Presidente Lula, por favor, reflita e reveja seus passos.
Enxergue-nos, presidente!
- O grupo terrorista e genocida Hamas promoveu um inqualificável atentado em Israel, país legítimo como poucos no mundo, cujos habitantes são seu povo originário e que deve existir em paz e segurança ao lado de outro país de povo originário. No caso, a Palestina, dos árabes.
- Entre os israelenses executados no atentado genocida e terrorista, estavam três pessoas de nacionalidade também brasileira. Entre os reféns que estão NESTE MOMENTO com os facínoras, há um brasileiro, que inclusive foi meu colega no Colégio Israelita e amigo de infância, o Michel (foto da capa, Michel e seus filhos).
- Quando o senhor fala, seus seguidores lhe repetem palavra por palavra. Eu vi isso entre amigos petistas. É triste, constrangedor e muito perigoso. O senhor forma a opinião de uma manada (sim, aquela história de “gado” também existe na esquerda, e isso está cada vez mais claro).
- Tenha personalidade, presidente. Não é porque o antissemitismo cultural, atávico, tácito e estrutural subiu do subsolo e se tornou “chique” que o senhor precisa surfar na crista dessa onda nefasta. Ao surfar nela, o senhor atrai outros surfistas e também tubarões adormecidos.
- Não sei se foi no fim dos anos 1990 ou nos anos 2000. Eu trabalhava na Folha de S. Paulo e o entrevistei no carro, da Expointer ao aeroporto Salgado Filho. O trânsito era lento, e conversamos sobre Israel e Palestina. Suas posições eram iguais a de qualquer sionista que defende dois Estados.
- Diante disso, sei que o senhor sabe do que falo e então lhe peço: sei que a comunidade judaica é pequena e que os nossos votos são naturalmente poucos. Mas pare um pouco de ouvir o Paulo Pimenta. O senhor deve saber, como eu sei, que esse sujeito tem muita rejeição até no PT.
- O senhor sabe, como eu sei, que na campanha eleitoral haveria visitas a entidades de judeus e árabes. Por alguma “confusão”, o senhor visitou apenas figuras que adoram a frase genocida “do rio ao mar”. Quem organizou a agenda? Ora, o Pimenta, cuja má vontade com os judeus é notória.
- O uso despudorado de expressões como “genocídio”, “holocausto” e “limpeza étnica” em relação ao povo que foi a maior vítima desses horrores, além de terrivelmente inadequado (já escrevi muito sobre isso), fica muito mal empregado quando sai da voz oficial brasileira: a sua.
- Sou crítico do atual governo israelense, o pior governo que Israel já teve. Mas nem ele faz “genocídio”, que é a eliminação deliberada de um povo (objetivo manifesto do Hamas). E “holocausto”? O senhor já viu árabes israelenses banidos de profissões ou transportes públicos?
- Por favor, presidente, o senhor sabe do que falo. Sabe que tem brasileiros judeus executados e outros feitos reféns. Sabe quem são alguns dos seus companheiros. Sabe da importância do Estado judeu. O senhor sempre teve personalidade e foi um humanista. Pois seja. Nos enxergue!
Não pensem que toda a esquerda está tomada por esse fervor antissemita travestido de “antissionismo”. O problema é que quem enxerga silencia. Não vai contra a onda em que o próprio presidente surfa. Há uma esquerda sionista considerável que está gritando, implorando para ser ouvida. Mas uma parede impermeável está a sua frente. É desesperador.
Por isso, presidente Lula, repito: enxergue-nos!
Você já ouviu falar no pacifista Yossi Halevi, defensor de dois Estados? Nascido no Brooklyn (EUA), Halevi se mudou para Israel em 1982 (fez “aliá”) e vive em Jerusalém. É membro do Instituto Shalom Hartman e codiretor de uma iniciativa que ensina jovens líderes americanos e muçulmanos sobre judaísmo, povo judeu e identidade de Israel. É autor, entre outros, do best-seller “Cartas para meu Vizinho Palestino”, publicado em 2018.
As críticas de Halevi ao senhor, presidente Lula, são ácidas.
Defensor dos ataques israelenses para resgatar reféns e neutralizar o Hamas, Halevi deu um tempo na sua notória defesa do diálogo. O momento, segundo ele, é de eliminar o Hamas, e a falta de compreensão dessa necessidade faz os judeus se sentirem “sozinhos”, isolados, incompreendidos.
Na sua fala igualando o crudelíssimo pogrom do Hamas à violenta (mas necessária) reação israelense, Halevi vê uma “falha moral”. Disse Halevi: “Qualquer pessoa que reaja com maior indignação à resposta de Israel ao massacre do que ao próprio massacre tem uma falha moral. Não me sinto obrigado a ouvir ou respeitar essas vozes. Vejo essas vozes com desprezo. As pessoas que estão me tratando como se eu fosse um praticante de genocídio em vez de alguém que está tentando se defender contra uma ameaça genocida não têm nenhum direito moral sobre minha consciência. E se o presidente do Brasil se encaixa nessa categoria, se a carapuça servir, que assim seja.”
Presidente, chegaram brasileiros vindos de Israel e depois chegaram brasileiros vindos de Gaza. O senhor só recebeu os brasileiros que vieram de Gaza, fazendo inflamados discursos e abraçando até pessoas cuja ficha criminal está longe de ser a mais impoluta e irrepreensível. Está feio. Muito feio!
E é isso, presidente. O senhor está tendo uma falha moral.
Seria muito importante que a corrigisse a tempo.
A redação da UFRGS e o Oriente Médio
A redação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) tratou da narrativa histórica. Eu, jornalista até a medula, autor de livros que procuram reportar fatos para abastecer a História, não concordo que tudo seja narrativa. Sei que vou um pouco contra a corrente, mas acredito que alguns fatos são acachapantes, inquestionáveis, objetivos.
Vejo hora para a subjetividade e hora para a objetividade.
Nem sempre estamos lidando com “narrativas”.
E vamos ao Oriente Médio: dizer que ao reagir Israel comete “genocídio” e massacre sem citar que antes houve um pogrom absurdamente violento, com as atrocidades inacreditáveis filmadas pelos próprios terroristas é uma narrativa falsa. Dizer que, sim, Israel foi violentamente atacado, mas o ataque se justifica pelos “75 anos de opressão” é uma narrativa falsa na medida em que ignora a recusa palestina à partilha de 1947 (são os “mas” seletivos que formulam desonestidades). Dizer que foi um pogrom, “mas” (olha ele aí) Gaza é um “presídio a céu aberto” é narrativa falsa porque o isolamento parcial de Gaza se deve aos atentados terroristas ocorridos desde 2006 e neutralizados em razão justamente do muro necessário.
Logo, falar em “narrativas” para distorcer e mentir não é um processo acadêmico legítimo. É disfarce para a cretinice.
Não, queridos acadêmicos e professores de História, não estou desmerecendo os debates da sua área. Acho muito interessantes, inclusive. Mas o bom senso deve estar em todas as disciplinas, e eu, como jornalista, amo os fatos.
“Que história pode e deve ser ensinada?”, pergunta o instigante tema da redação da UFRGS. E eu não vou fazer a redação aqui neste espaço e tampouco me estenderei no assunto, mas adotarei o poder de síntese tão caro aos jornalistas. Eu problematizaria muito o tema, porque a objetividade às vezes pode ser utópica, mas nem sempre. E, sim, ela existe. Fatos são fatos. O céu é azul, não verde. A Terra é redonda. A vacina salva. Morreram 6 milhões de judeus no Holocausto (meus avó viveram para me contar). E Israel sofreu no 7/10 um dos ataques terroristas mais nefastos e cruéis da História. Ponto.
Espero ser compreendido.
E também espero que o presidente Lula perceba sua falha.
Shabat shalom!
Confira também os textos:
>> Antissionismo é antissemitismo
>> Os poréns seletivos que constroem narrativas desonestas
>> Compreenda o conflito israelo-palestino
>> Efeitos do antissemitismo estrutural
>> Não é preciso fazer montagem
>> A invisibilidade dos israelenses
>> Só se aperta a mão de quem a estende
>> A maldade independe de ideologia