Uma explicação necessária: em 2019, numa reação ao que havia acontecido desde a posse do então recém-eleito presidente, esse mesmo que vocês estão pensando, os editores da Dublinense Rodrigo Rosp e Júlia Dantas lançaram uma convocação para uma coletânea de histórias curtas que tentassem fazer sentido do que havia acontecido e de como havíamos chegado até ali. Eu queria participar, mas não tinha ideia de como abordar aquela fase ainda pouco compreendida da história recente. Em certo momento topei com a solução: escavar a psique do “outro” da equação, e escrever pelo ponto de vista de um fictício amigo que tentasse me explicar o que, afinal, o levava a abraçar o discurso político extremo que vinha associado a um determinado candidato em particular. Encontrei meu modelo em um de meus escritores favoritos, Thomas Bernhardt, e seu tratamento irado e ao mesmo tempo preciso do discurso de escárnio.
Mandei o conto, ele foi selecionado e editado, em 2020, no volume Fake fiction: contos sobre um Brasil em que tudo pode ser verdade, com a participação de outros 35 escritores (entre eles Adriana Lisboa, Altair Martins, Dani Langer, Júlia Dantas Luisa Geisler, Tiago Germano), cujas histórias abrangiam um olhar histórico e panorâmico desde as manifestações de 2013 até a eleição de você sabe quem. A primeira edição foi viabilizada com financiamento coletivo. Uma segunda edição foi publicada para o público em geral pela própria editora, e os últimos exemplares estão neste momento sendo vendidos na Feira do Livro de Porto Alegre. Como o livro é fruto de um período e este período está, se tudo der certo, em vias de transformação, a segunda edição será a última e não haverá outra tão cedo (esperamos). Mas mesmo que o presidente que originou tudo esteja encolhido e derrotado, o personagem deste conto, o verdadeiro responsável pela sua ascensão, ainda está por aí. Não mais na mesa de bar, mas acampado na estrada ou querendo a segregação de seus adversários. Assim, compartilho o conto com vocês. Vai que seja útil.
O ASCO DOS NÁUFRAGOS
Olha lá, Moreira, tá vendo aquele malandro ali na esquina, ele me pergunta, apontando com a mão que segura o copo de cerveja para algum ponto atrás de sua cadeira, onde se pode ver um homem magro, usando um blusão desbotado e um moletom cheio de manchas, passando um pé sobre o outro, calçando apenas chinelos apesar da noite fria, tentando aquecer-se com goles ocasionais em uma garrafa de vodca. Aquele ali, o malandro ali na esquina, Moreira, tá vendo, o sujeito literalmente pé de chinelo, que acha que eu não vi ele porque estou de costas, tá vendo? Aquele é um vagabundo mentiroso igual a quase todo mundo neste país. O malandro ali, Moreira, me abordou logo que cheguei aqui e sentei pra te esperar, porque é claro que tu ia te atrasar como todo mundo na merda desse país, Moreira, ninguém leva compromisso a sério, é um desrespeito, um bando de desocupados que se acham no direito de se apropriar do tempo alheio. Se tem uma coisa que aprendi nesses três anos morando em Miami é que time is money, baby, mas aqui ninguém se importa de te deixar esperando vinte e cinco minutos, Moreira, nem tu, veja só. Sabe o que são vinte e cinco minutos, Moreira? Com a velocidade das comunicações hoje, vinte e cinco minutos são uma eternidade pra fazer muitas outras coisas, ele me diz, e eu não respondo que essas mesmas telecomunicações céleres de hoje permitem que ele faça muitas dessas “coisas” pelo celular — aliás, é o que ele deve ter feito enquanto eu não chegava. Então qualquer um que não tenha a consideração de chegar no horário, Moreira, ele continua, é uma espécie de ladrão em pequena escala, e é nesse tipo de detalhe que a gente pode ver como foi se instalando aos poucos, nos últimos dezesseis anos, essa mentalidade de leniência com a corrupção, de simpatia pela quadrilha que se instalou no poder e promoveu o maior esquema de roubalheira já visto neste país, Moreira, uma roubalheira que só podia mesmo dar nessa quebradeira que todo mundo viu e que felizmente a gente tá se recuperando, ele interrompe o discurso, dá um gole na cerveja e parece tentar refletir em silêncio enquanto olha para o buraco redondo no centro da mesa de plástico com as cores de uma marca de cerveja diferente daquela que estamos bebendo, uma artesanal de garrafa bojuda e escura que ele já havia pedido quando cheguei — nesse ponto ele está certo, eu realmente me atrasei. Até tu, Moreira, ele prossegue, que é um sujeito inteligente, um dos poucos amigos que me sobraram nessa abjeção de país, até tu chega atrasado vinte e cinco minutos num encontro com um amigo que não te vê há três anos, não estou falando por mal, Moreira, gosto de ti, mas eu precisava apontar como não é coincidência essa tua atitude com as tuas manifestações, que eu já li e já vi, a favor da mentira e da inépcia daquela gente, não é por acaso, e não toma como ofensa, gosto de ti, Moreira, mas vê bem como os detalhes revelam o caráter, como o país andava doente com o tipo de mentalidade instalada pelo projeto de poder posto em marcha por aqueles criminosos que em boa hora os cidadãos de bem conseguiram expulsar da vida pública. Só lamento, Moreira, mas acabou a esquerda, meu amigo, essa gente aproveitadora que quer fazer caridade pra todo mundo com o dinheiro dos outros, o que já seria errado, mas que na verdade usa o discurso de caridade para mandar o dinheiro dos outros pro próprio bolso, a tal justiça social, uma impossibilidade no mundo real, Moreira, apresentada como desculpa pra um assalto à mão armada, real, no caso dos bandidos de quem esse pessoal tem peninha, ou metafórico, no caso em que inflam e alimentam o maior ladrão de todos, que é o Estado, essa quimera, essa fadinha benfazeja que todos querem ter como mãe, Moreira. Acabou isso aí, tá ok? Caridade é uma questão pessoal, Moreira, não assalto forçado. Toma o exemplo daquele malandro ali que eu te apontei, o malandro vagabundo literalmente pé de chinelo parado ali na esquina do outro lado da rua. Talvez tivesse sido diferente se tu tivesse chegado no horário, tu não tem cara de otário como eu, e eu já fui muito otário mesmo, tem que ser muito otário pra continuar pagando os impostos que se paga nessa merda de país, Moreira, a melhor coisa que eu fiz foi me mudar pra Miami pra escapar disso, mas mesmo lá não se consegue escapar, Moreira, as garras dos assaltantes estatais te alcançam, porque eu montei uma firma de importação, Moreira, e pra importar de lá pra cá sou roubado por essa taxa escorchante de impostos que não deixam o país avançar, é impossível empreender neste país, Moreira, impossível, e por isso é também impossível gerar emprego, e por isso tá cheio dessa gente pobre e bunda-suja reclamando de patrão. Reclamem de patrão, Moreira, reclamem, vão reclamando até o dia em que não tiver mais patrão, faliu, o negócio fechou, parabéns, proletário consciente bunda-suja mamador de teta vagabundo, agora te vira na rua pedindo esmola, iludido de merda, que nem aquele cara ali, ele finalmente retorna ao ponto original, aquele malandro ali, aquele vagabundo aproveitador, ainda parado naquela esquina como se não tivesse mais nada pra fazer, e provavelmente não tem mesmo, aquele cara chegou aqui mais cedo, me viu sozinho, e me viu sozinho porque meu camarada jornalistinha progressista súper ocupado não podia chegar na hora pra encontrar um amigo que mora no estrangeiro e que ele não vê há três anos, claro que não podia, Moreira, não falo por mal, gosto de ti, mas a verdade é essa, e com a tua demora eu fiquei vinte e cinco minutos aqui nesta mesa sozinho, cara de otário, como qualquer cidadão de bem que só quer viver sua vida sem ser perturbado, tomar sua cerveja, falar com um amigo que não vê há três anos, mas claro que ele não vai conseguir ficar de boa, porque não demora a aparecer, como apareceu, um fulano abusado como aquele malandro, aquele vagabundo aproveitador literalmente pé de chinelo, dizendo que só precisa de dois reais pra inteirar a passagem, porque mora na Restinga, ou na Cruzeiro, um desses lugares aí onde é melhor nem ir pra não tomar tiro de traficante. Ou talvez fosse o Partenon, ele diz, pensativo, e talvez reagindo a um involuntário endurecimento em meu semblante, que, sei, deve estar agora a meio caminho entre o horror e a indignação, ele emenda sei lá, Moreira, não me lembro o lugar exato, mas ele morava longe, foi o que esse malandro aproveitador disse ao me ver te esperando depois dos vinte e cinco minutos do teu atraso, por favor, doutor, doutor, me chamou de doutor porque é claro que malandro vagabundo não se puxa pra nada a não ser na bajulação, por favor, doutor, moro longe, preciso de só dois reais pra inteirar a passagem, preciso voltar pra casa pra ajudar minha muié, muié, falou bem assim, Moreira, porque é claro que a instrução formal passa longe desse tipo de gente, e já nem sei se é porque esse diabo desse país não tem projeto de educação, só de passar todo mundo de ano, ou se porque ele, como muitos que foram pra escola com a gente, Moreira, só queria ficar de gaitada e não estudar, sempre com uma desculpa diferente, ah, minha mãe doente, ah, meu lar desfeito, ah, eu trabalho pra ajudar em casa, o mais bizarro nesse país é que tu nunca sabe como se forma um aproveitador desses, porque parece que todas as partes do processo, escola, família, o próprio aproveitador, todo mundo ficou fingindo que formava um indivíduo enquanto ele se deformava sozinho, e isso claramente piorou nesses dezesseis anos de leniência e estímulo à vagabundagem e ao mimimi, Moreira, com o apoio de gente como tu, e não falo por mal, gosto de ti, mas tu sabe que é verdade, ele diz, antes de retomar: pois bem, o vagabundo aproveitador me trovou que ia pra casa ajudar a muié porque ela tava doente, e acho brabo esse malandro ter muié em casa, tava na cara que a grana era pra trago ou pra pedra, e é só aqui que acontece dessas, Moreira, porque é a cultura disseminada pela índole pouco afeita ao trabalho, te digo, tou morando em Miami há três anos já, e mesmo com aquela horda de latinos meio preguiçosos que eles têm por lá, a coisa é completamente diferente, porque a cultura do lugar é de trabalho e empreendedorismo, e isso muda tudo, isso transforma um país, Moreira, e é isso o que a maioria de vocês não entendeu na última eleição, ele emenda, a voz rascante de tanto falar, e toma um gole de cerveja antes de prosseguir. Vou ser o primeiro a concordar contigo que o cara é tosco, Moreira, eu sei disso, não tem tanto ingênuo manipulado como vocês acham que tem, na sua condescendência progressista, o cara é tosco, fala umas merdas, não sabe se comportar, todo mundo sabe disso, mas não é isso o que importa, importa é dar uma resposta, dar finalmente o choque de liberalismo que esse país precisa, Moreira, chega de todo mundo passando frio agarradinho no cobertor curto do Estado, tá na hora do Brasil ser um país de gente grande, que vai e faz e não fica esperando tudo na boquinha ou quer depender do trabalho dos outros, como aquele malandro aproveitador pé de chinelo ali na esquina. Não é questão de melhorar PIB, isso é a parte mais fácil, é mudar a mentalidade desse país em que ninguém quer ser responsabilizado pelos seus atos, em que a leniência da quadrilha no poder permitiu que certas coisas passassem do limite. Passaram do limite, Moreira, não tem outra definição. Olha o lance do racismo, da homofobia, qualquer coisa agora é racismo, qualquer coisa é homofobia, esse politicamente correto que está matando a opinião própria e que é contrário à realidade, os caras querem implantar uma verdade própria, Moreira. Tenho amigos gays, tudo, um deles tu conheceu, o Emerson, meu amigo desde o colégio, já no segundo grau dava toda pinta de veadinho, foi entrar pra faculdade e se liberou geral. Ainda assim respeitei, continuei amigo dele, convidava pro meu aniversário todos os anos e um dia, num dos meus aniversários que tu nunca vai porque tu é um amigo muito desatento, Moreira, não falo por mal, ele apareceu na minha casa grudado numa boneca barbudinha de calça vermelha, Fabrício, Murilo, um nome desses. E as bichas ficaram a festa inteira se agarrando pelos cantos do meu apartamento, tem cabimento isso, Moreira? Até a minha mulher, a Leandra, lembra dela, a ruiva que era toda metida a progressistinha, até ela achou um pouco demais, ficou a festa inteira me dizendo que aqueles dois estavam exagerando. E, como era muito natural, eu fui lá pedir pra eles baixarem a bola. Pra quê? O Emerson armou um escândalo, me chamou de homofóbico, saiu da minha casa gritando, Homofóbico, porra. Não me admira que aqui mesmo nesse bairro metido a boêmio em que tu mora a gente veja tanta putaria desenfreada, se o cara não pode mais reclamar dessas bichas nem na própria casa, na rua, então, perdeu-se qualquer limite. Homofóbico, eu, Moreira? Se eu fosse homofóbico não tinha convidado aquela gazela pra minha festa, e aliás não pretendo convidar nunca mais, mesmo que volte a morar nesta abjeção de país, que Deus me livre desta terra de malandros e vagabundos aproveitadores. E sabe o que é pior, Moreira?, ele me diz, ficando vermelho, a voz afinando um pouco com a raiva que ele já nem tenta conter. O pior é que a Leandra, a minha mulher na época, que tinha ela também achado ruim, depois da confusão disse que eu mandei mal. Eu mandei mal? Mandei mal foi em ter me casado com aquela vaca cirandeira que me levou até as cuecas no divórcio e que ainda assim é toda metida a feminista, dia desses estava olhando no perfil dela e tinha umas daquelas mensagens de “empoderamento”, essa palavra horrorosa que elas nem se deram ao trabalho de traduzir direito, umas frases de para-choque sobre como uma mulher só precisa dela mesma… Ah, tá, eu é que não caio nessa, vagabunda do cacete, tu só precisa de ti e da casa que tu me levou, a mesma que o Emerson ficava lá se agarrando com a bichinha dele, e aí tu achou ruim e depois não queria admitir então resolveu encrencar comigo que fui o único a tentar refrear aquela pouca-vergonha. Mas claro que dei o azar do litigioso ir parar na mão de uma juíza. Perdi a casa, perdi o carro, sorte que eu sempre tive tino financeiro e ainda tinha uma grana investida que escapou da sanha daquela mocreia gananciosa. Maior sorte ainda eu não ter tido um filho com aquela idiota, porque do jeito que a juíza se comportou durante o processo ela teria embalado pra presente e entregue pra Leandra. Que filho, o quê, pensando bem, se pudesse ela teria cortado minhas bolas e entregue praquela vaca de presente. E sabe por que, Moreira? Porque o advogado da minha ex fez estardalhaço me chamando de “empresário” o tempo todo, dizendo que eu é que tinha melhor situação financeira, só porque eu ainda tinha o restaurante na época. Aí já viu, né? Juizinha metida a paladina da reparação social, ah, esse aí tem dinheiro, ele me diz, e segue, aumentando tanto o tom que um casal ao nosso lado nos lança um olhar incomodado e se levanta, indo sentar-se em outra mesa na calçada, alguns metros mais adiante, mais próximos do homem encostado no poste na esquina tomando uns goles da garrafa de vodca, e ele continua ainda mais exaltado, e é claro que ter dinheiro virou crime na bosta desse país. Nação de gente ladra e vagabunda, acostumada a achar que se alguém tem dinheiro tem mais é que perder na mão grande pra uma corja de desocupados que culpam quem tem dinheiro porque não conseguem ter. Que culpa eu tenho? As oportunidades tão aí, é só ralar como eu ralei, ninguém me deu nada de mão beijada. Comecei a atender no restaurante do pai desde cedo, desde os quinze anos lá no caixa, atendendo o público enquanto o pai gerenciava, passava de mesa em mesa, fiscalizando funcionários vagabundos, discutindo com fornecedor vigarista. E eu trabalhando ali no caixa, função de responsabilidade. Quem sabe se metade dessa gente pedinchona tivesse a disposição pra trabalhar um pouco não precisaria ficar se ouriçando toda pra arrancar na mão grande o dinheiro de quem tem, como a vaca mal-agradecida da minha ex-mulher. Ou como esse malandro vagabundo pé de chinelo que não deve morar longe nada, deve ser um daqueles que privatizaram o espaço público lá no Viaduto da Borges com suas barracas de saco de lixo e quinquilharias que impedem a passagem do cidadão de bem, esse vagabundo mentiroso e aproveitador me pediu dois pilas e sabe o que eu fiz, Moreira?, sabe o que este teu amigo que está ficando cansado desse teu ar superior de reprovação fez? Eu dei dez reais pra ele, o suficiente pra ele pegar uma lotação, se quisesse. Mas com uma condição: eu falei pra ele que estava acreditando na palavra dele, acreditando que ele fosse um cidadão de bem que soubesse o que é honra e decência, e que, portanto, eu não esperava ver ele por aqui no resto da noite, já que ele precisava de tão pouco e a muié dele tava doente, então ele iria direto pra casa, não iria? E eu prometi pra ele que ele ia se arrepender se estivesse mentindo pra mim, e ele arregalou o olho como se eu estivesse brincando e fez uma reverência toda formal e respeitosa, me chamando de doutor, já que essa gente não se puxa pro trabalho, mas se esforça na bajulação. Entende o quanto esse tipo de comportamento, com a inspiração oficial da quadrilha que se instalou no poder, contamina tudo, Moreira? A mentira, a falta de responsabilidade pelos seus atos, o logro pra cima de um cidadão de bem que todo mundo de repente se acha no direito de achacar só porque ele parece ter dinheiro e tem cara de otário como todo mundo que paga imposto nesta abjeção de país. Entende agora o que aconteceu, Moreira? O que tá acontecendo é uma mudança de mentalidade que vai levar anos, Moreira, pra que todo mundo volte a respeitar noções básicas de civilidade, decência, liberdade, ordem, volte a querer conquistar as coisas baixando a cabeça e trabalhando, não pedindo tudo na boquinha e querendo comover os outros com história triste e mimimi.
E agora olha lá, Moreira, tá vendo ou não aquele malandro ali na esquina, ele me pergunta, enquanto pela primeira vez desde a minha chegada abre o casacão pesado que estava usando e afasta o lado direito, deixando entrever o cabo de uma pistola acomodada em seu flanco. Eu sou um cara de palavra e aquele vagabundo aproveitador não é, então eu não tenho muita escolha a não ser esperar até um momento em que ele sair dali, porque o idiota acha que eu não vejo ele, mas vejo muito bem pelo reflexo da porta do bar, eu não tenho outra escolha a não ser fazer ele entender que estamos num novo momento, e que é hora das pessoas assumirem responsabilidade por seus atos, Moreira, e tu sabe que eu tenho razão. Só tenho uma pergunta pra ti, uma pergunta da qual depende tudo, no fim das contas, até o futuro da nossa amizade, ele continua, enquanto fecha o casaco e dá o primeiro sorriso da noite, em uma voz que de súbito ficou estranhamente calma, e agora, ele me diz, eu preciso saber se tu vem comigo.