Por questões de trabalho, estou acompanhando a reunião do Comitê dos Direitos Humanos das Nações Unidas aqui na Suíça, onde atualmente vivo. Conversando com uma pessoa sobre este trabalho ela me perguntou: “Por existe esta reunião?” E emendou automaticamente uma outra pergunta: “É para falar mal do Brasil?” Confesso que fiquei surpresa com as questões que me foram colocadas, pois afinal era lógico para mim a importância de pactos, convênios e acordos internacionais que buscam estabelecer uma mínima relação de convivência “pacífica” entre os países e que habitaram meu cotidiano de trabalho por muitas décadas.
Passada esta primeira etapa na qual expliquei que esta reunião do Comitê tem a ver com um Pacto Internacional assinado pelos países, onde se comprometem a promover e proteger garantias essenciais, tais como liberdade de pensamento, de consciência e de religião, direito à vida, a não ser submetido à escravidão e ao tráfico de pessoas, não ser submetido à tortura, penas ou tratamento cruéis, igualdade perante tribunais e cortes de justiça, ter direito à liberdade e à segurança pessoal como também à livre circulação, entrei em um momento de reflexão genuína que tenho a expectativa que seja bastante produtivo.
Com minha experiência profissional pregressa em negociação de acordos internacionais de proteção social e tendo tido a oportunidade de trabalhar num organismo internacional e desde 2013 vivendo diariamente a experiência de conviver com distintas culturas em países diversos, me pus a refletir para que mesmo existem acordos, pactos e convênios?
Nesta minha reflexão semanal motivada no que parecia ser uma conversa sem muita importância ou profundidade, muitas respostas estão emergindo e estou segura de que ainda levarei algum tempo para processar todos seus aspectos. Em linhas gerais, o que está bem nítido neste primeiro momento é que um pacto, tratado, acordo ou convênio, são demonstrações reais e produtivas de como vemos a vida, ou melhor, como gostaríamos que a vida fosse.
Em realidade, todos os dias de nossas existências fazemos acordos, talvez até em momentos anteriores, senão vejamos um belo exemplo do que falo, quando estamos no ventre de nossas mães vivenciamos um pacto dos mais profundos entre dois seres humanos que é o de gerar uma nova vida. Esta fecunda experiência tem por base, de maneira geral, é claro, um sentimento profundo chamado amor – palavra que está um pouco fora de moda neste planeta, onde discurso de ódio e guerras em diferentes pontos da esfera azul são uma triste realidade.
Então, seguindo minhas reflexões, junho é conhecido como o mês internacional do meio ambiente e confesso para você que este tema faz parte das minhas preocupações diárias na última década. Como proteger e propiciar que a natureza e todos os seres que, como nós, habitam este planeta azul conviviam de maneira minimamente sustentável? Isso me faz pensar que espécie de acordo, convênio ou pacto deveríamos ter desenvolvido com a Mãe Terra nestes últimos séculos?
Se vamos analisando outros aspectos de nossas vidas como educação, escolhas profissionais e pessoais, sentimentos, relações familiares, interpessoais ou amorosas são outros tantos temas nos quais construímos e desenvolvemos pactos, acordos e convênios. Inclusive quando despertamos diariamente, pensamos em como se desenvolverá nosso dia ou quando sonhamos e desejamos algo do fundo do nosso coração – sim ainda podemos sonhar e desejar – estamos na realidade compactuando com nosso eu interior as formas e resultados que queremos alcançar, você não crê?
De minha parte seguirei analisando com olhos de águia, porém, com uma conexão direta com meu músculo cardíaco este meu momento de reflexão genuína que surgiu de uma conversa entre um café e outro num quente manhã do verão suíço. Enquanto isto, no entanto, volto a acompanhar a sabatina dos países na reunião do Comite dos Direitos Humanos das Nações Unidas e para isto vou necessitar de algumas xícaras de café bem forte, pois os temas e questões levantadas são bastante profundos e complexos. Me desejem boa sorte ou, ao menos, bom trabalho, combinado?
*Monica Cabanas é jornalista e terapeuta. Vem trabalhando nos últimos anos como assessora de clima organizacional para instituições, organismos e grupos em diferentes países. Autora ou coautora de 8 livros, sendo o último infantil “As Aventuras de Nico e Frida”, escrito em quatro idiomas: português, francês, espanhol e inglês. Atualmente, reside em Nyon, na Suíça.