Caso os tarados antissemitas levianos que gritam “Palestina do rio ao mar” e negam o inquestionavelmente legítimo direito de Israel existir tenham, hipoteticamente, o inadmissível êxito na ideia genocida de varrer o Estado judeu do mapa e permitir a criação do califado supremacista e obscurantista naquela região, sugiro uma estratégia: aproveitando que o nome já se inspirava em episódio narrado na Torá, poderiam adotar a epopeia argentina do “Êxodo Jujeño”. É simples: se um dia os judeus voltarem a ser expulsos da sua terra, não deixem pedra sobre pedra. O recanto avançado, civilizado e democrático construído desde 1948 no lar ancestral judaico, onde antes não havia um país, mas sim apenas uma região chamada “Palestina” (que um dia já fora “Judeia”, mas mudara o nome por determinação dos romanos quando expulsaram os judeus), seria, na saída, destruído pelos seus criadores para não ser usurpado.
Simples assim. É justo assim. Querem um país? Construam.
E não me acuse de exagerar nos adjetivos aí em cima. Acho estilisticamente reprovável, mas, no caso, são necessários, e me contenho, pode crer, pra evitar os palavrões que me vêm à mente contra a estupidez de falsos humanistas que endossam o objetivo jihadista, expressamente genocida, de aniquilar uma nação de rara legitimidade, porque, sim, o povo judeu é mais do que comprovadamente originário daquele lugar, e Israel é um dos países mais legítimos em toda a face da Terra. Convenhamos que é inimaginável o mundo sem Israel. Imagine o retrocesso em todos os sentidos. Seria um mundo muito pior. Pense nos judeus voltando a andar pelo mundo, rejeitados em todos os cantos aonde fossem, incompreendidos em seus hábitos e mal vistos, sem sua referência territorial, seu porto seguro.
E isso nunca significou negar aos árabes palestinos também o seu lar, ao lado, com autonomia e fronteiras seguras.
As palavras mais simples desnudam verdades óbvias, não?
O que seria daquela região sob um califado obscurantista e colonizador, que imporia seus hábitos medievais?
Só pra relembrar: além de ser uma enorme referência ética e humanista no mundo, sabe-se que Israel é pioneiro em biotecnologia agrícola, irrigação por gotejamento, solarização de solos, reciclagem de águas de esgoto para uso agrícola e na utilização do enorme reservatório subterrâneo de água salobra do Neguev. Literalmente, fez um país no deserto.
Houve contribuições decisivas para o desenvolvimento humano nas áreas da genética, informática, eletrônica, ótica e outras indústrias de alta tecnologia, sem falar na medicina. Do tamanho de Sergipe, o minúsculo Estado judeu ocupa o terceiro lugar em investimentos científicos e é a nação que mais produz publicações científicas per capita (109 por cada 10 mil pessoas). É recheada de prêmios Nobel e líder mundial em startups.
…
Mas, enfim, a retirada ao estilo “Êxodo Jujeño” teria inspiração em Moisés (o Êxodo, que curiosamente, por sua vez, inspirou o nome do episódio argentino) combinada com a estratégia de Manuel Belgrano na Argentina (então vice-reinado espanhol) há 212 anos. Seria um sincretismo judaico e latino-americano, que espero ficar só na teoria, porque seria um absurdo a aniquilação de Israel por repulsivos obscurantistas.
Mas sempre cabe lembrar: Israel é o único cantinho no mundo para o povo judeu, e o sionismo, tão injustamente vilipendiado, é somente a busca da autodeterminação do povo judeu no seu lar ancestral após 1,9 mil anos de uma diáspora violentíssima, com inquisição, pogroms e Holocausto, e o mundo árabe e islâmico conta com dezenas de Estados onde mantém sua cultura e sua fé. O sionismo não exclui ninguém, não é contra a existência dos países vizinhos nem quer colonizar; só quer o direito à existência. A Torá, referida acima, é o livro mais antigo do mundo, o primeiro a ser impresso, um fato em si, e traz, por milênios, como uma espécie de certidão inequívoca, o vínculo do povo judeu com aquela terra de onde foram expulsos pelo Império Romano por volta do ano 100 D.C., sendo Jerusalém a cidade cantada em prosa e verso pelos judeus há milhares de anos.
Está claro? Ou a má vontade é cega tanto?
Enfim, agora vamos a Jujuy, no norte da Argentina. O “Êxodo Jujeño” foi a retirada estratégica da população local, comandada pelo general Manuel Belgrano, um homem de ideias avançadas, rumo a Tucumán. O episódio histórico ocorreu em 23 de agosto de 1812 e era uma forma de enfrentar as tropas reais espanholas que vinham do Alto Peru para sufocar o processo de independência no Río de la Plata (a revolução de maio ocorrera em maio de 1810, mas a independência ocorreria apenas em 9 de julho de 1816; logo, estava em plena marcha).
Jujuy não era uma cidade de grande porte, mas, por estar entre os dois vice-reinados, tinha enorme importância comercial. As carretas passavam por ali com as suas mercadorias, e era ali que se encerrava a trilha em direção ao sul. Também era ali que os comerciantes e viajantes podiam repousar e se alimentar.
Belgrano, um advogado pioneiro na defesa da educação pública e da industrialização (falava na importância de elaborar a matéria-prima), criador da bandeira argentina (em fevereiro de 1812), havia sido enviado para o Norte como uma espécie de punição por seus desafetos, que o temiam. Seu problema: o brilhantismo. Até a bandeira havia sido mal vista, porque a Argentina ainda não era independente. Foi um dos principais protagonistas da Revolução de Maio (1810), mas tinha ideias muito avançadas. Em Jujuy, ele organizou seu Exército no Norte e fez história a partir de uma aparente adversidade.
Begrano deu a ordem para uma retirada que deixasse apenas “campo raso para o inimigo”. Ou seja, terra arrasada. Não deveriam ser facilitados alimento, gado e moradia. Os caras ficariam ao relento. Os cultivos foram colhidos ou queimados, as casas destruídas e os produtos comerciais enviados a Tucumán.
A população de Jujuy destruiu o que era seu, impediu que quem lhe queria mal usasse aquilo que era fruto do seu esforço e caminhou 360 quilômetros, uma bela distância pra época.
Lindo! Dá-lhe, Belgrano! Dá-lhe, San Martín!
Dá-lhe, Ben Gurion! Dá-lhe, Herzl!
Em Jujuy, os realistas ficaram sem os recursos mais básicos.
Completamente fragilizados, caíram na real.
E você? Já caiu, entendeu? Ou se dará conta só quando visitar os seus aliados de ocasião e preconceito, restando preso ou executado ao desfraldar justas bandeiras e manifestar ideias de um mundo melhor, com igualdade e respeito às diferenças?
Acorda, velho! Você está do lado errado.
…
PS: No dia em que escrevi este texto, fez um ano do devastador, monstruoso e inadmissível pogrom do 7/10, com execuções de jovens que celebravam a vida numa festa, degolas, sequestros de centenas, cremação de famílias inteiras vivas, pais na frente de filhos, e envios dos vídeos como troféus para quem os apreciaria. O que escrevi acima é endereçado aos desgraçados, canalhas e falsos humanistas que conseguem a proeza de pôr vítimas no lugar de algozes. E volto a me desculpar com o leitor pelo excesso de adjetivações. São feias, mas necessárias. Os palavrões ficam trancados na garganta, mas juro que é o que esses antissemitas FDP merecem. Ops! O que é FDP, mesmo?
Foto da Capa: Reprodução
Todos os textos de Léo Gerchmann estão AQUI.