Com o tempo, fui aprendendo que a vida se dá em movimento. Parece óbvio, mas não é o que se busca. Pelo contrário, tendemos, e me permitam falar por nós, a buscar que as coisas se solidifiquem, que permaneçam.
Vale para empregos, relacionamentos amorosos, escolhas políticas, enfim, acrescente você para o que mais. Ah, vale para a morte de pessoas queridas. Gostaríamos que elas ficassem para sempre ao nosso lado.
Curioso é que as nuvens, o planeta, a natureza, o universo, tudo se move e se transforma o tempo todo. Só nós iríamos ficar de fora? No entanto, as perdas de várias maneiras vão moldando a nossa vida e custamos a encontrar uma maneira de lidar com isso.
Suportamos umas e logo achamos que, bom, agora já chega. De nada adianta. Uma fila de novas mudanças vai batendo a nossa porta. A saída é se acostumar com elas.
Não um costume de quem se resigna por não ter como lutar. Mas de quem entendeu que é assim mesmo que tudo acontece. E, a partir disso, seguir fazendo o que temos que fazer.
Temos que seguir construindo nossos projetos, realizando tudo aquilo que nos move a viver da maneira que pensamos ser a melhor. A diferença é que, depois de saber que tudo está sempre em movimento, pode-se estar um pouco menos vulnerável aos efeitos do que nos tira o frágil equilíbrio que, de tempos em tempos, conquistamos.
Esse é o sentido que alguns autores interpretam para a noção de destino na tragédia grega. O destino não é algo que, como comumente se pensa, está traçado. Mas sim é aquilo que não dominamos, que não está ao nosso alcance. Essa é a condição humana. Se dominássemos tudo, seríamos um deus. Por exemplo, Édipo não sabia de várias coisas de sua história e, quando elas foram reveladas, sua vida se transformou totalmente.
É como aquela história do Garrincha perguntando ironicamente ao treinador da Seleção Brasileira após ouvir o esquema tático com todas as instruções sobre o que deveriam fazer: “Seu Feola, o senhor já combinou com os russos?”. Temos nós e o destino. Temos nossos planos. Mas não temos como combinar com o destino.
Jorge Benjor, na sua canção Quem cochicha o rabo espicha, diz “nessa vida de perde e ganha/ganha quem sabe perder/e perde quem não sabe ganhar”. Saber perder é entender que as perdas virão inevitavelmente. Ganha quem se dá conta disso. Mas também é preciso saber ganhar. Apesar de todas as perdas.