descrever a fase da vida que começa por volta dos 60 anos e que muitas vezes é caracterizada por uma nova vitalidade, um aumento da criatividade e um desejo de aprender coisas novas. A gerontolescência é uma época de crescimento e mudança positiva, em vez de um período de declínio e perda. Desde então, a expressão tem sido amplamente adotada em estudos sobre o envelhecimento e é frequentemente usada para descrever essa fase da vida em que muitos idosos continuam a ser ativos, engajados e produtivos.
Em 2018 ao participar com a SeniorLab da apresentação nacional de um grande estudo da Vitamina Pesquisas da Luciana Mutti, um achado gritou e ganhou destaque: as mulheres 60+ declaram estarem aborrecidas com a marcação cerrada dos filhos que estavam longe, mas preocupados com elas. Reclamavam que desde que instalaram o WhatsApp, perguntavam a cada hora onde estavam. Se não respondesse, ligavam. Achei aquilo tão extraordinário já que no imaginário se trata de um comportamento de pais com filhos adolescentes. Desde então nos demais projetos de consultoria que participamos sempre coloquei este olhar na interpretação das descobertas, relatos e dados.
Posso arriscar a construir uma Persona da Mãe 60+ que está nesta situação: Mulher 75 anos, separada ou viúva. Mora sozinha, cuida do seu lar e quer seguir assim. Tem estabilidade financeira apesar da renda não ser muito elevada. Quer novas experiências, amizades e descobertas. Tem novos grupos de amigas que fez recentemente e juntas frequentam bailes. Nos bailes, disputa os pares que sabem dançar bem e que têm disposição. Ela não tem namorado, mas tem “ficantes”. Não pensa em casar-se novamente. Pelo menos por enquanto, porque, afinal, amanhã é outro dia.
Aos filhos resta perceber estes sinais e diminuir a pressão, permitindo que as Mães 60+, depois de terem cuidado dos maridos e dos filhos, possam pela primeira vez, cuidarem de si.