É curioso o que vou contar agora, mas faz parte da minha insistência em dizer que muitas vezes supostos paradoxos são falsos. Vários elementos aparentemente contrários na verdade atuam de mãos dadas, se complementam.
Mais adiante, neste texto, darei alguns exemplos.
O que quero dizer é que a vivência ao lado do meu pai nas decisões de um sindicato em tese patronal alimentou muito em mim a visão social-democrata, de esquerda (talvez “centro-esquerda” seja o rótulo preciso pra me definir), que trago por toda a vida.
O pai presidiu o Sindilojas. Eram ele e o inseparável e também muito saudoso Hermínio Bittencourt, que para mim realmente era tio (o Tio Bitenca). Não por acaso, esses grandes homens hoje dão nome ao auditório do Sindilojas (Auditório Henrique Gerchmann, ali na Andradas 1234) e ao museu do Grêmio (o Memorial Hermínio Bittencourt, na Arena).
Você dirá que o Sindilojas é sindicato patronal. E aqui vai o meu primeiro exemplo de falsos paradoxos. Saiba que a maioria dos filiados ao Sindilojas são os pequenos, as singelas tabacarias e padarias das nossas esquinas.
Muito eu bebi dessa fonte.
Por que meu pai, o Henrique Gerchmann, me vem à lembrança neste momento em que precisamos de muitas luzes contra as trevas? Porque ele foi o grande promotor do “Brilha Porto Alegre”, essa distribuição de luzes pelas ruas e praças da cidade, embelezando-as à noite e, pasmem, com pouquíssimo dispêndio de energia elétrica.
No seu texto de terça-feira passada aqui na SLER o meu amigo Marcos (Xixa) Bliacheris foi magistral falando sobre a nossa permanente luta pelo estabelecimento das bases ainda da Revolução Francesa com seu apelo às complementares liberdade, igualdade e fraternidade. Leia o texto aqui.
Luzes. Precisamos de luzes!
E sobre os falsos paradoxos?
Eu os teria à mancheia e começaria pela falsa contraposição entre ciência e fé, entre alta arte e elevação religiosa, entre D’us e natureza (viva Baruch Spinoza e também o primo distante dele, o Valdir!). Mas sigamos com outros exemplos: vão da verdadeira livre iniciativa que só pode ocorrer com a distribuição equânime de oportunidades à defesa de Israel que necessariamente precisa preconizar o Estado Palestino (e vice-versa), passando até pela estabilidade financeira do Fernando Henrique que pavimentou a diminuição da desigualdade sob Lula. Sim, o seu grande aliado por estar onde você menos espera. Querem futebol? O Roger prepara o terreno pro Renato, como se ainda fossem jogadores numa equipe em que o lateral canhoto passa a bola pro ponta destro. E ambos, juntos, numa equipe tácita, pavimentam grandes conquistas.
Roger e Renato. Do 6 ao 7, a gente soma e não diminui!
…
Sobre o meu pai, que repassou a este filho valores essenciais de retidão, humildade e solidariedade, lembro do grande Daniel Burman dizendo que os verdadeiros heróis da vida dele são os pequenos comerciantes do Once, que passam o dia lutando. Não por acaso, é ele, o Daniel Burman, o cineasta que fala direto com a minha condição judaica. Respeito e amo os filmes do Woody Allen, mas o Burman parece conversar comigo.
…
Certa vez, tive uma daquelas oportunidades que o jornalismo dá a seus profissionais: entrevistei o canadense (também judeu) Aaron Lyons, especialista em justiça restaurativa. Você sabe o que é justiça restaurativa? É o bom e velho “papo reto”, aquela sinceridade que desanuvia, esclarece e facilita muito a vida das pessoas.
E é com essa sinceridade que, num breve decálogo, me desnudo ideologicamente pra vocês. Acho que, em meio a tantas falsidades, hipocrisias virtuais e agendas ocultas, a verdade ilumina.
Eis-me, em 10 mandamentos:
1 ) Voto pra remover fascistas.
2 ) Voto pra remover psicopatas.
3 ) Voto pra remover ignorantes.
4 ) Os três itens acima, juntos, são tri determinantes.
5 ) Voto na esquerda quando ela não aderiu à narrativa maniqueísta e burra “antissionista” (antissemita) que tanto me assusta em setores tristemente contaminados da suposta intelectualidade.
6 ) Até posso votar na direita lúcida se for contra a extrema-direita obscurantista.
7 ) Até posso votar na direita lúcida e não obscurantista (nunca na extrema-direita!) contra antissionista.
8 ) Meu voto é livre e independente de siglas.
9 ) Prefiro sempre o campo da esquerda não sectária e dogmática (o que leva a vários vícios e torpezas), se isso for possível.
10 ) Não voto nem a pau em leviano que aparece na Redenção chamando Israel de “genocida” (sic) e “apartheid” (sic). As imagens são abundantes!
Obs: como é bom poder ser transparente!
Obs 1: se você sentiu falta do item “corrupção”, é porque não caio na esparrela de reduzir num ou noutro grupo uma prática de 500 anos, intensificada pelo sistema de governabilidade refém de negociatas.
Que tenhamos muitas luzes neste fim de semana!
E shabat shalom!